A visita das Gardners

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- Há uma carta com um selo indiano para a senhora, tia Jimsie - anunciou Phil. - Chegaram três para Stella, duas para Prissy e uma gloriosamente volumosa para mim, do Jo! Anne, não há nada para você, exceto esse boletim informativo.

Ninguém percebeu que Anne havia ficado enrubescida quando pegou o fino envelope entregue por Phil de forma tão descuidada, mas, logo depois, Phil ergueu os olhos e viu uma transfigurada Anne.

- Querida, o que aconteceu de bom?

- A revista Amiga da Juventude aceitou um pequeno esboço que eu enviei há quinze dias - disse Anne, tentando com todas as forças parecer natural e que estivesse acostumada a ter seus rascunhos aceitos sempre que os enviava, mas falhando miseravelmente.

- Anne Shirley! Que notícia maravilhosa! Como foi? Já há data para ser publicado? Eles lhe pagaram algum valor?

- Sim, enviaram um cheque de dez dólares e o editor me escreveu informando que deseja conhecer melhor o meu trabalho. E com certeza o conhecerá! Era um velho rascunho que encontrei na minha caixa em que havia as histórias do Clube de Contos. Então eu resolvi reescrevê-lo e o enviei, mas nunca pensei que poderia ser aceito, pois não tinha um enredo consistente - explicou, recordando a amarga experiência de A Expiação de Averil.

- O que vai fazer com os dez dólares, Anne? O que acha da ideia de irmos à cidade e nos embebedarmos? - sugeriu Phil.

- Eu vou esbanjar em algum festejo louco e perverso - declarou Anne, alegremente. - Afinal, não é um dinheiro maldito como aquele que recebi por aquela terrível história do fermento Rollings Reliable. Gastei tudo comprando roupas úteis, mas as odiava todas as vezes que as vestia.

- E pensar que temos uma verdadeira escritora na Casa da Patty! - disse Priscilla.

- É uma grande responsabilidade - comentou tia Jamesina.

- De fato, é - concordou Priscilla, com ar igualmente solene. - Escritores são tão caprichosos! Você nunca sabe quando ou como vão se tornar famosos. Pode ser que Anne esteja escrevendo sobre nós.

- Eu quis dizer que a habilidade de escrever para revistas é uma enorme responsabilidade - replicou tia Jamesina, com severidade -, e espero que Anne entenda isso. Minha filha também costumava escrever contos antes de partir para o exterior, mas agora se dedica a propósitos mais elevados. Sempre dizia que seu lema era: "Nunca escreva uma linha que se envergonhe de ler no próprio funeral". É melhor que você o tome para si, Anne, se vai mesmo embarcar na literatura. Embora, para ser sincera - acrescentou, perplexa -, Elizabeth sempre gargalhasse quando dizia isso, ela ria tanto, que não sei como decidiu ser missionária. Fico grata que ela tenha escolhido esse caminho e eu orava para que assim fosse... mas... queria que ela não tivesse ido.

Tia Jamesina ficou ainda se perguntando o que havia de tão engraçado naquele lema que provocou tantas gargalhadas naquelas levianas mocinhas.

Anne estava radiante e seus olhos brilharam durante todo o dia, pois em seu cérebro, brotavam e floresciam ambições literárias. Tal empolgação a acompanhou até a festa ao ar livre de Jennie Cooper, na qual nem mesmo a visão de Gilbert e Christine caminhando à sua frente e de Roy conseguiu conter a centelha da suas esperanças. Contudo, Anne não estava tão distanciada assim das coisas terrenas para ser incapaz de reparar que o andar de Christine era totalmente desajeitado.

"Mas suponho que Gilbert só olha para o rosto dela. Tão típico de um homem" - pensou Anne, desdenhosa.

- Você estará em casa no sábado à tarde? - perguntou Roy.

- Estarei, sim.

- Minha mãe e minhas irmãs estão planejando visitá-la - disse, em voz baixa.

Anne da IlhaOnde histórias criam vida. Descubra agora