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― Você vai me explicar por livre e espontânea vontade o que eu acabei de ver ou vou ter que arrancar a informação à força? - foi a primeira coisa que Mikey disse quando o carro da avó deles já estava há alguns metros de distância, o silêncio instalado entre os dois desde que o irmão mais velho havia entrado no veículo, poucos minutos antes.

― O quê? - A voz de Gerard soava longe, como se ele não estivesse presente e não entendesse nada do que Mikey falava. Levando em consideração que estava repetindo e repetindo em sua mente as sensações dos toques de Frank, era quase isso que estava acontecendo: o corpo se fazia presente, mas ele não podia dizer o mesmo sobre seus pensamentos.

― Frank. Mãos dadas. Beijos... Qual é! - Mais silêncio. - Gerard, eu tô falando com você, caralho!

O tom de voz mais alto e impaciente foi o suficiente para dar um susto em Gerard, que pulou levemente sobre o assento do carona e balançou a cabeça, tentando se concentrar na ladainha do irmão.

― O quê? Desculpa, eu não ouvi. Repete.

― Eu disse que eu vi o Frank te beijando! Cara, eu juro que acho que você também tá ficando surdo, porque toda vez é a mesma maldita coisa. Você entra no mundinho da Lua do Gerard Way e esquece o que 'tá acontecendo no planeta Terra, a gente pode gritar que você não tá nem aí. E ainda tem essa, eu te faço o favor de te buscar e você me retribui ignorando minhas perguntas, mas é um ingrato... - Mikey reclamava, mas Gerard sabia pelo tom de voz que ele estava brincando e que, acima de tudo, estava curioso. E talvez um tanto preocupado.

― Ah... Eu não sei bem o que aconteceu, pra falar a verdade. - Quanto mais Gerard pensava sobre as últimas horas, menos sentia que era real. Eram muitos pensamentos e sentimentos estranhos, uma sucessão de acontecimentos desastrosos que ele gostaria de evitar a todo custo se pudesse voltar no tempo: A maldita e infeliz gravação. Frank falando sobre o áudio. Ele chorando. O psicólogo dizendo que seria melhor se ambos se afastassem...

E então os beijos.

A lembrança da textura dos lábios de Frank em contato com os seus era a única prova de que ele não estava ficando doido, a única parte que havia valido a pena, apesar de querer evitar todo aquele constrangimento; não havia sido um sonho, tinha de fato acontecido.

Assim, voltando a se distrair e preso em uma nuvem de pensamentos desorganizados, Gerard levou o dedo indicador à boca em um movimento involuntário, tocando a pele como se ele pudesse sentir novamente a língua molhada de Frank, o gosto do seu beijo, seu hálito de café e nicotina, como em alguns dos muitos milhões de romances que Kristin e Michael haviam lido para ele. Se antes Gerard achava um clichê bobo e superestimado, agora dava algum crédito para todos aqueles autores incorrigivelmente românticos: café e nicotina era mesmo a melhor combinação do mundo para um beijo.

― Você gosta dele. - Mikey disse depois de algum tempo em silêncio, voltando a chamar a atenção do irmão mais velho. Não era uma pergunta, mas sim uma afirmação carregada com algo que Gerard não pôde identificar. O tom de voz dramático e divertido havia ido embora, sendo substituído por algo direto, quase impessoal; Gerard não podia ver que o irmão apertava com força exagerada o volante e que o rosto parecia ainda mais emburrado do que de costume, mas podia perceber pela reação de Mikey que ele estava tenso.

― Gosto. Não achei que isso seria um problema para você. - Gerard não conseguiu evitar a resposta ácida e defensiva, extremamente ofendido com a possibilidade de que o irmão tivesse algum tipo de preconceito ou fosse criticar suas escolhas. Quer dizer, Mikey sempre tinha estado ao seu lado, em todos os momentos, e ele jamais havia pensado na possibilidade do irmão não apoiar suas escolhas. Além disso, Gerard não tinha um rótulo, não sabia se definir e não estava pronto para nenhum tipo de conversa envolvendo sexualidade. Tudo que ele sabia era que queria beijar Frank de novo. E de novo. E mais uma vez.

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