O Alívio e o Desespero

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Lorys acordou com muitas dores, ficou quieta, mais uma vez pensando em tudo que passou na vida, só tinha a agradecer por estar viva, fez uma de suas orações preferidas, mais fortes e tocantes, a Oração de São Jorge. Lágrimas corriam em suas faces enquanto orava, agradecendo e pedido proteção a si a aos seus. Pensou em Daiane, na maca do Hospital, porém sabia que havia grandes chances de ser condenada pelos crimes que cometeu. Cris se mexeu, A imagem de Natalia surgiu em sua cabeça, agradeceu à moça que olhava por ela, pela força que sempre emanou para ela, mesmo depois de desencarnada, sentiu a presença de seus familiares, principalmente de sua mãe, que tocava seu rosto com carinho, sabia que era uma despedida, já não seria mais permitido ve-las como foi até aquele momento. Precisava ir ao Centro Espírita para se despedir da forma correta dos seus protetores, lembrou que nunca se aprofundou com Cris, sobre sua religião, apenas comentou superficialmente numa de suas conversas, ia lhe dizer que era filha de Oxalá e Oxum, que pretendia fazer o santo, acreditava que não teria problemas com isso. Sua mãe, pai, irmão e Natalia olhavam pra ela próximos a cama, sorriam e aos poucos foram desaparecendo, neste momento Cris acordou, lhe deu um beijo no rosto e perguntou como estava. Aproveitou e falou da religião que seguia, Cris a ouviu sem interromper, após falar a respeito, a moça lhe disse que não seguia com afinco e fazia muito tempo que não ia em um terreiro, Lorys a convidou para conhecer o Centro que frequentava, ficaram de combinar mais pra frente. Ouviram batidas de leve na porta, era Andréia, Lorys pediu que entrasse, achou estranho a tia acordada tão cedo, ainda não eram sete horas da manhã. A abraçou, perguntou se estava bem, a sobrinha disse que sentia dor, que viu seus pais e Natalia,  Andréia pegou a medicação para dor, lhe deu com um copo com água, sentou na cama e disse que tinha retorno à Clinica para saber o resultado da Biopsia, estava agitada e com medo do diagnóstico, Cris levantou, falando que ia acompanha-la, já que Lorys não poderia ir por causa dos ferimentos, a moça protestou, mas sabia que a amada estava certa, Andréia protestou dizendo que não precisava, que pegaria um taxi para ir e para voltar, porém a hospede já estava no banho e iria acompanha-la, Lorys ficaria sob os cuidados de Marcia. A tia saiu do quarto, foi se arrumar para a consulta, estava nervosa e com medo, Lorys esperou Cris sair do banho, pediu que sentasse ao seu lado, queria beija-la, mas não tinha escovado os dentes, a moça pareceu ler seus pensamentos, a abraçou e a beijou sem restrições, a entrega foi mutua e total, foi um beijo seguro, demorado e ardente,  sabiam que havia sentimentos entre as duas, mas ainda não falaram sobre esse assunto, deixariam acontecer naturalmente. Cris levantou devagar, disse que ia buscar o café para sua amada tomar na cama com ela, Lorys sorriu e concordou, estava sem condições de sair dali aquele dia e não gostava de ficar e se sentir assim, uma pessoa inutil, mas as dores eram muito fortes. Pouco tempo depois sentiu o cheirinho do café recém passado, isso abriu seu apetite, a moça levou uma bandeja enorme, com tudo que tinha direito para um café da manhã digno de uma rainha, sabia que era coisa de Marcia, tentou levantar, não conseguiu, Cris deixou a bandeja sobre a mesa, ajudou a se acomodar na cama, levou o café até ela, fizeram o desjejum sem pressa, havia falado com Andreia que lhe disse que a consulta seria as 10 horas. No hospital Daiane estava triste pois não havia recebido visita de ninguém, se sentia sozinha e rejeitada. Quando a enfermeira entrou para ministrar a medicação das 6 horas da manhã, lhe informou que receberia alta naquele dia, sabia o que significava, iria para um presidio aguardar o julgamento, ainda não sabia se o advogado tinha conseguido habeas corpus para ela, mas pela falta de notícias deduziu que não. Estava inconformada com o que fizera, nunca perdera a razão daquela forma, se culpava, dizia a si que tinha que pegar a pena máxima para os crimes que cometera, mas ao mesmo tempo sentia desesepero e medo, sua cabeça doía, seu psicológico estava muito abalado, agradecia a Deus por ninguem ter morrido, em sua mente um pensamento era constante, na primeira oportunidade cometeria suidicio, não conseguiria viver num presidio, esses pensamentos a deixavam agitada, chamou a enfermeira falou da dor de cabeça, tomou um analgésico. Em casa o advogado, Doutor Pedro, tomava café da manhã com sua esposa, em "off" soube que Daiane receberia alta e seria transferida para o Centro