PRÓLOGO

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Enquanto o Chapeleiro se apoiava em uma macieira, ele jogava pequenas pedrinhas que haviam na grama e de vez em quando parava para tomar seu chá.Me senti tonto,com o olhar vazio encarando além do riacho.

Observava as nuvens que estavam finas e caminhavam rápido com o vento,observava como o céu havia se tornado estranhamente cinza e fiquei numa espécie de estado de transe,pensativo e com medo de que aquele dia poderia estar próximo do fim,o meu fim,o de todos nós.

Estava em pé segurando um trevo,rancava suas folhas com cautela sem danificar o caule enquanto Catalina que estava sentada em um tronco ao lado de Absolem mexia em seu vestido branco que agora estava rasgado,ela tentava limpar com as mãos porém seu esforço era em vão.Absolem estava deitado com as pernas cruzadas no ar e seu fiel narguilé estava do lado direito de seu corpo, ele parecia tão calmo e relaxado com toda a situação que nem se quer ouviu quando comecei a falar, seus olhos estavam fechados e ele cantarolava algum tipo de cântico.

- ah...eu me lembro. - disse com um olhar vazio.

- se lembra do que Sr. Baker? - Catalina me olhou apoiando suas duas mãos no tronco em que estava sentada.

Imagens aleatórias surgiam aos poucos na minha cabeça enquanto caminhava até a beirada do riacho molhando meus sapatos, minha cabeça parecia rodar igual um pião e não consegui manter meus pés firmes no chão. Assim que senti que iria cair, caminhei até um cogumelo que estava cheio de larvas brancas e gordas em volta que ficavam se rastejando em círculos por todo seu comprimento sem ter uma ordem definida,elas pareciam não se importar com a minha presença.

Pus a mão na cabeça, que agora estava latejante e tentei concentrar-me no que estava surgindo em minha mente, mesmo que quisesse, não podia evitar de perceber como era o cenário que surgia a cada latejada de dor.

- Sinto um cheiro, é...é...repugnante, ferroso e nojento.

- Está dizendo que está vendo sangue Sr. Baker? - Catalina aproximou suas mãos de minha cabeça que estava molhada de suor.

- Sangue? sim estou vendo sangue...e há um rosto escondido detrás dos cabelos, e...ah meu deus!.

Catalina me olhou assustada, se levantando e indo até Absolem. Havia musgo entre seus dedos que pisavam com força pela grama.

Não entendia direito o que estava acontecendo comigo, e não queria envolvê-la,mas como evitar se o motivo de ter vindo aqui foi salvá-la? Talvez esse não seja meu único objetivo, talvez não tivesse que enfrentar tudo isso sozinho. Havia uma chance,e por mais pequena que fosse eu tinha que tentar, algo me dizia para tentar.

- Está em decomposição. - minhas palavras saíram como um sussurro e Catalina se arrepiou fazendo seu corpo tremer e os fracos e sutis pelos de seus braços se levantaram. - o vestido azul...rasgado. Tem o mesmo frasco pequeno escrito: "Beba-me". E um estranho bilhete escrito: "Mate o Coelho".

Não havia contado a ninguém sobre minhas alucinações fora do País Das Maravilhas, mas eu sabia que toda aquela cena já havia se repetido antes, não que fosse na vida real e sim nos meus sonhos. Como se fosse uma espécie de dejávu, como se estivesse preso aquilo e seja lá o que estava me prendendo, queria que eu visse aquilo, queria que eu reconhesse o lugar, o corpo. Catalina não entendia o que estava acontecendo, talvez ela não me visse como eu realmente era, nem se quer eu mesmo me via do mesmo jeito, parecia que uma parte de mim havia sido tomada e arrancada. Como se houvesse dois de mim, em dois mundos diferentes, e eu não me sentia bem sabendo disso.

- Droga...será que matei Alice? - encarei todos reunidos na minha frente.

- Como poderia Sr.? não sabemos quem o "Coelho" é, e não deveria acusar a si mesmo de um ato que não aconteceu.

ALICE ESTÁ MORTAOnde histórias criam vida. Descubra agora