Ananda narrando
Era uma noite de sexta, eu não me lembro como, mas estava em um baile funk, rodeada por homens e armas. Minha amiga tinha sumido e eu não sabia o que fazer.
Já estava bem bêbada, não conseguia nem andar direito. Até que senti uma mão na cintura me virando, dei de cara com um menino tatuado até o pescoço, cara de mau e com um copão na mão. Ele veio tentando me beijar, mas eu não queria, tentei empurrar ele pelo ombro, mas ele era mais forte que eu e vinha pra cima toda vez que eu tentava empurrar. Senti outra mão me puxando, dessa vez era a Naty, respirei aliviada. Ela me levou pra um lugar com mais homens e armas, em cima de uma escada. Subi com muita dificuldade e chegando lá me sentei em uma cadeira encostada na parede.
Natália: Amiga eu vou ali com o PK, qualquer coisa você grita o VH - ela apontou pra um cara tatuado atrás dela que também tinha cara de mau e também tava de copão na mão. - ou me liga, eu já volto. - ela me deu um beijo e saiu. O tal VH tava mais bêbado que eu, não ia adiantar nada chamar ele se alguém viesse pra cima, então resolvi ficar ali sentada pra evitar problemas.
Mas parece que atrai, ao invés de evitar. O mesmo menino de antes veio vindo pela escada, chegou lá em cima e veio voando pra cima de mim, empurrei ele com força e gritei pra ele parar porque eu não queria. Acho que me enganei sobre o VH, porque ele veio pra cima do menino mandando ele cambar dali.VH: Minha favela não é assim... - ele passou a mão no cabelo mordendo a boca. - Cê perdoa aí a confusão. - ele me olhou, ou melhor, olhou pros meus peitos no decote do body, mordeu a boca de novo e saiu.
Ignorei completamente essa babaquice dos dois e fui pro bar pegar uma água.
Me sentei na cadeira na frente do bar enquanto tomava minha água e fiquei olhando pra tudo aquilo, não faço ideia de como vim parar nesse baile.VH: Bora, Natália pediu pra mim te levar pra casa dela que hoje ela vai dormir no PK. - que? Ela mora aqui? Me levantei cambaleando, ele passou meu braço por cima dos ombros dele pra me ajudar a andar. Entrei no carro dele, deitei a cabeça no vidro e cochilei. - Acorda carai, desce aí, toma a chave.
Ananda: Grosso. - eu peguei a chave da mão dele e vi ele olhando pro meu peito de novo. - Brigada por me trazer. - desci do carro ainda meio tonta, custei abrir a porta mas consegui entrar, procurei o quarto da Naty, me joguei na cama e desmaiei.
[...]
Acordei, olhei pro celular e eram 15h. Me levantei e fui pro banheiro da suíte, me olhei no espelho e eu tava horrível, lavei o rosto pra tirar a maquiagem, prendi o cabelo num coque e fiz bochecho com a pasta de dente. Arrumei meu short que tava todo enfiado e segui pra sala, onde eu conseguia claramente ouvir a voz da Natália.
Natália: Bom dia, princesa. - lembrei que ela tinha mentido esse tempo todo e me vi obrigada a ser ríspida.
Ananda: Oi. - olhei pro outro sofá e vi o VH e um outro homem, deve ser o tal PK.
Natália: Toma remédio pra cabeça. - peguei o copo e o comprimido sem olhar pra cara dela e me sentei no sofá tomando a água.
VH: Dormiu bem? - eu assenti e ele riu, ele sabia do estado péssimo que eu me encontrava ontem a noite. Um celular tocou no bolso dele, ele falou algumas coisas e saiu com o outro menino rapidão.
Natália: Gostou daqui? E o baile?
Ananda: Gostaria mais se eu soubesse como vim parar aqui e porque o menino me disse que aqui é sua casa, sempre que você nunca me disse nada.
Natália: Eu tinha medo de você não querer mais falar comigo, sei lá, vai que você tem preconceito com favelado. Ontem eu hesitei muito antes de te mandar pra cá, mas era o único lugar pra você dormir.
Ananda: Tá bom Natália, então você me vê como uma preconceituosa? Só porque eu moro em um apartamento em Copacabana, longe dessa realidade? Acorda, por favor! - me levantei e voltei pro quarto, peguei minha bolsa de lado e coloquei no ombro, saí cortando da casa e fui descendo aquele morro, meu Deus que negócio cansativo! Cheguei no pé, uns homens me revistaram e me deixaram sair. Fui até duas ruas pra baixo de lá e chamei o Uber. O motorista chegou bem rápido e me levou pra casa, paguei os 15 reais da corrida e entrei no prédio. Peguei o elevador pro meu apartamento, coloquei a senha na fechadura e entrei em casa.
Fui direto pra cozinha pegar alguma coisa pra comer, esquentei macarrão e comi. Escovei os dentes e deitei no sofá, liguei a TV na Netflix e coloquei HTGAWM pra rodar. A tarde inteira eu passei vendo série e comendo bobeira.
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Na rocinha - Edição Única.
Hayran KurguA história se passa no Rio de Janeiro, na favela da Rocinha. Uma menina rica de Copacabana é levada por sua amiga, moradora da favela, para um baile funk. Ela não se lembra como foi parar lá, mas desse dia em diante é lá que seu coração vai insistir...