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― Me conte um pouco mais sobre seus relacionamentos, sejam familiares, românticos... Os tipos de relações que você mantém. Isso molda muito uma pessoa. - Frank vinha tentando entrar naquele assunto há algumas sessões, mas os últimos encontros dos dois haviam sido rasos e focados em outras conversas. Gerard vinha conversando muito sobre os problemas de visão e as limitações que isso trouxera para sua vida, mas quase nunca falava sobre algo que fosse realmente pessoal. E eles já estavam nas sessões há alguns meses.

― Não há muito o que ser dito, eu acho. Principalmente no quesito amoroso. - Gerard deu de ombros ao responder, o rosto virado na direção de Frank e as mãos brincando com a barra da jaqueta que ele vestia.

― E dentro de casa? Você já me disse um pouco sobre seu irmão, mas e o restante da família?

O silêncio se instalou enquanto Gerard pensava, ponderando sobre o que dizer. Ele não achava que a família dele fosse ruim, todas as famílias eram problemáticas; mas ele realmente ficaria grato se algumas atitudes mudassem dentro de casa. Como explicar que a mãe era uma superprotetora louca e que o pai não parecia estar naquele planeta? Que os dois sempre o tratavam como criança, como se ele não tivesse condições de opinar sobre a própria vida? Parecia patético dizer isso em voz alta.

― Gerard? - Frank chamou, tentando recuperar a atenção do outro. - Esse é um assunto delicado para você?

― Não é isso, eu só... não sei como dizer. Meus pais são meio controladores quando se trata da minha vida e meu irmão vive em função de mim. Esse é o tipo de relação que eu mantenho, é ridículo.

― Não há mais ninguém com quem você interaja? Amigos, interesses amorosos? - Frank queria entender o tipo de ambiente e de relações que Gerard mantinha, principalmente para compreender melhor sua personalidade e sua vivência fora do consultório. Entretanto, acima disso, ele se encontrava extremamente curioso sobre o status social do outro. Frank não conseguiu deixar de reparar nas últimas sessões em como Gerard era lindo, realmente lindo, com os cabelos castanhos caídos desajeitadamente em cima dos ombros, a bochecha gordinha, o nariz arrebitado, a barba por fazer que às vezes ele mantinha, às vezes não... E principalmente o sorriso de dentinhos pequenos e quase infantis, o sorriso que ele vinha classificando como o mais bonito que já havia visto, mas que infelizmente raramente aparecia.

Sozinho em casa e pensando demais sobre coisas que não deveria, Frank vinha divagando sobre como gostaria de fazer Gerard sorrir mais, só para ouvir o som característico e ver aqueles dentinhos fofos. Gerard inteiro era muito fofo e, mesmo essa não sendo uma palavra comum para descrever um cara de trinta anos, ele vinha gostando cada vez mais dessa definição.

― Meu círculo social não é muito grande. Eu cheguei a fazer alguns colegas na faculdade, mas perdi o contato com eles depois que saí. Além disso tem minha avó, Elena, minha cunhada, que você conheceu, e o Raymond, meu amigo de infância. Eu não sou muito uma pessoa de internet, redes sociais e essa coisa toda, então isso também limita meus contatos. - Gerard soltou um sorriso de canto, mas não parecia feliz. Frank não gostava desse sorriso, parecia quase miserável. - Sobre amores, bom... Eu tive alguns poucos momentos com uma ou outra menina durante o ensino médio, mas então perdi a visão de vez e entrei em um poço realmente fundo de autodepreciação. E olhe para mim agora, eu mal saio de casa para vir aqui. Esse é meu único roteiro de passeio durante a semana.

Frank quase disse que ele estava olhando, por Deus, ele estava olhando até demais e isso estava acabando com ele. Era tão errado manter pensamentos desse nível, onde estava seu profissionalismo? E outra coisa: meninas? Essa havia sido a pior parte para se ouvir. Frank era patético, pensando em um paciente e ainda por cima hétero. Que ótimo, era só o que faltava.

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