Capítulo I: A Rota dos Defuntos.

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- Fugir da escolha é fugir de si mesmo. - Ayven escutará esse sussurro passageiro de Ifir, que não se calava durante o andar do dia na estrada, e "Escolha" forá a palavra que azedou seus pensamentos, pesou sua garganta e tremulou seus pés por tempo indeterminado. Poucas vezes escolheu algo por si mesma, até há poucas semanas sua única escolha foi sobreviver e todos aqueles que um dia perambularam por sua vida com pegadas mais profundas direcionaram suas escolhas para um caminho jamais desejado ou imaginado. A sombra da questão qual a perturbava, era se ela era aquilo que ela queria ser ou foi vítima daquilo que ela deixou possuí-la. A ferida em sua mão, os aprendizados violentos e o fim de uma era estreita, não foram decisões dela e todas marcavam-na como raiz a procura de água.

Fazer nada forá uma decisão muito presente, e agora que a linha da vida ocupava sua extensão em nós de escolha, ela teceu aquilo que ela fez de si. Nada. E perceber isso não forá frustrante ou deprimente, foi libertador, a primeira fagulha de um calor forte demais para ser aprisionado. Ayven tomou essa ideia com rédeas de aço. Não a abandonaria, seria o seu combustível para não olhar o caminho já andado, pois ela já não ia mais nessa direção.

O pesar desta reflexão aliviou dor física e o peso de um passado inútil.

A voz, a lágrima e a arte são os pilares da expressão, e todos somos lacrimosos artistas oradores. As vezes uma dessas característica sobressai sobre a outra, e Ifir, era um grande orador. Cuspia palavras e abusava de sua voz, distribuía contos ao vento como bardo inspirado. Relatava sua vida com paixão e se orgulhava de finais irônicos que se repetiam com facilidade nos caminhos que sua vida tomava.

Ayven descobrirá que Ifir, nasceu e cresceu em uma fazenda nos arredores de Aruon, um reino para lá do leste. Sua mãe é uma elfa, seu pai um anão e ele um meio Elfo-anão, junção peculiar, e irônico é a herança que ele captou dessa união. Seu tamanho era de seu pai, seu corpo de sua mãe, assim sendo nanico e esguio. A garota quando ingeriu a história, gargalhou no rosto daquele que podia ser alto e robusto. Nisso, a graça, era ausente para Ifir, mas não levou para o pessoal quando percebeu que a primeira vez que avistou sua companheira sorrir forá por sua desgraça, mas ele preferiu assim do que a expressão vazia que capturava o rosto da garota por quase que todos os momentos.

" Já te falei da espada do remorso ?'' Perguntou ele. Facilidade ele tinha em esquecer aquilo que uma vez ele já disse, pois muito ele contava.

" Creio que não."

"Eu gosto dessa história..." Ele sorriu ao se recordar " Tenho um amigo que conheceu esse cara... Um fugitivo de Loukor. Esse mago andava com uma espada anciã. O pomo da espada já havia sido tocado por mais mãos que sua lâmina já havia experimentado sangue, e pouco não foi o que aquela velha espada havia matado. Seu ferro viajou muito até chegar nas mãos de um mago em Loukor, e experiências com Yon e emoção foram realizados em seu cume. Rancor, lástima e arrependimento enraizaram na lâmina. Meu amigo disse que sempre que o mago desembainhava a espada você podia escutá-la chorando, em lastima por cada vida que ela uma vez tomou. Um choro padecido, profundo e imparável, como o de uma mãe sobre o caixão de seu filho." Relatou calmo, prestando atenção na estrada.

" Um pouco cômico, e irônico. Um espada que chora por lamentar em fazer aquilo que ela foi criada para realizar" Disse Ayven.

" Eu acho hilário, e ele me disse que também acharia se não tivesse escutado-a. Um choro tão perturbador que sádicos não suportavam o sofrimento que ela carregava. Amedrontava o mal com o próprio mal. E o pior, atraía o bem para..."

" Para sua ruína..." Falou antes dele terminar " Um mago de Loukor, um louco vil, com uma arma dessas em mãos faria com que o choro atraísse pessoas com intenções gentis, para roubá-las, matá-las ou fazer o que for que ele desejava."

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