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Mikey havia acabado de chegar do trabalho quando passou pela sala e ouviu o barulho característico do choro de Gerard, abafado pela porta do quarto que estava encostada. Era sexta-feira, dia de consulta, e se Gerard estava em casa - ainda por cima chorando! - era sinal de que Frank havia, pela segunda vez, desmarcado a sessão.

Sua reação automática foi levar a mão ao bolso da calça e alcançar o celular, abrindo o aplicativo de mensagens instantâneas. Naquele momento pouco importavam as notificações de Kristin dizendo que queria sair ou as de Donna avisando que chegaria atrasada, mas sim a conversa unilateral que estava tendo com Frank Iero.

Cinco mensagens enviadas ao longo da semana. Nenhuma respondida. A última mensagem, de dois dias atrás, sequer havia sido visualizada.

Mikey já tinha perguntado ao psicólogo o que estava acontecendo, já havia tentado puxar conversa e já tinha até mesmo perdido a paciência e xingado Frank de adjetivos que variavam entre covarde a filho da puta insensível. Ele sabia que na teoria não tinha nada a ver com o relacionamento do irmão e que sua reação provavelmente só pioraria tudo, mas na prática não conseguia ficar afastado enquanto via Gerard voltar a definhar, dia após dia, trancado no quarto e sem fazer nada. O estudo do braile havia sido interrompido, o roteiro para o quadrinho esquecido e os tubos de tinta acrílica jogados em uma gaveta qualquer da escrivaninha.

Ele não entendia. Frank não era psicólogo, o cara que havia estudado durante anos para lidar com coisas como aquela? Por que ele estava simplesmente sumindo, mesmo sabendo que Gerard estava mal? Pior! Mesmo sabendo que Gerard já tinha grandes problemas de aceitação e auto-estima e não sabia lidar com questões como aquela? Como ele pôde? Frank, no fim das contas, não devia passar de um mimado irresponsável. Toda aquela filosofia sobre métodos não convencionais para tratamento, tudo que parecia ser moderno e que Mikey estava feliz por surtir efeito, como os encontros em espaços não formais e os exercícios, no fim não significaram nada. Assim, sem conter o impulso, Mikey desbloqueou novamente a tela do celular e digitou o que seria seu último contato com Frank.

"Você deve a ele ao menos um adeus."

Frank estava online, mas novamente a mensagem não foi visualizada e Mikey entendeu que não podia fazer mais nada além de consolar o irmão. Ele havia evitado o assunto durante todos aqueles dias, respeitando o espaço que sentia que Gerard precisava, mas a situação já tinha ido longe demais. Dessa forma, não acatou quando um Gerard de cara inchada mandou que ele saísse do quarto e não ligou para os protestos do outro, que lutava para secar as lágrimas e parar de chorar quando percebeu que não estava sozinho no cômodo. Michael não estava nem aí, que Gerard chorasse e esperneasse, mas eles iam conversar.

― Me conta o que aconteceu. Vamos conversar - pediu enquanto andava a passos lentos, sentando-se na cama do irmão e passando o braço direito em volta dos ombros do outro, em um gesto de afago.

― Vicky me ligou agora a pouco. - A resposta demorou a vir, e quando apareceu foi acompanhada de um fungar profundo e um leve esfregar nas pálpebras.

― Vicky?

― A secretária do... a secretária do consultório.

― Ah... O que ela disse? - era difícil para Mikey reagir, sem saber até onde ele poderia ser útil ou quais eram os limites para que Gerard não ficasse ainda pior. Ele não queria pressionar, mas tinha aprendido com os últimos meses de consulta que a coisa que Gerard mais precisava para se sentir melhor e seguro era conversar, se abrir. O pensamento de que a pessoa responsável por esse ensinamento naquele momento agia como motivo de choro e sofrimento para seu irmão fazia seu peito se encher de ódio.

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