O Tempo Pode Apagar?

Revelações inexperadas

Sua cabeça parecia pesar toneladas, todo seu corpo doía e não tinha ideia de onde estava ou se era seguro abrir os olhos. Nem sabia se conseguiria abri-los, na verdade. Respirou fundo e levantou uma das mãos, tentativamente, não sentindo resistência, ou seja, não estava amarrado. Não que achasse que teria a vida poupada caso fosse achado por Comensais da Morte, mas saber que não estava nas mãos de nenhum lunático o tranquilizava, mesmo que as poucas lembranças que tinha não contassem a mesma história.

Coçou os olhos e os abriu, agradecendo a baixa luminosidade do ambiente, pois parecia que, agora que estava acordado, todas as dores tinham resolvido acordar junto com ele. Tentou sentar, mas percebeu ser uma tarefa impossível por conta de faixas envolvendo seu corpo de forma bem presa junto á talas improvisadas. Preferiu, então, apenas se virar para o outro lado, já que o que estava antes não dava muita visão se não uma parede de madeira e um banco do mesmo material. A tarefa foi difícil por seu braço esquerdo estar imobilizado assim como seu tronco, mas assim que sua cabeça voltou a pousar sobre o travesseiro improvisado, teve como recompensa a visão do que, para si, parecia um anjo.

Usava vestes leves e em um tom claro de bege, seus cabelos loiros cobriam parte de seu rosto de maneira graciosa, escondendo quase por completo as grandes olheiras que apareciam no rosto cansado. Parecia que ele tinha dormido sem querer, pois a posição não era das mais confortáveis e em uma das mãos ele ainda segurava firme um pano úmido, provavelmente usado para fazer compressas para lutar contra uma febre.

Sirius não se importava com quem era aquele, apenas conseguia pensar no quanto estava perdidamente atraído por aquele rapaz que, pelo que parecia, salvara a sua vida e ainda perdia preciosas horas de sono para cuidar de si.

- Você é lindo, meu anjo... – ele levantou a mão para retirar os cabelos loiros do caminho de sua visão, mas sentiu a cabeça latejar e chiou, piscando com força. – Droga, devo ter batido a cabeça muito forte.

- Pelo menos a sua visão continua boa, porque ele é realmente lindo. – uma voz bem conhecida soou aos pés de sua cama, alarmando-o. – Não tenta se levantar, não seja um imbecil. – Snape andou até o campo de visão de Sirius e sorriu, presunçoso. – Finalmente acordado, não é, Black? Já estava achando que eu e Lucius não daríamos conta de tanta merda que você conseguiu fazer ao mesmo tempo.

- O que? – Sirius estava ainda mais confuso. – Por que me ajudou? Onde estou? E o que diabos Malfoy tem a ver com isso? – sua voz aumentou consideravelmente, mas ele logo se conteve, tentando não acordar o garoto á sua frente.

Sentia-se tão malditamente vulnerável. Não podia nem sentar para encarar Snape, ainda estava com um dos braços imobilizados e sua cabeça parecia que poderia explodir a qualquer momento.

- Estamos nervosos, não estamos? – Severus riu, puxando uma cadeira e sentando-se perigosamente próximo do loiro. – Vamos fazer um jogo, então. Eu respondo uma pergunta sua e você responde uma minha, o que me diz?

- Se acha que vou dizer qualquer coisa sobre a Ordem é melhor me matar de uma vez. Vai poupar seu tempo e o meu. – fechou os olhos e respirou fundo, tentando se concentrar na conversa e não na dor.

- Não se preocupe, o que quero perguntar só diz respeito á mim e não ao Lorde.

Sirius arqueou as sobrancelhas e olhou para o outro mais uma vez, agora bem interessado no que ele tinha para perguntar.

- Então vamos começar logo com isso. O que quer saber, Black? – apesar de ainda possuir o sorriso de escárnio em seu rosto, Severus parecia um pouco ansioso por estar naquela situação.

- Tudo bem. – Sirius ponderou o que deveria perguntar e decidiu que sua última pergunta era a mais relevante no momento, afinal tinha certeza que Snape tê-lo ajudado tinha alguma coisa a ver com Malfoy estar ligado ao seu salvamento. – O que o Malfoy tem a ver com tudo isso?