Capítulo VIII: O Saber do O'Kunedao.

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ATUALMENTE NO PALÁCIO DO EREMITA.

" Deixarei que descanse." Disse Brula, percebendo a tensão que Ayven sofria em seu pré sono. " Kled Van Tuk." se despediu. Quando abriu a porta se encontrou com Odilon que estava prestes a bater na porta. Comprimentou Brula com o olhar e a deu passagem.

Ayven estava quase a dormir e despercebeu o caminhar de Odilon. O aposento cheirava a sabão e roupa lavada, era fresco e úmido. Quando ele se aproximou, Ayven sentirá uma presença leve e por curiosidade rolou o corpo sonolento para observar o que estava atrás dela. Quando avistou Odilon se surpreendeu e seu sono se foi junto a sua postura relaxada.

"Não precisa se levantar." Disse o homem. E após isso um silêncio desabou entre eles, já haviam passados anos demais e nunca se deram muito bem quando não havia uma parede de tempo tão grossa entre os dois.

" Você fugiu ?" Foi ele que iniciou e interrompeu o silêncio incômodo.

"Não." Respondeu seca.

" Ele te permitiu viajar?" Questionou novamente.

"Não.'' Repetiu, agora sem encará-lo.

"Então você os matou." Afirmou, não perguntou.

" Sim" Confirmou. "Cada um deles. Massacrei e destruí tudo e todos naquele pedaço de inferno."

" O meu pai..."

" Foi um dos primeiros." Ela interrompeu. " O mataria mais mil vezes se pudesse." Não soou fria, apenas vazia e cheia de desejo. Se virou para o lado, dando as costas para ele, se isolando. Não por vergonha ou desolação, mas por medo da vulnerabilidade que crescia em si quando se lembrava daquele dia. Nunca gostou de chorar e abominava mais ainda a lágrima testemunhada, era medíocre em seus pensamentos.

" Me parece que não foi só eles que foram mortos." Ele já virá Ayven deprimida e cansada. Já havia a observado confusa e perdida, mas nunca quebrada e frágil, como aquela mulher à sua frente. Já ocorreu dias que Ayven era a pessoa mais forte que ele virá.

"Foi por vingança ?"

"Justiça..." Falou em voz alta, pela primeira vez aquilo que ela sempre contara a si mesma. " Estilhaçaram a minha vontade de viver, Odilon... Cuspiram em tudo que acreditei. Nem tenho mais certeza se tudo aconteceu, minha memória está em retalhos piores que minha alma e as vezes agradeço por isso." Soluçou, tentando reprimir as cenas do massacre que ela cometeu.

Ele tentou tanto alertá-la, tentou tanto, mas abandonou ela por que era fraco e não aguentava mais aquilo.

"Um dia terá que perdoá-los, ou nunca ficará em paz."

"Você me perdoou?"

" Eu não teria vindo aqui se não tivesse." Respondeu simples e sereno como folha outonal que se desprendeu de galho de ira. "Mas te odiei por muito tempo, mas mais por inocência que por razão, eu estava errado em muitas coisas também." Admitiu " E não quero ouvir nenhum perdão vindo de você, acredito que você o fez em momentos mais escuros em que você se encontrou."

E ele estava certo, mas ouvir aquilo foi como se uma corrente pesada e fria, forjadas de arrependimento e desgosto se soltasse de seus calcanhares e a livrasse de um martírio entre tantos.

Enxugou os olhos, respirou fundo e se virou agora o encarando.

" Irei agradecê-lo então, aprendi mais com você do que com qualquer outra pessoa." Falou " Ignorei suas lições por muito tempo e agora reflito e aprendo com elas."

" Então você já sabe que possui aquilo que precisa para curar a si mesma."

" O O'Konedao... Eu ainda não o compreendi.''

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