11 | Coelho Caubói

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— Como está a adaptação?  - Steph pergunta enquanto me guia pela pequena sala, sem necessidade

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— Como está a adaptação? - Steph pergunta enquanto me guia pela pequena sala, sem necessidade. Pela foto emoldurada na parede não deve ter muito mais de trinta anos, embora tudo o que usa agora, como seu coque alto, a faz parecer mais velha.

— Boa, eu acho.

Ela faz um gesto para que eu me sente na poltrona a sua frente, penso em como dizer o que quero e ela me encara, provavelmente com medo de parecer rude ao perguntar que merda estou fazendo aqui então.

— Preciso que você assine isso — pigarreio e passo o papel — para confirmar meu horário escolar.

Agora para não receber outra intimação, preciso cumprir 85% de presença. A pior coisa que me fizeram.

Torço para para que ela esteja tão cansada do expediente que apenas faça o que pedi sem nem averiguar, como meu pai fazia com minhas advertências no fundamental, mas ela arruma os óculos fundo de garrafa e lê com atenção. Todos que já estiveram nessa posição mudam seu comportamento em segundos. O sorriso desmancha, as sobrancelhas se erguem, então se afastam sutilmente, e dão uma desculpa para me evitar para sempre. Mas contraditoriamente Steph não. Ela coloca uma mecha solta atrás da orelha antes de se voltar a mim e apenas sorri.

Não me questiona sobre o que fiz e nem recita um versículo da bíblia como se eu precisasse ser exorcizado igual a secretaria do tribunal.

— Acho que não fomos devidamente apresentados.

— Eu já vim aqui uma vez. Sou o Chase, lembra? — franzo as sobrancelhas, pois não faz muito tempo. No início das aulas precisei vir aqui para escolher minhas matérias. Talvez isso tenha a ver com o fato de ela não ter ligado que sou um delinquente, não deve estar em seu pleno juízo mental.

— Não dessa forma — ela ri exageradamente e deixa escapar um ronco no final — Além de secretária, eu também sou orientadora estudantil. Isso quer dizer que minhas portas estão sempre abertas caso queira conversar.

Concordo com a cabeça e fico em silêncio. Ela me encara como antes, esperando que eu tome a iniciativa e diga algo, mas apenas balanço a perna por baixo da mesa, nervoso.

— Quer conversar?

— Acho que agora não.

— No seu tempo, Chase. — e da um papel onde me autoriza a entrar na primeira aula atrasado.

Agradeço e passo reto da sala. Sento na arquibancada dos jogos com vista para o gramado. Mas não olho para o verde, e sim para o azul. O céu me faz pensar na Skyler. Em seus olhos sem cor, tão diferentes dos que a conheci.

Divago por meia hora e não me parece tempo o suficiente para entender seus enigmas. É óbvio que tem algo de errado, mas minhas tentativas de ajudá-la não foram muito promissoras. Hassan sempre diz para eu ficar fora, pois apenas atrapalho tudo, e não quero que ela também ache isso.

L'appel Du Vide (abandonada) Onde histórias criam vida. Descubra agora