Cap. 10 - Procedimento de corrida

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Havia tanta paz no teu carinho

Na despedida fez um dia lindo

Quem sabe tudo estará sorrindo

Quando eu voltar...

- Fagner/ Fauto Nilo na voz de Fagner


CHEED

Essa foi a semana mais cheia de minha vida.

Dividido entre treinos — nos quais eu fui péssimo —, visitar minha mãe e meu avô, cobranças do meu pai, do Steve e da Mercedes, posso dizer que mal deu para respirar.

Posso dizer também que não foi nada fácil. Eu não consegui tirar da cabeça o acidente dos meus colegas. Embora eles tenham ficado bem, não foi bonito de ver. E foi naquela curva! Não sei sinceramente como ainda consegui terminar a corrida, sobretudo com o resultado que tive. E aquela pista... Nossa, como foi difícil treinar lá durante esses dias! Mas eu não podia parar, principalmente agora que estão todos em cima por ter perdido o primeiro lugar quando eu tinha "A" chance, segundo a equipe. E também pelo meu desempenho e o escrito de Michele, ambos chamaram muito a atenção da imprensa, assim como de patrocinadores. 

Os contratos de publicidade no Brasil aumentaram exponencialmente nos últimos dias, agradando ao meu pai e a equipe. Justo agora que faltava apenas a corrida de Abu Dhabi, no próximo fim de semana, para finalizarmos a temporada. 

Eu deveria estar descansando, mas a real é que ninguém deixou. Entretanto, hoje é sexta-feira, meu último dia no Brasil. Daqui eu devo pegar um voo direto para Nova York, lá encontro meu pai e vamos juntos para Abu Dhabi. Ele quer estar perto desta vez, para se certificar de que tudo vai "correr" bem. Que trocadilho infeliz!

Na verdade eu deveria ter viajado hoje pela manhã, mas tenho um compromisso importante, adiei o voo para logo mais à noite.

Desço do carro depois de estaciona-lo na Paulista, pego meu celular no bolso e disco o número enquanto caminho. No quinto toque, ela atende:

— Alô? — É óbvio que ela não tem o meu número, o que chega até a ser bom, porque se ela soubesse que sou eu, haveria uma grande chance de não atender.

— Olá, bom dia! — Olho no relógio, ainda é bom dia. — Espero que esteja com fome, considerando que tínhamos marcado esse almoço cinco dias atrás. — Solto tudo de uma vez, brincando com o fato de ela ter me dispensado. A exclamação do outro lado da linha, denuncia que ela já sabe quem está do outro lado da linha. 

Eu não liguei antes e não mandei nenhuma mensagem. Tenho certeza de que Michele esperava que eu desistisse, esse tempo — ou a falta dele, porque na real eu não liguei antes por não conseguir um só minuto de paz para fazê-lo — trabalhou ao meu favor, agindo como um elemento surpresa. Está claro que fui dispensado no domingo e se eu tivesse ligado antes, ela certamente teria tempo para planejar a próxima desculpa. Mas eu não desisto fácil.

Voltei a ser piloto, eu volto aquela maldita pista todo ano. E eu voltei este ano sozinho, não foi nada legal, mas voltei e eu estou vencendo. Não vai ser um "almoço ou um lanche qualquer", cinco dias após o convite, que vão me fazer desistir. Eu gostei de Michele, de verdade. Eu me senti bem com ela, sei que ela também se sentiu da mesma forma. Não entendi  porque ela não aceitou o convite. Não sei se fiz ou disse algo errado, mas eu realmente não quero viajar sabendo que ela foi uma pessoa que eu conheci e pronto. Quero viajar sabendo até onde mais isso pode chegar, ou se paramos por aqui.  Ainda assim eu quero ter, pelo menos, uma resposta. 

Depois da CurvaOnde histórias criam vida. Descubra agora