Capítulo XI: Mais Corpos Na Estrada

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PEITY

" Cale a boca por um minuto e vamos logo Ifir." Gritou o rapaz manco, impaciente com os assuntos aleatórios que Ifir conseguia dispor para cada Edrusiano que cortava seu caminho.

Saíram cedo do Palácio e Ayven que estava com mais pressa do que eles, seguia com vigor na frente, ainda mais sem paciência que Peity. Se despediram daqueles que estavam acordados e logo seguiram para a cidade. Ifir os convenceu de almoçarem em uma das estalagens da cidade para entregar algo que ele havia prometido a Ayven, uma pururuca bem gordurosa com queijo Vimas e abacaxi assado. Peity se deliciou tanto com a refeição quanto os outros dois, mas pesar caiu sobre eles depois de Ifir insistir e persistir no argumento que ele tem o melhor gosto por comida e que a ideia foi dele, na maior parte do tempo era ignorado.

Peity esperou pacientemente enquanto os dois se distraiam com o que Ered Edrus tinha a oferecer, já havia viajado algumas vezes para a cidade, então quase nada era uma novidade para ele. Quando se cansou, informou a ambos que iria para A Passagem dos Favores, pois devia recuperar sua espada e pensar em uma desculpa que daria ao soldado pela demora de um itinerante de mapa na cidade.

Uma lábia rebuscada e uma perna ferida foram o suficiente para se ver livre do soldado desconfiado. Peity nunca forá inteiramente honesto e sempre preferiu mentir, para quem quer que fosse. Onde seus últimos passos passaram, aprendeu que ocultar seus rastros, até os mais displicentes, era necessário para sua segurança e para a sua missão.

Se alegrou brevemente quando Ayven e Ifir o encontraram sentado em uma sombra fora da estrada, com uma perna esticada e outra flexionada para descansar.

" Estrada dos Consumidores, aí vamos nós." Falou Ifir, chamando Peity na beira da estrada para seguirem.

A estrada não estava tão lamacenta quanto há alguns dias devido às chuvas que cessaram após aliviarem as colinas, que mesmo com o frescor do choro das chuvas não perdiam o tom de palha que possuíam.

Se não fosse por Ifir o silêncio seria um quarto andarilho, mas jamais admitiria que gostava do barulho persistente que o pequeno provia.

Não podia dizer o mesmo por Ayven, observou que a garota havia apressado seus passos, forçando Ifir a se concentrar mais em sua locomoção cansativa do que a suas palavras cuspidas a todo momento. Sua perna doía, mas não hesitava em acompanhá-la.

Animaram-se quando os cumes branco amarelados da Cordilheira dos Dentes surgiram esbeltos e afunilados, sobressaindo as colinas e as árvores na paisagem. Para qualquer viajante aquela visão era um alívio bem-vindo. Indicava que estavam próximos das fronteiras das quatro áreas centrais do continente. Seu tom amarelado provia da floresta de Amballitus, árvore portadora das folhas douradas, do fruto fulvo e da flor áurea, seu tronco também era mesclado em um amarelo solar com um marrom simplório. Resistente ao frio da neve límpida e das alturas onde nuvens se aventuravam constantemente distribuindo sua garoa suave. Durante a quinta estação suas folhas de ouro caiam, e a chuva, acompanhada pelo vento hostil do oeste escoava um caminho dourado até ao Grande Uggat Dennat, lago esse que inundava juntamente com o Lamaçal da Decadência ao leste e o País do Dilúvio a oeste, cortando o continente ao meio e conectando ao oceano. Uma colossal passagem transbordante, amarela, provindo assim o nome do maior lago do mundo, Lago Das Pétalas Amarelas para os dominantes da língua Aikeana e para os dominantes do idioma dos Primeiro-Noves, Uggat Dennat, que traduzido se torna Cova Alagada.

Voltou o olhar para trás e confirmou o que muitos diziam. Na etapa de viagem que sua vista alcançava os picos da cordilheira, A Marca de Deus tambem lhe daria a oportunidade de ser avistada e assim quando o fez observou os colossais muros negros de Obzium que se levantavam a sudeste no intímo da mata de Neknus Ka, era uma espetáculo tenebroso, não por suas muralhas impossíveis de ferir ou pela viscosa e densa nevoa de um breu incomodo que respirava, mas por sua natureza misteriosa. Não há nenhum conhecimento sobre sua origem, interior ou história. Todos os destemidos exploradores que se aventuraram para lá de suas passagens sinuosas foram uma última vez corajosos, pois seus nomes foram esquecidos, assim como esse labirinto de deus deseja ser.

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