De mal a pior

665 82 29
                                    


Dois meses depois – Outubro/1979

A porta se abriu lentamente, como se a pessoa atrás dela hesitasse na intenção de realmente entrar no quarto. Mas o momento não durou muito e logo Lucius entrava no quarto de Abraxas, podendo ver que as informações que recebera eram verdadeiras.

O bruxo mais velho estava coberto de feridas que manchavam a pele de seu rosto. Porém, sem elas a aparência dele ainda seria deplorável, já que seu pouco cabelo havia desaparecido por completo e Abraxas estava muito mais magro do que poderia uma vez se lembrar. E aquilo era apenas um pouco do que a Varíola de Dragão poderia causar á alguém da idade de seu pai.

- Vejo que ficou sabendo da novidade. – a voz rouca o saldou, como se Abraxas brincasse com a situação na qual se encontrava. – Tomou a poção que pedi aquele mestiço incompetente preparar pra você, espero.

- Sim, eu tomei. E Severus não é um incompetente. Se não fosse por ele, o senhor já teria morrido, pelo que ouvi dizer. – Lucius estava se segurando para não iniciar uma briga, mas seu pai não dava trégua nem naquele momento.

- O que não faria diferença, já que eu vou morrer de qualquer jeito. – ignorando a expressão do filho, apenas se esticou e pegou alguns papeis na gaveta do criado-mudo. – Aqui estão os documentos que garantem que você é meu único e legítimo herdeiro e que nada que é meu ficará para ninguém que não seja você. – Lucius abriu a boca, mas foi interrompido mais uma vez. – Isso diz como quero que funcione o meu funeral e sepultamento. Nada a mais e nada a menos, assim como quem deverá ou não estar presente. – uma crise forte de tosse o acometeu, mas o senhor não se abalou, limpando a boca e voltando a encarar o filho. – Sei que não estarei aqui por tempo suficiente para ver isso, mas quero que me prometa que se casará com alguém de sangue puro e que continuará a nossa linhagem, independentemente do que tenha que fazer.

Lucius não esperava ouvir aquele pedido do pai, não como um pedido de moribundo ás portas da morte. Estava acostumado a ouvir a voz de Abraxas apenas lhe dando ordens e não pedindo, então resolveu concordar. Não era uma mentira se realmente pensava em se casar com Sirius em algum momento da sua vida.

- Ótimo, agora você já pode ir. Não quero que me veja morrer e a poção que tomou não tem um efeito tão duradouro, de qualquer forma. – Abraxas voltou á sua pose de dono do mundo e não aceitou discussão da parte do filho, que nem pode se despedir apropriadamente do pai, mesmo se não soubesse se realmente o queria fazer.

Encostado na porta, já do lado de fora do quarto, Lucius encontrou Severus, que lhe entregou outra poção, dessa vez dizendo que era um complemento da primeira e que o ajudaria a limpar seu corpo, mesmo que a poção anterior impedisse qualquer tipo de contágio.

- Ordens do seu pai... Nem sabia que essas poções existiam, mas vocês tem uma biblioteca realmente impressionante lá em cima e seu pai também tem um bom conhecimento sobre elixires medicinais. – Severus encarou o amigo por alguns instantes. – Sabe que ele não passará dessa noite, certo? – Lucius concordou. – Como está se sentindo?

- Não sei. É estranho porque ele nunca foi um pai de verdade. Foi um ditador, um general e até um tirano, mas nunca um pai. – um suspiro longo se seguiu. – Mas, por outro lado... Ele ainda é meu pai e vai ser difícil saber que nunca mais vou ouvir ele sendo sarcástico com tudo e todos por essa mansão.

Severus concordou e se mostrou receptivo para escutar mais se fosse preciso, mas Lucius não parecia muito interessado em conversar, decidindo se recolher em seu quarto até que a notícia oficial fosse dada.

----------------------------------------------------------------------------------------------------------

Cara Srta. Black

O Tempo Pode Apagar?Onde histórias criam vida. Descubra agora