de Detenção Provisória do Carandiru, permaneceria na enfermaria até se recuperar totalmente, não tinha boas noticias para ela, pois não conseguiu habeas corpus por se tratar de crimes graves, pediu exame toxicológico para comprovar o vício, no demais nada pôde fazer para ajudar, uma coisa passava em sua cabeça, nunca tinha visto um caso como aquele, em que a familia e a vitima queriam ajudar a agressora, mas não ia entrar no mérito da questão porque conhecia Andréia a muitos anos, sabia que o coração dela era enorme e generoso, agradecia por ter o privilégio de poder ver como alguém podia ser tão bondosa como ela e sua sobrinha. Em visita a Dona Mercedes, ficou acertado que aceitaria ajuda apenas para Daiane, não queria e nem precisava de mais nada, os pais dela, que viajariam de ônibus para São Paulo, agora viriam de avião, estavam ajeitando algumas coisas em casa e chegariam em dois dias. Um motorista estaria aguardando-os com Dona Mercedes no Aeroporto de Congonhas que era mais próximo a residência dela, apesar de muito humildes, insistiam em não aceitar ajuda de Andréia, mas esta estava irredutível, iria ajuda-los para estarem ao lado da filha naquele momento tão dificil para todos. O advogado tentaria fazer com que Daiane pegasse as penas mínimas por cada crime que cometeu, o que poderia ser cerca de 4 anos de prisão, já que as vítimas amenizariam sua situação nos depoimentos, iria ao Hospital acompanhar sua tranferencia para o C.D.P, ela não reagiriam bem, mas teria que erguer as mãos para o céu porque poderia ser muito pior sua situação. Após o café, Cris se despediu de Lorys e foi encontrar Andréia na sala para irem à Clinica, esta ja havia passado no quarto, deu um abraço leve e um beijo em sua sobrinha que estava com lágrimas prestes a cair, falou com carinho que sabia que tudo daria certo, mas por dentro não tinha tanta certeza e convicção do que dizia. Doutor Pedro chegou ao Hospital as 9:30 hrs, informou à recepcionista que gostaria de ver sua cliente, foi levado ao quarto que permanecia sob escolta militar 24 horas por dia, cumprimentou a policial que abriu a porta do quarto para ele, Daiane estava muito pálida, com ataduras no braço, a cumprimentou, disse que receberia alta, que o habeas corpus foi negado, até uma fiança alta que propôs também foi negada, informou que seria levada para o Centro de Detenção Provisória do Carandiru, porém permaneceria na enfermaria o que seria menos pior do que conviver com as demais reclusas, tentaria outro habeas corpus no Tribunal Superior em Brasília, porém esse demoraria cerca de 15 dias para ser julgado, a moça chorava, agradecia entre lágrimas, mas Doutor Pedro lhe dizia que tinha que agradecer a Andreia e sua sobrinha, pois nunca tinha visto e vivido aquela situação, lhe disse que seus pais chegariam em dois dias, já havia providenciado copias dos seus documentos para pedir autorização de visita ao Presídio a ela, Daiane só afirmava com a cabeça, nada falava, o advogado voltou para a recepção para aguardar a alta medica e a transferência de sua cliente. Na Clinica Andreia segurava a mão de Cris, pediu pra entrar com ela no consultório, foi chamada e as duas seguiram para falar com Doutor Cury, o médico sempre bem humorado, as recebeu, disse que havia assistido na TV o que tinha acontecido com a sobrinha e a amiga de sua paciente, Andréia disse que estavam todos bem, elas se sentaram, tinham papéis com o nome de Andréia sobre a mesa, ela sentiu um frio na barriga. O doutor Cury, expediente foi direto com Andreia, disse que os exames acusaram um tumor em seu útero, porém ele era benigno, pequeno, teria que fazer tratamento a medio prazo, ou poderia retira-lo se não pretendesse ter filhos, Cris e Andreia se abraçaram, se acalmaram, falou para o médico que se fosse menos doloroso que preferiria retirar o útero, ele concordou porque o tratamento seria com medicações injetáveis. Ele falou que poderia marcar os exames pré operatórios na recepção, passou uma lista com os exames, medicações e recomendações até a realização da cirurgia. Andréia agradeceu a atenção dispensada a ela, abraçou o medico e de mãos dadas com Cris foram à recepção para marcar os exames, neste momento recebeu uma mensagem do Doutor Pedro, informando da alta e transferência de Daiane para o presídio, sentiu um aperto no peito, pois estava muito feliz com o diagnóstico médico e extremamente triste com a situação daquela moça, falou sobre o ocorrido a Cris que também ficou chateada. Decidiram que falariam com Lorys só quando chegassem em casa, sorrindo de alívio  deu os pedidos à recepionista para marcar os exames.

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