Sonhos de Manhãs Adoráveis.

6 2 0
                                    

Bruno acordava cedo todas às manhãs, precisava chegar antes de todos no trabalho já que era responsável pela abertura da cafeteria. Todos os dias antes de sair ele se certificava de que tinha tomado todas as medidas de precaução, se tinha se higienizado corretamente, se havia passado álcool nas mãos ou apenas colocado a máscara mesmo.

Como de costume antes de sair Bruno foi se despedir dos avós, pois ficaria o dia inteiro fora de casa, e eles ficavam sós. Não era o que Bruno queria pra vida dele, no entanto quando os papéis da aposentadoria de seu avô foram negados não se tinha mais alternativa a tomar, a não ser sair para encarar o mundo do trabalho, e os riscos iminentes ainda mais nessa atual fase do mundo.

Após a natural despedida dos avós, Bruno saiu de casa em direção ao ponto mais próximo, agora ele olhava em direção ao carro do vizinho Daniel, era tudo que ele precisava, todavia talvez nem na próxima vida conseguiria um conversível daquele porte, não ganhando o que ele ganhava na Sonhos de Manhãs Adoráveis.

Parando no ponto a espera do 337, ele agora olhava para seu próprio e ridículo uniforme cinza com preto, só queria ter uma chance de que as coisas fossem diferentes. Quando entrou no ônibus olhando para os lugares alternados entre vagos e disponíveis, ele se sentia com raiva, sentia raiva de toda a atenção que os pais direcionavam à sua irmã Lídia.

"Ela nem gosta deles", ele geralmente pensava com grande frequência, mas na maioria das vezes parava porquê não fazia muita diferença, já que ele não foi abandonado por culpa da irmã, e sim por total decisão dos pais.

Quando ele abriu a loja, se deu conta de que tinha chegado muito mais tempo adiantado, no entanto decidiu não fazer nada para adiantar porquê não era função dele.

O dia foi passando rápido, e o sol que invadia a cafeteria deixava as coisas ainda mais quentes, a limpeza se tornava mais difícil de fazer e Bruno amaldiçoava cada vez mais sua vida.

Mas foi após o pôr do sol chegar que ele viu que sua vida realmente valia a pena. A porta da cafeteria se abriu, e a claridade invadiu o ambiente, da mesma forma que uma caixa de abre.

Um homem alto e barbado andou em direção até o caixa, e sussurrou algo para a atendente que Bruno acreditava ser alguma ameaça. Ele andou até a atendente e quando faltava apenas alguns passos para entender o que estava acontecendo, outro homem irrompeu pelo centro da cafeteria sacando uma arma e anunciando um assalto. Bruno paralisou, não conseguia mais andar, ou até mesmo tentar tomar alguma atitude.

-A gente não quer machucar ninguém, é sério fiquem calmos. -disse o segundo homem, esse tinha um capuz no rosto, então era impossível descreve-lo caso a polícia futuramente perguntasse.

O outro rapaz que pressionava a moça do caixa não parecia ser tão bondoso quanto o do meio da loja, e agora nem Bruno sabia mais o que esperar da situação. As pessoas já estavam aguachadas no chão da cafeteria enquanto o segundo bandido abaixava as cortinas das grandes janelas de vidro.

Bruno observava a situação com grande atenção, os dois estavam armados mas o segundo não parecia ter um pingo de experiência na situação.

Ele se agachou perto da passagem entre o caixa e a área que dava acesso às mesinhas de guardanapo, o resto das pessoas agora que viam as armas nas mãos dos bandidos se sentiam apavoradas.

-A gente vai levar toda a grana de vocês.-falou o primeiro homem, agora ele empunhava a arma na direção da Martha, a atendente de meia idade do caixa.

A rua que estava deserta devido ao baixo movimento da noite, agora se encheu de luz, e os dois ladrões pareciam ter se enchido de medo, o segundo agora tremia e repetia as frases: "não queremos machucar ninguém", "perdemos nossos empregos e precisamos disso para sobreviver" , já a mão do primeiro tremia como se fosse uma criança prestes a tomar injeção, e os pensamentos que passavam pela cabeça do Bruno variavam entre o medo de nunca mais ver os avós, até a esperança de que fosse um carro de polícia.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Sep 02, 2020 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Relatos de uma quarentena.Onde histórias criam vida. Descubra agora