|| 9. V I N C E N T ||

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9. V I N C E N T

— Por que ele não está saindo da piscina? – Pondero se fiz errado em deixá-lo cair na água.

— Vincent McGregor? – Ouço alguém me chamar.

Viro-me na direção da voz, mas não consigo distinguir quem seja.

— Trouxe seus documentos? – Assinto.

— Enviei hoje cedo para a treinadora.

— Obrigado. Poupou meu trabalho. Boa aula. – O homem sai tão rápido quanto veio e eu volto minha atenção para Ken, já considerando a possibilidade de precisar entrar para salvá-lo.

Ele coloca o braço para fora e puxa uma toalha que estava na borda da piscina, trazendo para dentro da água, cobrindo a cabeça, segura a barra para subir e alguns fios loiros saltam para fora da tolha, além dele ter algo parecido com cabelo, uma peruca talvez, em sua mão direita.

Deixo a piscina com a minha mente a mil por segundo. Tiro os plásticos de proteção para os sapatos e sigo em direção a ponte, onde sei que poderei pensar com clareza.

— Ele na verdade é uma garota. Mais que droga! O que ela faz em um time para garotos?! – Comento em voz alta, o que meus pensamentos não conseguem entender.

— Uma garota? As aulas nem começaram e você já está interessado em alguém? – Olho para o lado e reconheço o porte atlético do intruso que acabou por escutar minha breve constatação.

— O que faz aqui, Thomaz? – Ele apoia os braços no corrimão da ponte e olha para a rua movimentada pelos alunos em seu primeiro dia de aula.

— Vim trazer alguns documentos que sua mãe pediu para que você assinasse. Agora me conta, quem é a sortuda? Hm?

Permaneço em silencio sem encará-lo.

— Não vai me dizer que o garoto do selinho e essa menina são a mesma pessoa?

— Você anda com alguma câmera escondida por aqui?

Ele gargalha.

— Eu sabia! Você ficou realmente mexido com aquele garoto que é uma garota! Um romance de amor à primeira vista estilo "você é a única que eu posso ver" só poderia ser escrito por um autor apaixonado. Era óbvio que ela era menina. Você nunca demonstrou interesse por homens. – Thomaz começa a devagar e preciso me controlar para não socar a cara dele.

Deboche e piadinhas ridículas é um mal de família como podem ver. E por vezes acabo provando do meu próprio veneno, como agora, com meu próprio tio debochando da minha situação.

— Cala a boca, Thom. Não quero falar sobre isso.

— Okay. Não está mais aqui quem falou. Só me tira uma dúvida, o que vai fazer já que descobriu o segredo dela? Vocês são colegas de time agora!

— É exatamente por não a querer como minha colega de time que irei entregá-la a treinadora é ela quem decide o que fazer.

Deixo Thomaz para traz e caminho em direção ao prédio dos treinadores.

— Você precisa isso aqui, menino! – Ele grita, mas já não ligo.

Preciso aproveitar o resquício de determinação que me resta para fazer o que é certo.

(...)

— Ela precisa ir embora. As coisas podem ficar bem difíceis se ela permanecer. – Repito a mim mesmo erguendo a mão para abrir a porta da treinadora Simon.

— Precisamos conversar.

Por falar nela...

— Não tenho nada para conversar com você. – Rebato.

— Tem certeza? – Ela ergue o celular, toda cheia de si.

Uma foto de Thomaz com o meu nome escrito ao lado, o brasão da universidade da Pensilvânia e eu sei que estou perdido.

O que ela faz com essa foto?

Como ela sabia que eu deveria ter ido para lá e não ter permanecido aqui?

— Enquanto trocava de roupa, graças a você tem jogado na piscina, recebi essa foto do meu irmão. Adivinha quem deveria ser o colega de quarto dele? Pelo pouco que eu conheço de leis, o que você e o seu tio fizeram é crime. Além do que, eu acho que fez isso para que sua família acreditasse que você ingressou para contabilidade, quando na verdade se tornou bolsista no time de hóquei. Acertei? – Arqueia as sobrancelhas claras, com um sorriso travesso nos lábios rosados.

— O que você quer? – Dou um passo à frente e ela não se move, me desafiando. Não sabendo com quem está mexendo.

— Estou pensando com muito carinho a respeito. O que acha de começarmos por isso? – Ergue a mochila e joga sobre mim.

Respiro fundo cerrando os punhos, me controlando para não fazer nada do que minha mente passou a planejar.

"Pequena ardilosa".

— Não quer saber o que vim fazer na sala da treinadora? – Questiono forçando um sorriso e ela nega, atrevida.

— Não me interessa. Agora vamos, essa história toda me deu fome. Você paga? Ah, esqueci, você tem que pagar! – Debocha com a maior cara lavada e eu não acredito que estou mesmo carregando sua mochila e indo pagar seu almoço.

Pensa, Vince. Pensa.

O que fazer para essa criatura mudar de ideia?

— Olha aqui... – Ergo o indicador, ela o segura e atende o celular que começa a tocar.

— Oi, sim. No ringue? Agora? Escolha dos quartos? Ok, já chego aí. – Encerra a ligação e me encara. — Sabe por qual razão precisamos escolher nossos quartos no ringue?

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E as coisas só melhoram para a nossa Ken 😂😂🤦‍♀️

Minha Garota [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora