The Little Devil

34•eu fodi tudo.

Uma hora o sonho teria que acabar, certo?

Hisdale nos esperava mais exaustiva e sinistra do que jamais esteve, isso porque haviamos ultrapassado os limites em algum ponto da brincadeira. Algo me dizia que aquilo não vinha só da festa, mas dos muitos anos de pegadinhas e trapaças que nós quatro instauramos na escola.

Para tudo que fazemos, existe uma reação na mesma intensidade. Isso é física pura.

— Vocês ultrapassaram todos os limites! — Bradou o diretor, com os olhos saltando das órbitas. Toda a turma ficou em silêncio — Eu entendo quererem se divertir na viagem de formatura, mas uma anarquia? Não sou pago o suficiente para isso!

Os pais foram chamados. Todos eles. Uma turma de pelo menos 70 alunos de 17 à 18 anos sentada esperando os pais conversarem com o diretor. Soa patético.

Aquela havia sido a primeira vez que eu via os pais de Logan pessoalmente. A mãe era baixa e loira, usava óculos redondos assim como as bochechas. O pai, alto como uma porta, barba cheia e sardas no rosto. Eu arrisco dizer que até zangados exalavam amor pelo filho.

Eu ainda estava um pouco baqueada da noite anterior. De todos os jogos, a organização, a patinação no gelo, o sexo, os esporros... oh céus o maior deles ainda me esperava.

Logan me olhou de cima abaixo em tom de brincadeira mas não disse uma palavra. Kevin sim teve muito a dizer

"Você sumiu metade da noite ontem, me deixou preocupado", disse com a voz áspera

"Desculpa", repliquei paciente

"Onde esteve a final de contas?", perguntou em um tom autoritário. Eu estava começando a me irritar

"Não vejo onde isso possa ser da sua conta"

Ele se calou e foi embora fazendo um bico. Logo o diretor nos convidou para entrar na sala e fazer os novos anúncios. Todos entraram e se acomodaram, mas meus pais não estavam lá, o que foi um alívio. Me aconcheguei perto de Charlotte e suas mães.

Quanto mais falavam mais tédio eu sentia.

— Isso não vai chegar em lugar nenhum —Lotte resmungou impaciente. Sua mãe bufou como quem concorda

Parecia que o Diretor havia ouvido o resmungo, pois logo passou a palavra ao seu superior. Aquele era o dono da escola. Ele nem sequer morava em hilsdale, o que me deixava ainda mais perplexa era o fato de que ele estava ali, já que eu nunca havia o visto.

— Bom... Boa tarde — Ele começou seguro de si. Era um homem bonito e bem arrumado, e tudo nele exalava dinheiro e poder, não muito diferente da maioria na sala — De uns anos para cá, venho percebendo algumas incoerências na escola que não condizem com nossos ideais de ensino...

Ah, com certeza ele sabia de onde vinha toda aquela bagunça. Senti os olhos azuis, quase cinzentos me fitarem, e em seguida os meus colegas. Talvez fosse apenas paranoia

— E como vocês pais sabem, Hillsdale High tem um padrão bem elevado se comparado com outras escolas da região. Somos exigentes com notas, e formamos indivíduos excelentes e seguros do que desejam para a vida — Fez uma pequena pausa — Por isso, para evitar incidentes como os ocorridos durante esse final de semana, a escola implantará novas regras. Mais rígidas e que possam talvez entrar na análise curricular de seus filhos.

Todos os pais saltaram das cadeiras. Aquilo era uma coisa de grande relevancia, que o diga, a análise curricular pode nos levar à uma faculdade, ou quem sabe nos tirar dela. Os murmuros começaram e Charlotte me encarou com os olhos escancarados.

Eu fodi tudo.

— Entre essas regras nós temos o básico, como uniformes — É sério? Uniformes mudam o que nessa situação? — Regras antibullying, um sistema melhor de vigilância para evitar intransigências e outros. As novas regras estão todas nos panfletos que vocês receberão na saída, e dependendo da gravidade poderão ser penalisados em detenção, suspensão e expulsão.

Ele continuou falando pelo que eu pensei ser uma eternidade. Estavamos fodidos.

*

Cheguei em casa exausta e encontrei meu irmão cochilando no sofá com um balde de pipoca na mesinha de centro.

— Tyler — chamei delicadamente, e ele resmungou. O sol invadia por uma fresta entreaberta da janela, mas ainda assim estava tão frio que eu nem tirei o casaco

Deixei ele dormindo e subi as escadas. Tudo estava quieto, sem brigas, sem resmungos, então parecia que meu irmão estava sozinho, exceto por Esme, que saia do quarto enquanto eu andava pelo corredor.

— Olá— Cumprimentou com um sorriso — Pensei que nunca fosse voltar.

— Aconteceu tanta coisa... — soprei como um desabafo, e ela sorriu — Onde estão meus pais?

Ela deu de ombros.

— Seu pai saiu para resolver algo da WR ontem e ainda não voltou, e sua mãe parece cansada do desfile.

— Papai não ficou com Tyler ontem?

Lembrei da ligação. Ninguém estava certo de onde estava meu irmão. Um dos dois estava mentindo e eu já tinha ideia de qual deles era.

Esme franziu a sobrancelha em confusão.

— Eu fiquei com Tyler. Ontem jogamos videogame e comemos doces a tarde toda.

Eu ri fraco, ainda perplexa com a hipótese de uma mentira saindo do meu pai. Liguei para Joshua e pedi para ele me encontrar aqui em casa, e quando o loiro chegou pedi que ele rastreasse o lugar da última ligação com meu pai.

Josh era um gênio da computação. Digo, ele podia fazer qualquer coisa com um computador e um sinal de wifi, e isso me deixava perplexa porque desde que me entendo por gente, nunca vi ele sequer comentar isso para alguém que não fosse um de nossos quatro.

A Ligação era de Massachusetts. Perto do MIT.

— O que diabos seu pai estava fazendo no instituto de tecnologia de massachusetts? — Ele indagou confuso, e me encarou em busca de uma resposta que eu não tinha, então apenas fiquei quieta. — Que eu saiba ele não é um gênio da informática

— Ele está mentindo. — Afirmei apenas o que eu e ele já sabíamos— Pode ser qualquer coisa...

— Acha que ele tem uma amante?

— Pode ser — Mordi o lábio inferior tao forte que o gosto do sangue invadiu meu paladar — Se for isso, Phoebe vai matá-lo.

— Pretende contar pra ela? — ele fitou o mapa aberto na tela do computador e tombou na cadeira

— O que faria no meu lugar?

Aquilo era uma pergunta muito
difícil de se responder, até porque nós vivemos em realidades muito diferentes. Meus pais não são como os dele. Mas uma coisa é certa. Minha vida seria um inferno se houvesse um divórcio, e a de Tyler seria ainda pior.

— Eu no seu lugar esqueceria de tudo— senti o peso daquelas palavras ecoarem na minha cabeça— Mas você não vai fazer isso, vai?