Capítulo 8 - Silêncio

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RJ dormia agora no colo de SP, enquanto o mesmo acariciava os cabelos castanhos do outro. Ele havia chorado até cair no sono e São Paulo se surpreendeu pelo choro do outro. Realmente, o momento estava difícil para todos, não só para eles dois.

Ele suspira e encara o outro, sabia que teria que enfrentar muita coisa a partir daquele momento e as coisas iriam de mal a pior, encarar esse fantasma novamente será algo cruel para todos. Ele lembra de muita coisa que aconteceu naquela época, muita mesmo. Não sorria, não ria, não possuía nenhuma expressão.

Lembrava que não sorria para fotos, vídeos ou até mesmo em carreatas de apoio ao governo "perfeito". Apenas acenava e olhava. Apenas.

Foi uma época que ele começou a fumar, às vezes fumava um maço de cigarro Hollywood  inteiro em uma noite. Claro, não consegue parar mais de fumar, mas não fumava igual a um viciado e nem enche a cara de vinho, ou vodka.

"Não posso mudar o passado. Passado é passado" pensou, encostando suas costas no estofado do sofá e fechando os olhos. O sono estava mais forte do que derruba RJ no chão para ir embora.

Algum tempo depois, Salvador chega em casa e ao abrir a porta, dá de cara com o "casal" de states dormindo quase agarrados no sofá. A mesma dá um sorriso de orelha a orelha se segurando para não rir.

"Eles ainda vão ser um casal, nem que seja só no Carnaval" pensou, segurando o riso e balançando levemente a cabeça negativamente.


O silêncio e sereno da noite fez Dictatorship se sentir mais confortável. Adorava e sentia prazer com o frio, fazia o mesmo sorrir de orelha a orelha pela sensação de arrepios pelo corpo.

Parou de frente onde hoje em dia seria uma prisão de sua época, mas hoje se chama "Memorial da Resistência". Sentiu seu estomago se revirar pelo que sua grande prisão de tortura virou, e para piorar: Aquilo era coisa de São Paulo.

"Como pode, um lugar onde tínhamos os melhores métodos de tortura se tornou um Memorial? Está tentando se enganar, São Paulo?" pensou, revirando os olhos e pegando a chave em seu bolso e entrando no grande prédio. Ao abrir os antigos portões de madeira, percebe que o lugar não era mas ao mesmo.

Grandes banners espalhados pelas paredes contanto sobre a história e alguns informativos, placas espalhadas e logo viu uma escrita "celas". Sorriu maliciosamente só em pensar de ver novamente suas antigas celas de tortura.

"Ah, velhos tempos que não voltam..." pensou, indo para o corredor das mesmas. 

As grandes portas de ferros estavam todas abertas, mas decidiu ir para a última cela. Chegando lá e adentrando a mesma, a cela ainda estava sendo iluminada pela lua.

- Grr, pare de reclamar, Brasil! - disse, suspirando e vendo o outro country em sua frente com os olhos lacrimejados.

- Por quê fez isso, com ele... - disse Brasil, encarando o chão frio da cela. Sua cabeça doía, ele sabia que estava tentando lembrar do que acontecia naquelas celas minusculas e sem alguma comodidade.

- Ele precisava aprender. Afinal, desde quando ele se tornou tão sentimental? - questionou ironicamente Dictatorship. - Aqui está uma verdadeira bagunça.

- Não está! Estamos nos virando, sem você. - disse, encarando suas mãos que estavam transparentes. - Hm? Por quê estou parecendo um fantasma?

- Simples, meu eu: Você está dentro de minha mente, só eu posso lhe vê. Tanto que me chamariam de louco por está falando sozinho. - disse, dando um leve riso debochado.

- Mas você é... - cochichou o brasileiro, e um silêncio se instala no local.

As paredes gastas, cinzentas e com o rachaduras do tempo faziam o estomago de Brasil se revirar, com ele se sentia bem em um lugar desses? Como pode, pessoas serem torturadas em um espaço tão minusculo e frio? Mas, o principal: como não se lembra de nada, mas sente a tristeza daquele lugar?

- Vamos voltar aos velhos tempos, custe o que custar. Mas eu estou cansado de aturar você dentro de minha cabeça. - disse, indo em direção a saída da cela. - Você vai ficar, talvez assim você lembre do que você fez. - o mesmo termina, puxando a grande porta de ferro e trancando em seguida.

- Não, não... NÃO! - Brasil berrou, indo em direção a porta e começando a bater na porta em um ato de desespero.

Brasil escuta os passos de distanciarem, suas pernas fraquejaram e logo ele caiu no chão com lágrimas nos olhos. A luz da lua era a única iluminação e o chão frio fazia o mesmo ter arrepios dos pés a cabeça.

- Não...- sussurrou se encolhendo no chão frio e deixando as lágrimas caírem naquele chão. Lágrimas que um dia já caíram aquele chão por pessoas que ele machucou.

E também matou.













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Memorial da Resistência de São Paulo - O Memorial da Resistência de São Paulo é um museu que preserva as memórias da resistência e da repressão políticas do estado de São Paulo. Hoje em dia ele não é só o memorial com também a Estação Pinacoteca do Estado. A cela da foto foi restaurada, assim as pessoas podem entrar e ver como eram as celas de tortura da época.

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