RAPAZ!
Dêem play no vídeo na segunda metade do capítulo (Blind - Placebo). Essa cena tá guardada desde antes de eu começar a postar a história.
Frank havia tomado banho há poucos minutos, procurando relaxar, mas a água quente caindo sobre seu corpo não havia sido o suficiente para surtir o efeito que ele procurava, seus ombros ainda estavam tensos e a cabeça ainda doía. Procurando aliviar a mente do turbilhão de pensamentos que o perseguiam, rumou para a pequena sacada do apartamento e acendeu um cigarro, tragando a fumaça profundamente e já sentindo a característica calma que a nicotina trazia. Ele não fumava durante o expediente para não levar o cheiro de cigarro para o consultório, mas todos os cigarros evitados ao longo do dia eram ferozmente consumidos quando se encontrava sozinho e jogado no conforto da sua casa. Além disso, o consumo daquela droga lícita havia aumentado ainda mais nos últimos dias, quando tudo que ele conseguia fazer era pensar em um de seus pacientes em particular.
Gerard.
Ele não podia negar que as coisas estavam saindo do controle, tudo indo tão rápido que ele só percebia as merdas que havia feito quando o dia já tinha acabado e o sangue já tinha esfriado. Frank sabia, desde o começo, que ele tinha que colocar limites rígidos e impessoalidade na relação dos dois, mas vinha falhando de um jeito ridículo e absurdo. Sua falta de profissionalismo era o que mais assustava: era patético e inaceitável que ele se deixasse nutrir sentimentos por algum paciente. E se estava acontecendo agora, como saber que não aconteceria novamente? Como prever que ele não ia, em algum futuro, se apaixonar ou se envolver com outra pessoa no consultório? Seu maior erro tinha sido não cortar a relação deles assim que percebeu o que estava acontecendo, assim que se viu saindo desesperado do consultório para um atendimento domiciliar porque Gerard estava tendo uma crise. Aquele não era o procedimento, não era correto, ele não era a porra de um médico atendendo a um chamado. Seu papel era ajudar na terapia, na superação, na construção de uma pessoa mais forte, e isso definitivamente não incluía atitudes como aquela.
E então, como se já não estivesse ruim o suficiente, Frank piorou tudo achando que dava conta do recado. Acreditando que seria capaz de propor atividades, descobertas, experiências construtivas para Gerard sem se envolver ativamente, sem meter os pés pelas mãos. Mas ao final daquele dia, quando sentiu os dedos do outro agarrando os seus com tanta firmeza, ele finalmente se deu conta de que não dava para continuar daquele jeito. Frank ainda era egoísta o suficiente para abrir não mão de Gerard, não queria e não ia passar aquele caso para outro colega de profissão. Entretanto, se ele quisesse continuar, tinha que mudar a sua conduta, ser mais rígido, mais frio, menos próximo. Proximidade era a palavra chave, o x da equação que ele tinha que resolver se quisesse permanecer com Gerard. Frank tinha consciência de que estava adotando métodos nada convencionais e definitivamente pessoais demais, ultrapassando todos os limites.
Acendendo um segundo cigarro antes mesmo que a bituca do primeiro se apagasse, ele caminhou até a cozinha para pegar uma long neck e tentar relaxar mais. Quando voltava para a sacada, entretanto, passou pela sala e viu um pequeno aparelho preto jogado em cima da mesinha de centro, chamando sua atenção: o gravador de voz.
Frank pensou que seria uma boa ideia ouvir o roteiro que Gerard vinha desenvolvendo, pois talvez o ajudasse a aliviar a mente e pensar em outras coisas, imaginando histórias fictícias que não diziam respeito ao seu trabalho ou vida pessoal. Decidido a gastar o restante de sua noite se dedicando àquela tarefa, sentou-se em frente à mesinha, apoiando as costas no sofá e a garrafa de cerveja no chão antes de ligar o aparelho. Seria muito mais lógico ouvir do áudio mais antigo ao mais recente, para acompanhar a narrativa, e então ele pulou para o primeiro deles e aumentou consideravelmente o volume, depositando o aparelho na mesa para continuar fumando o cigarro e bebendo a Heineken.
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BLIND
FanfictionGerard vem de uma família de pessoas com problemas de visão. Seu irmão mais novo, Michael, sofre com a miopia e usa óculos de lentes grossas desde criança. A ele, entretanto, veio a ambliopia, uma doença causada pela deficiência do desenvolvimento n...