19• Kevin

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Por que você me beijaria?
Eu não tenho nem metade da beleza dela
Você deu seu suéter para ela, é apenas poliéster
Mas você gosta mais dela
(Eu queria ser a Heather)
- Heather, Conan Grey

*
Narrado por Kevin...

Era nossa segunda semana de detenção juntos. A garota esquentadinha, a quieta e o nerd magricela, e bom... eu 

Hillsdale era uma cidade pequena, e eu definitivamente não era um monge, o que me levava ao ponto: não consigo controlar meus picos de raiva tanto quanto controlo o resto de mim. Partes minhas aceitam o fato de eu ser uma criança irritadiça, e outras simplesmente ignoram a existência da outra metade, e as cidades pequenas não perdoam, não importava o quanto eu me desculpasse todos da turma continuariam tendo medo de mim

A garota loira tinha um laço gigante na cabeça enquanto a tagarela com menos de um metro e quarenta falava pelos cotovelos com palavras emboladas e confusas. Apenas alguns meses mais tarde descobri que usava um aparelho auditivo experimental. Seus cachos eram parecidos com o da minha irmã, brilhantes e cheios de vida, apesar de amassados e aparentarem não serem cuidados ha muitos dias. Mesmo assim ela continuava linda

O garoto loiro sacou sua lancheira em silêncio enquanto eu mantinha meu bico habitual. Isso até meu estômago rocar diante ao sanduíche e as pequenas e deliciosas mordidas que ele dava aos poucos

Mal percebi quando levantei com o coração a mil até ele.

— Quero seu lanche— Apontei inquieto. O garoto sorriu amarelo nervoso, em partes por ser pequeno como um grão de areia se comparado a mim e em partes por não querer dividir o lanche

"Kevin pode ser um brutamontes, mas não é idiota" as palavras de Kim alguns anos após o episódio me reconfortam hoje em dia.

— Podemos dividir — Franzi o senho e fiz cara de poucos amigos. Na verdade não queria dividir, eu queria o lanche todo para mim. Imponente, eu levei as mãos até a mesa e espalmei a superfície.

Mesmo assim ele se negou a entregar, e então exigi novamente com um empurrão. O diretor Gutierrez sempre dormia, então já que não seria pego não vi problema algum

Estava pronto para bater nele até que pequenos dedos me cutucaram

— Isso é muito rude — A garota dos cachos disse. Cachinhos. Decidi que a chamaria de cachinhos e definitivamente seria mais fácil

Ergui apenas uma das sobrancelhas desafiando seu pequenino nariz empinado, mesmo que algo em mim aconselhasse que não era uma boa ideia.

— Ou o que? — Devolvi cheio de mim — Vai contar pra mamãe, Cachinhos?

Vi a fúria dominar seus olhos quando levou as pequenas mãos a cintura. Entendi que de imediato estava perdido, afogado em tudo o que ela me fez sentir ao ser desafiado e hoje percebo que precisava disso mais que nunca naquele momento. Uma estrela que brilhasse para que eu pudesse saber aonde ir, e qual direção seguir

— Acho melhor você não fazer nada, garoto

Perplexo, eu esgueirei os olhos. Ela era tão pequenina e ainda sim um poço de coragem... admirável, eu diria

Meu pai me ensinou que não se deve bater em mulheres, mas pouco me importava, tudo o que queria era o sanduíche, então a empurrei. Seu punho pequenino foi veloz em devolver com o dobro da força bem nos meus olhos

Cambaleei para trás com as lágrimas ameaçando a transbordar

— Eu avisei — Ela disse por fim, chegando mais e mais perto

The Little DevilOnde histórias criam vida. Descubra agora