20.2

1.1K 161 37
                                        

Sempre que fechava os olhos, eu podia ver a mesma cena das cordas se quebrando de novo e de novo repetindo até que minha cabeça mergulhasse num ciclo infinito de dor, então procurei algo que me ocupasse, talvez se estivesse distraída o suficiente não sentiria tanto os efeitos colaterais. Erro meu. Quando caminhei despreocupada por entre as prateleiras da loja de instrumentos e deslisei os dedos pelos equipamentos até chegar aonde queria, com os pacotes de cordas, eu sempre tinha o cuidado de olhar para os lados esperando que ninguém me visse. Vez ou outra eu passava por alguém da escola, e geralmente não eram pessoas que se interessariam pela minha vida ou fofocas em relação a ela, então nunca dei muita importância

Dessa vez girei nos calcanhares e vi Brandon me encarando intrigado. O ar saiu pesado pelas minhas narinas, porque ele não era exatamente a pessoa que eu precisava ou queria ver, mas mesmo assim acenei que viesse na minha direção com as sobrancelhas franzidas

— O que faz aqui? — Perguntou. Eu tinha um pacote de cortas nas mãos, e ele o uniforme azul da loja com uma guitarra no lado esquerdo do peito.

Passou pela minha cabeça que o anuncio na parede semanas atrás pudesse ter preenchido a vaga.

— Comprando coisas para a gravadora— Menti — Largou a vida de crimes, Gutierrez?

Ele sorriu diante ao meu deboche

— Meu pai anda desconfiando de onde tiro tanto dinheiro— Deu de ombros cruzando os braços finos na altura do peito. Ele atravessou para o outro lado da prateleira e fingiu não conversar comigo diante as câmeras— Não que eu esteja achando uma coisa ruim, mas não comprou nada essa semana — Concluiu

Eu mordi o lábio inferior tentada. Não deveria, mas ainda assim desejava

— Estou bastante ocupada— Não chegou a ser uma mentira, apenas a meia verdade que precisava para escapar

Minha cabeça doeu.

— Tem algo aí?

Ele negou decepcionado. Brandon vem tentando controlar meu consumo desde que comecei a comprar. Antes que eu pudesse dizer mais algo a televisão me chamou atenção pelo lugar. Era a gravadora

WS estava cercada de repórteres, paparazzi e uma única limusine estacionada em frente a porta

— Brandon — Chamei em alerta — Que dia é hoje?

Ele fitou a televisão como eu e franziu as sobrancelhas

— Quinta

— Argh, qual é a porra do meu problema? — Bufei frustrada apalpando os bolsos até encontrar uma nota qualquer e entregar em suas mãos

Então eu corri com tudo o que eu tinha, e antes mesmo de atravessar a porta eu esbarrei com Logan. Confuso, ele desviou e eu voltei a correr. Eu só esperava que Brandon não citasse nossa pequena conversa para ele

— Cuidado, Ás!

Quando vi já saltava carro adentro. Uma das maiores vantagens de se andar em um conversível era não precisar de portas porque andava basicamente em um tapete mágico com rodas e estofado caro

Tentei estacionar o carro perto das portas principais, mas as vagas estavam todas ocupadas com uma energia caótica instaurada no lugar e câmeras por todos os lados, do jornal local até blogs diretamente de New York, um amontoado de cabeças se espremia, lutando por um lugar na entrada em vão por serem barrados por seguranças. Um idiota buzinou mais vezes do que pude contar quando atravessei seu caminho ultrapassando o limite de velocidade e entrando no beco dos fundos. Vazio e sombrio como eu estava acostumada, e então deixei o carro com um pulo me esgueirando até a porta

The Little DevilOnde histórias criam vida. Descubra agora