Capítulo III : O túmulo dos mortos erguidos.

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Se aproximou do riacho, a água tomava seu caminho sem interrupções deslizando sobre pedras escuras. A entrada da gruta era estreita e dona de um breu gélido, Ayven adentrou. Retirou o machado de suas costas, para seu torso passar entre a fenda. Fechou os olhos se concentrando na escuridão que estava a sua frente, estilhaços fracos de luz refletia no fino manto de umidade nas paredes, mas não era o suficiente. Abriu seus olhos e sua pupila tomou as mesmas dimensões de sua íris castanhas. O mais profundo e denso escura era claro como luz para seus olhos agora, a visão de Flariel era tão útil quanto a audição de Gaxkogar, mas lhe cobrariam um caro preço depois, todo privilégio que a mordida lhe fornecia era cobrado com desconforto cruel e castigo tortuoso.

Escorregou sobre as pedras e deslizou até cair em uma lagoa, o som do movimento das agua era solitário no escuro, as estalactites pareciam observá-la, as criaturas que ali habitavam eram cegas e se escondiam em fendas estreitas e úmidas em escuro de afeto.

Ayven se ergueu se retirando da água, tentando achar qualquer passagem ou caminho. Deu alguns passos e percebeu movimento na água, havia algo ali, ou alguém e depois de outro movimento ela perceberá um homem desconhecido emergindo da lagoa fria, nu e esbelto .

O homem de beleza mais marcante que já vira, seu corpo, olhar, andar e movimentos eram de uma estranheza exótica e de extrema atração, beirando a hipnose. Era alto e elegante, a encarava enquanto caminhava na lagoa e saiu das águas sem se incomodar com a nudez, Ayven o olhou e tropeçou de fraqueza enquanto ele se aproximava, seu corpo era mais atraente que ouro reluzente ou cálice de cristal, era perfeito.

Ele se aproximou em silêncio com olhar atento e agachou próxima a ela, levando a mão até seu rosto.

" Você está bem?" Perguntou o homem. Sua voz era como gotas lentas em ferro oco, profundo e impregnante na mente. Seu toque era afetuoso e sedutor. Ele se aproximou mais para beijá-la, ela não conseguia resistir, ela queria recusar, mas parecia chamativo demais. Seus lábios estavam próximos quando seu machado se tornou a naja negra das sombras santas. A víbora dilatou seu pescoço branco e o encarou com seus olhos totalmente vermelhos enquanto ciciava e mostrava suas duas grandes presas úmidas em peçonha. A cobra deu o bote na jugular do homem que gritou em dor e pulou para a lagoa sumindo na escuridão das águas novamente.

" Íncubo..." Ciciou voz na mente de Ayven, áspera como pedregulho e fria como madrugada invernal " Tomaria sua vida através da volúpia exagerada."

" Por que me ajudou somente agora ?" Questionou a garota " Lhe pedi ajuda inúmeras vezes."

" Perdão amã, tempos difíceis com magias estranhas." Respondeu se transformando no eixo de batalha novamente.

" Obrigada" Agradeceu olhando no espelho de água negra, refletindo sobre o que acabará de se passar com ela. "Precisamos achar Ifir." Tentou ocultar o ocorrido com outros pensamentos.

- Buracos estreitos na sua direita, três vãos profundos.-

Ayven se aproximou dos buracos, eram os únicos caminhos que surgiam na escuridão, se abriam entre a parede rochosa e o chão arenoso.

" Acho que consigo escutar algo" Ayven tentou se concentrar novamente para usar sua audição, mas uma dor pesante, aflingiu seu tímpano que pareceu se romper, ela desistiu posicionando sua mão sobre seu ouvido dolorido.

"Gorguinik, entre em um desses buracos e procure por ele." O machado se tornou a cobra negra e deslizou para o último buraco da esquerda.

- Eu pude escutá-lo – Pensou.

"Ifir!" Clamou. Ouviu um ruído em retorno, mas não conseguiu identificar de qual buraco ele vinha. Uma ideia se passou em sua mente. Tirou sua única moeda do bolso e o brinco, presente de Odilon, de sua orelha. Ela talvez o perderia, assim como sua amizade.

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