Uma carta de Anne

2.7K 225 102
                                    

(Carta de Anne Shirley-Cuthbert, estudante de Letras em Queen's Academy, para Gilbert Blithe, estudante de medicina na Redmond College, Toronto)

Propriedade Blackmore
Rua dos Bordos Vermelhos
Charlottown, Ilha do Príncipe Eduardo
21 de Junho

QUERIDO-E-MAIS-QUERIDO

É primavera!!

Talvez você, enterrado sobre uma pilha de provas em Redmond, não tenha se dado conta, mas eu estou ciente, do topo da minha cabeça até os dedos dos pés... Charlottown também notou, pois até as ruas mais cinzentas estão transfigurados por galhos em flor que se estendem sobre as velhas cercas de madeira!

Tudo diz "primavera" para mim... Os riachos risonhos, as brumas da manhã, os bordos no bosque onde leio suas cartas, as cerejeiras ao longo da Rua dos Bordos Vermelhos...

Daqui há alguns dias, o primeiro semestre acabará, e teremos férias! Não paro de pensar no velho pomar de Green Gables com suas árvores cobertas de flores e frutos, a linda Rainha da Neve branca outra vez, a antiga ponte do Lago das Águas Brilhantes, o murmúrio do mar em meus ouvidos... e você!

Por outro lado, me sinto em casa aqui. Nunca nenhum lugar poderá substituir Avonlea, mas agora enxergo a Propriedade Blackmore como minha segunda casa, Charlottown como minha morada atual, e estou completamente adaptada a esta sociedade!

Ela é diferente, você sabe. Sente isso em Toronto também? Quando cheguei, parecia outro universo. Fui em concertos, bailes, musicais, jantares, festas, tudo em um único mês, coisas que antes eu só fazia uma ou duas vezes por ano. E me senti... cansada ao final dela. Mas acabei dando conta do rítimo com que as coisas acontecem na cidade grande, e aprendi a dançar conforme o rítimo da música. Depois que saí da minha zona de conforto, conheci muitos lugares, muitas pessoas, muita cultura. Suspeito ter aprendido mais sobre a vida real, sobre relacionamentos, pessoas e as novas tecnologias do mundo em eventos sociais do que na sala de aula.

Descobri, por exemplo, que quanto mais gente você conhece, maior a chance de esbarrar com almas gêmeas espalhadas por aí! Oh, são tantas! É claro, é também maior a chance de esbarrar em pessoas absolutamente obtusas, mas acredito que o risco valha à pena.

Conte-me mais sobre seus novos amigos! Quero muito conhecê-los algum dia, principalmente os Ambrose. Você já mencionou tantas vezes a generosidade deles em suas cartas que já sinto que os conheço. Ah, Stella, John e Cristy Ambrose (especialmente você, pequena Cristy!), espero que estejam divertindo muitíssimo meu noivo.

Já comentei como adoro chamá-lo de noivo, Gilbert? E como adoro simplesmente me distrair com o brilho fresco e verdejante do anel que você me deu, pensando em nosso futuro juntos? Todos perguntaram a respeito dele, e orgulhosa, eu disse à eles seu nome.

Desculpe, estou fugindo do assunto. Não quero terminar escrevendo uma carta de amor sendo que não escolhi a caneta adequada para tal. Eu estava contando-lhe sobre as pessoas a minha volta, certo?

Bom, você lembra-se da Aisha, a irmã Montgomery mais velha, que eu conheci no primeiro recital que compareci? Temos nos visto frequentemente desde então, e nossas visitas e caminhadas são sempre acaloradas! Descobri nesta mulher de 28 anos, que sempre usa pérolas prateadas no pescoço, recita muitíssimo bem e tem um abraço aconchegante, mais um espírito irmão.

Ela também está noiva! É apaixonada por um homem chamado Evaldo, cuja a aparência e os bons modos definitivamente compensam esse nome horrível.

Continuação de Anne com EOnde histórias criam vida. Descubra agora