13 | Quase raridade.

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Quando entro de volta, a cachorra dedo-duro não está mais na cama, mas sim atrás da porta do quarto, decidindo se vai me denunciar ou não

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Quando entro de volta, a cachorra dedo-duro não está mais na cama, mas sim atrás da porta do quarto, decidindo se vai me denunciar ou não. Por sorte, apenas solta um grunhido agudo e se deita novamente.

Me movo para de baixo das cobertas, e mesmo que esteja quente e confortável, não me deixa em paz como no banco do passageiro de Chase.

Talvez seja a musica. Quando era pequena e jurava que havia monstros no guarda-roupa, só conseguia dormir com minha mãe cantando ao meu lado. Era desafinada, mas sei que fazia seu melhor, então não me importava. Acho que é a situação de que mais lembro de Marie na infância. Longe dos outros, longe da realidade, perto de mim. Coloco, então, música para encher meus ouvidos, e posso jurar ouvir sua voz junto da clássica canção brasileira que antes amava. Não sei se ainda lembraria a letra.

Sussurro, demorando a dormir. Mas quando o faço, pela primeira vez sonho com grandes pupilas castanhas formando planetas no espaço sideral.

✶⊶⊷⊶⊷❍⊶⊷⊶⊷✶

O sol invade meu quarto pela considerável abertura da cortina. Mesmo sonolenta levanto, abro a porta da sacada e protejo meus olhos contra a iluminação, tão forte que chega a ser dolorosa. Um dia lindo no meio do outono. Quase raridade.

Tento fazer as panquecas com mel de Katherine, mas acabo deixando queimar na parte inferior. Mesmo assim como todas assistindo o noticiário e ouvindo o âncora dizer "Acorde, está sol lá fora" e todas essas baboseiras. Tipo, levantem a bunda do sofá e vejam por si mesmos, preguiçosos. Mas no fundo, acho engraçado.

Quando termino, penso no que posso fazer. Não quero sentar e assistir algo como sempre. Preciso sair, respirar ar fresco. Então, quando vejo Violet correndo de um lado para o outro, tenho uma ideia.

Vioooolet — cantarolo seu nome e aparece em menos de três segundos. — Passeio. - digo simplesmente, e isso basta para provocar sua euforia. Se há alguém que sentiu minha mudança, foi ela. Antes a levava para passear todos os dias, e agora nem me lembro qual fora a última vez.

Enquanto coloco uma coleira rosa sobre seu pelo preto, com o peito branco, me lembro do dia que a encontrei. Aliás do dia em que encontramos. Eu e Matthew. Ela era filhote, estava abandonada e mancava. Thor, meu outro cachorro, tinha morrido há pouco tempo. Me lembro de minha mãe dizer que ele tinha virado uma estrela. Como ainda não entendia muita bem, levei ao pé da letra, e então passava horas conversando com "ele". Não sei o que faz menos sentido, achar que ele poderia me entender sendo um cachorro ou um corpo celestial. Mesmo assim, acho que é por isso que amo tanto o céu agora. Mas depois disso, eu tinha prometido a mim mesma que nunca mais teria nenhum, para me poupar da dor imensurável da futura perda. Então no fim do dia não aguentei, e trouxe o que seria a Violet ou Hannah Montana - sorte que minha mãe ganhou essa decisão - para casa.

L'appel Du Vide (abandonada) Onde histórias criam vida. Descubra agora