capítulo 8

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Mia

Meu corpo ficou estático assim que ouvi o nome dela sair da boca de Matteo. Ainda estou digerindo isso, sinto seu nome descendo pela minha garganta e embrulhando meu estômago.

Daiana existe, ou melhor, existiu. Ela era uma rainha mas por que a sensação que a conhecia? Por que seu rosto parecia tão familiar? Se ela era a rainha dos feiticeitos então não tem como eu já ter visto, minha cabeça está pesando, sinto meus músculos tensionarem e meu corpo fica pesado gradativamente.

Daiana não é só fruto da minha imaginação, não é um rosto aleatório em meus sonhos. É uma rainha. Uma rainha Eliare.

Sinto as mãos fortes e quentes de Matteo tocarem meus ombros de forma rígida, sei que ele fala algo pois vejo seus lábios se moverem, mas de fato não o escuto. Seu toque fica mais bruto, ele me toca e me sacode como se tentasse me acordar.

Eu realmente sinto meus sentimentos querendo sair de mim, sinto o colar quente em meu pescoço. Sinto o embrulho no estômago ficar maior e sinto meu corpo pesar cada vez mais.

Tento falar algo, tento me mexer mas é como se meu corpo não me obedecesse, não sei o motivo, não sei o que está acontecendo, esse sentimento é amargo e eu sou obrigada a engolir a força, estou cansada dele. Cansada de não saber.

Vejo Matteo como um vulto em minha frente, sinto seu toque longe. E depois nada. Apenas escuridão e desespero.

Toda a minha vida foi baseada em ser alguém, eu preciso ser alguém. Todo esse sentimento de ser menos que qualquer outro me atormenta todos os dias.

Com o tempo eu aprendi que precisava me provar, não somente aos outros, mas a mim mesma. Provar que posso, provar que sou mais que todo esse amargo e frio sentimento.

Talvez o que me fez fugir da minha casa e vir em uma aventura incerta não tenha sido o cheiro da carne queimando que invadiu minha narinas naquele dia, não tenha sido outra lição dele, não tenha sido os sonhos recorrentes com uma mulher que insistia em falar sobre o meu destino ou o encontro com um casal que queimou diante de mim.

O motivo foi esse desejo de provar algo, provar que posso, posso governar um reino, posso ser um exemplo, posso me cuidar e acima de tudo posso ser eu.

Pareci idiotice falando desta maneira, sempre me senti uma idiota por pensar assim, todos podem ser o que quiserem, certo? Errado. Eu não posso, nunca pude. E isso de fato é o que me assombra todos os dias.

(...)

Uma luz quente e terna toca meu rosto em um carinho silencioso. Estou novamente na clareira, ela ainda está verde e brilhante, olho para as águas a procura dela. A água reflete meu rosto e noto o quanto estou cansada.

Respiro profundamente tentando inalar todo o ar daquele lugar, toco meus cabelos que caem sobre meu ombro e os jogo para trás, sigo até perto da margem da pequena lagoa e me sento lá.

- Mia? - A voz doce e angelical de Daiana faz meu corpo dar um sobressalto.

- Daiana? Finalmente. - me levanto e procuro por ela, Daiana está logo atrás de mim e esboça um esplêndido sorriso. Seus cabelos da mesma cor que o meu estão soltos e voando com a brisa, ela veste um vestido branco que mostra seus ombros, existem várias sardas por eles. Encaro então seus olhos violeta e sorrio.

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