Cap. 18 - Pane seca

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Há tempo, muito tempo
Que eu estou
Longe de casa
E nessas ilhas
Cheias de distância
O meu blusão de couro
Se estragou

[...]

E até parece que foi ontem

Minha mocidade

Com diploma de sofrer

De outra Universidade

Minha fala nordestina

Quero esquecer o francês

- Belchior

                                                                         MICHELE 

Eu estou namorando e estou empregada. Hoje Cheed e eu estamos completando três semanas de namoro e eu, comemoro um mês de minhas funções na revista esportiva "O Placar".

O mundo parece rosa com bolinhas brancas, ou azul com bolinhas brancas, sei lá, algo assim. Eu quis dizer que parece bom, colorido e belo. A vida virou minha playlist de músicas para limpar a casa em um dia bom, só toca minhas favoritas. Um livro de Nicholas Sparks, não, espere, dele não! Os livros dele sempre acabam em tragédia. 

Mas enfim, acredito que tenham captado a mensagem. Estava tudo perfeito. Como comer doces na TPM, você sente uma paz interior, como se tudo estivesse na mais perfeita harmonia.

Até o Chefe-cão está sendo um ótimo chefe, parece aquelas placas de "cuidado com cão" e quando você vê, é um Pug fofinho. Angel e eu estamos estabelecendo uma parceria muito agradável, posso dizer de coração, somos amigos! Entenderam porque o mundo estava rosa, com trilha sonora e açúcar? Meu namorado é um campeão e meu emprego é perfeito. Eu quero gritar para o mundo!

Mas não posso, pois nem tudo são flores... No meio do mundo cor de rosa com bolinhas brancas, há uma bolinha cinza. No meio da playlist, a internet caí. E já que usei Nicholas Sparks como referência, eu tenho medo do final dessa história. Sabem do que estou falando?

Eu não contei para a minha mãe ainda. Na verdade, desde a nossa última ligação, não trocamos mais nenhuma palavra. Eu tentei fazer outras ligações, mas vovó sempre atende e inventa uma desculpa. Ela nem se esforça para criar uma desculpa inteligente e rejeitar sua única filha com dignidade, se é que existe uma maneira digna de fazer isto.

E por essa razão eu não posso gritar ao mundo minha felicidade. Se eu gritar ao mundo, minha mãe irá ouvir e eu não gostaria que ela descobrisse dessa forma.

— Michele, pode vir aqui um instante? — É quinta-feira, estamos no meio da tarde quando Angel me chama até a sala do Chefe-cão, interrompendo minhas reflexões sobre felicidades e brados ao mundo.

— Boa tarde, me chamou?

— Sim, você e Ângelo, na verdade. Quero os vocês dois cobrindo um evento, amanhã à noite.

— Eu? Quer dizer, nós? O Angel eu até entendo, ele está aqui faz um bom tempo... agora eu? Eu cheguei agora... — Esperem, eu estou recusando trabalho? "Mancada, em Michele?".  Me calo imediatamente. 

— Eu sei. E você deveria me agradecer por eu te deixar sentar na janela. — Me sinto um pouco envergonhada, afinal é uma chance de mostrar o meu potencial. — Gostaria de mandar a Vanessa, mas ela não vai conseguir. Eu tenho visto que você é uma excelente observadora, também faz sua mágica com as palavras... o evento para o qual estou mandando vocês, é um evento esportivo, a nata do esporte nacional vai estar lá. A tarefa é muito simples, observar, anotar tudo e falar com alguns nomes importantes. Angel vai te auxiliar, caso precise de orientação. Tudo bem para vocês?

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