Leia o recadinho do final, é importante.
Se puder leia o capítulo ouvindo a música....
O meu socorro vem do Senhor,
que fez os céus e a terra.
Salmos 121:2
Respiro profundamente antes de estender a mão para bater na porta. Dou três toques que soam de maneira ritmada, porém não faço propositadamente.
Depois de alguns minutos, que pareceram mais longos do que realmente eram, a porta é aberta e Marina me encara de forma indecifrável. Ficamos nos olhando por um tempo e não Sabia como começar a contar tudo.
— O que está fazendo aqui? — Após sua pergunta me olha de cima a baixo, provavelmente reparando na roupa que estou usando.
— Eu… Preciso conversar com você!
— Não temos nada para conversar! — Faz menção de fechar a porta, porém a impeço, não entendendo sua atitude.
— Por que está agindo desse jeito? — Pergunto segurando a porta.
— Você ainda pergunta? Sérgio me contou o que aconteceu, e eu estou decepcionada com você por ter magoado ele depois da conversa que tivemos. E ainda por cima você traiu sua irmã!
— Não… as coisas não aconteceram dessa forma! — Meu coração já começava a acelerar enquanto eu pensava na melhor maneira de explicar. Não posso deixar que ela também pense absurdos sobre mim. — É que… Eu-eu… A Clara me obrigou a colocar esse vestido e… eu não queria! acredita em mim! — Me embolo toda e naõ consigo contar. É muito difícil para mim apenas imaginar… imagina contar para outras pessoas?
— Fala sério, Cléo! Não acredito que você vai me falar que tudo isso foi por conta do seu vestido. A roupa que você está usando não tem culpa de nada… você que se engraçou para cima do namorado da sua irmã… Agora não adianta vir pedir desculpas. — Suas palavras saiam de sua boca em um tom bem alterado, resultando uma corrente de lágrimas que começaram a escorrer por meu rosto.
— Mas eu não fiz nada! Ele…
— O que está acontecendo? — Dona Maria aparece na porta. — Cléo…. Por que está chorando? entre querida!
— Não, mãe. Ela não entra mais aqui! Essa menina é a pessoa mais traidora de todas!
— Não fale assim com sua amiga. — Repreende a filha, porém ela não dá ouvidos e vira as costas. — O que houve com você, Querida?
— Não foi nada, tia. — Engulo o choro e seco minhas lágrimas. Provavelmente ninguém vai confiar em mim. Por isso corro para longe daquela casa quando dona Maria abre a boca para falar novamente.
Minha mente repassa todos os acontecimentos do dia em uma fração de segundos.
"Como você pode ser tão sonsa? eu cheguei aqui e vocês estavam se beijando. Não se faça de inocente!"
"A culpa foi toda sua. Você pediu…"
"— Ah! É claro que você pediu. Você pediu por suas atitudes. Como você acha que eu me sinto? sempre vi você andar toda comportada, e mesmo assim sempre senti uma admiração por você. Tentei te esquecer ao me envolver com sua irmã, mas isso não adiantou. Eu me sentia mais e mais atraído por você. Até que você resolveu ir para a festa com aquele vestido vermelho. Sabe… Fui eu quem presenteei sua irmã com ele. Como acha que fiquei ao vê-la usando? você me enlouqueceu! Eu tive que fazer isso ou então não iria mais aguentar. Se você não tivesse me provocado tanto… — Estende sua mão tentando acariciar meu rosto, mas eu impeço. — Mas você sempre fazia o possível para me provocar. A maneira como você se movimenta quando está dançando, o modo como você sorri e revira os olhos quando está com seus amigos… isso e muitas outras coisas me fizeram tomar essa decisão. Você podia ter evitado…"
— Presa atenção por onde anda, sua maluca!
Acordo de meu transe escutando um barulho ensurdecedor de buzinas. Um carro estava parado em minha frente e o motorista gritava pedindo para que eu saísse da frente, ou então iria me atropelar. Provavelmente eu já teria virado asfalto caso ele tivesse demorado mais um segundo para parar o carro.
Saio dali correndo, prestando mais atenção na rua para não acontecer o mesmo incidente.
Corri o mais rápido que pude. Senti minha garganta arder e todo meu corpo doer, mas tentei ignorar… nada disso importa agora. A verdadeira dor já está instaurada em meu coração.
Quando percebo já estou na frente de minha casa. Reluto por alguns segundos, entretanto decido abrir a porta de uma vez e encarar a realidade. Assim que entrei me surpreendi pela calmaria do local. Não tinha ninguém em casa.
Respiro aliviada e vou direto para meu quarto. Fecho a porta, trancando logo em seguida. Não queria ser incomodada por ninguém. Sei o que irei escutar de minha mãe quando ela descobrir tudo, provavelmente dará razão para Clara e ao menos não escutará minhas explicações. Ela sempre me culpava por tudo, mas agora era muito mais grave, com toda a certeza irá fazer um escândalo. Farei o possível para não me encontrar com ela, mesmo sabendo que será muito difícil pois moramos na mesma casa.
Olho para cada canto de meu quarto procurando algo para me distrair. Se ficar mais um minuto pensando em minha desgraça irei enlouquecer! A caixinha de som azul chama minha atenção, vejo ali uma oportunidade de fazer algo que gosto, para esquecer os problemas.
Ligo em um volume alto e a melodia se inicia e começa a tomar conta do quarto. Começo me movimentando vagarosamente enquanto minha mente se esvaziava. Agradeço por poder ter aquela sensação pelo menos por alguns minutos.
A medida que a melodia ficava mais rápida, fui acelerando meus passos. A música invadia todo meu corpo. Minha respiração estava acelerada assim como meu coração batia fortemente. O sentimento de alívio e conforto estava ali, mas logo foi substituído por lembranças dolorosas.
"Mas você sempre fazia o possível para me provocar. A maneira como você se movimenta quando está dançando…
Isso e muitas outras coisas me fizeram tomar essa decisão. Você podia ter evitado…"Então eu paro. Dançar não fazia mais sentido para mim. Só fazia com que eu me sentisse culpada.
— A culpa não foi minha… — Murmurava para mim mesma tentando me convencer.
Então, pessoal, a música tem um pouco haver com o capítulo, mas péço que não seja interpretada de forma errada.
Cléo procurou sua amiga na intenção de desabafar, mas acima de tudo ela queria tirar a dor que estava sentindo, e com toda certeza sua amiga não seria capaz, apenas Deus.
Mas isso não quer dizer que ela não deveria pedir ajuda, é claro que deveria! Ela teve a opção de pedir a ajuda da mãe de sua amiga, mas desistiu por medo.
E se você está passando também por isso, não pense duas vezes, peça ajuda e denuncie. Violação sexual é crime e você não tem culpa disso! A vítima nunca tem culpa.
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Com Muita Dor, Cléo
EspiritualPara Cléo, a pior coisa que existe é ver as pessoas que mais ama duvidar de seu caráter, e isso acontece quando ela mais precisa, no momento em que ela se sentia fraca, sozinha, despedaçada, abandonada. Cléo nunca iria tirar aquelas imagens da cabe...