Não confio em você, mas...

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Duas semanas se passaram desde que aquela convivência forçada teve início. Não era tão ruim como Sirius poderia imaginar se tivessem falado pra ele que aconteceria, mas algo o estava incomodando muito. Malfoy era frio, sarcástico e era um babaca com sua maneira de pensar e agir, mas não podia negar que ele era muito bonito, e aquilo estava bagunçando a cabeça de Sirius mais do que ele gostaria de confessar.

E tudo piorava drasticamente quando o moreno tinha que receber cuidados, já que parecia que outro Lucius Malfoy entrava em cena. Cuidadoso, gentil e preocupado, fazendo Sirius se perguntar se aquela não seria a verdadeira personalidade do loiro caso não tivesse sido criado para herdar o império que a família Malfoy possuía.

Sirius já estava bem melhor. Seu pé tinha melhorado consideravelmente, seu braço já estava livre da imobilização, mas suas costelas ainda eram uma preocupação constante, já que a situação em que se encontravam não permitia que tudo fosse curado em um passe de mágica.

As coisas ficaram pior quando a neve começou a cair. A cabana era aquecida por magia, mas ainda assim não era de todo suficiente, já que Lucius caiu doente assim que as temperaturas despencaram, fazendo com que os papéis se invertessem e Sirius fosse obrigado a cuidar do outro.

- Eu disse pra sair de perto de mim. Que droga, Black! Você está com a imunidade baixa, vai acabar pior que eu... E eu que vou ter que desperdiçar meu precioso tempo cuidando de você de novo. – Lucius odiava se sentir dependente. Era algo que feria seu orgulho. Mas não podia negar que ter Sirius Black com a mão em seu rosto, para tirar sua temperatura, não era de todo ruim.

- Acha mesmo que eu vou deixar você morrer? Pro seu amiguinho tentar me matar depois? Sem chance, Malfoy, eu estou sem a minha varinha e me recuso a morrer pelas mãos do Ranhoso. – Sirius estava mesmo preocupado, não podia negar aquilo pra si mesmo. Malfoy o havia salvado e, por mais que soubesse que a morte dele fosse ajudar muito a Ordem da Fênix, não podia deixar de pensar que, talvez – e só talvez – o fato do Veela dele o ter escolhido fosse um sinal de que uma parte de Lucius podia não ser tão ruim assim. – E você salvou minha vida, estou só retribuindo. Não quero ficar devendo nada pra você.

- Meu Veela salvou sua vida, eu não fiz nada. Tira as mãos de cima de mim. – mesmo querendo soar firme, o rosto avermelhado pela febre e a tosse que seguiu suas palavras descredibilizaram tudo. Aquela aproximação com Sirius não parecia a melhor coisa para o seu bem estar ou para a sua sanidade. Lucius temia o que aconteceria com ele quando se separassem. Lucius temia a loucura que poderia cometer se Sirius não se afastasse naquele momento.

- Eu vou preparar um banho morno pra baixar a sua febre, depois vou fazer uma sopa com o que tivermos por aqui. – as mãos de Sirius foram em direção aos cabelos loiros, agora emaranhados e úmidos de suor. – Prenderia seu cabelo se fosse você. Ficar com eles molhados só vai fazer com que piore. – e saiu para o banheiro, deixando Lucius suspirando de alívio pela distância.

Não podia negar que Sirius tinha se tornado um homem muito bonito. Os traços infantis tinham-no deixado, mas aquele ar travesso parecia que era uma marca eterna nos olhos cinzas. O corpo estava longe de ser malhado ou cheio de músculos, mas estava bem construído e forte, como pode ver – e tocar – em todas as vezes que precisou verificar as ataduras que prendiam suas costelas no lugar. Era um homem que o agradaria se não fossem todas as circunstâncias que envolviam os dois. Desde os lados opostos em uma guerra que acabaria matando um dos lados, até o fato de Sirius ser o companheiro de seu Veela e Lucius ser orgulhoso demais para aceitar que alguém ficasse com ele por sentir pena de sua condição.

- Precisa de ajuda pra levantar? – Sirius tinha voltado e já se aproximava da cama, na intenção de auxiliar Lucius, caso ele precisasse.

- Eu estou doente, não morrendo. – a patada veio antes do loiro jogar a coberta em Sirius com a pouca força que tinha no momento. Levantou-se devagar, sentindo uma pequena vertigem por não ter comido quase nada desde a noite anterior, quando vomitou o que tinha conseguido jantar, mas respirou fundo e seguiu para o banheiro bem devagar.

O Tempo Pode Apagar?Onde histórias criam vida. Descubra agora