Alma e coração

Capítulo 9

Chegando à casa dele, Nina parecia um zumbi, ele a conduziu até o quarto de hóspedes, estava literalmente com medo de que ela cometesse uma loucura. Não sabia se a instalava no andar de cima, temendo que ela pulasse de uma janela, ou se ficasse no andar de baixo e saísse na rua pela madrugada.

Ele a aposentou em seu próprio quarto, pôs um colchão no chão e cedeu sua cama para ela. Ele falava com ela, mas ela não respondia, ele tirou seus sapatos, seu vestido, a levou para o banheiro, abriu o chuveiro e a banhou ainda vestida em suas peças íntimas. A água caía sobre a cabeça dela e desfazia o penteado, seus cabelos loiros, longos e pesados estavam encharcados pela água do chuveiro quente.

Elo a enxugou, enquanto falava com Alexia ao telefone. Ele insistia que ela precisava de ajuda profissional. A assessora do casal pediu que ele não fizesse nada, informou que não podia abandonar David, pois o seu caso era ainda mais grave, mas que mandaria o médico da clínica para vê-la. Elo concordou. Eles continuariam informando um ao outro ao longo das horas que viessem, ele estava receoso do que ela pudesse fazer quando o choque passasse.

Elo a enrolou numa toalha, olhou para o lado e retirou suas peças intimas que estavam molhadas, o fez com muito respeito e com muito cuidado, podendo se dizer que até mesmo com medo.

Ele a vestiu em um de seus shorts e em uma de suas blusas. A sentou na cama, penteou os seus cabelos sem o menor traquejo, e a deitou. O médico felizmente chegou e a examinou. Elo o enchia de perguntas, e o médico o explicava o motivo dela estar assim: — Esse estado de choque em que ela se encontra, pode ser causado por diversos fatores, pouco oxigênio distribuído aos órgãos vitais, devido a traumas, choques térmicos, frio ou calor extremo, e emoções, que é caso dela. Ela está sofrendo um quadro de estresse agudo, pode durar de 2 dias há quatro semanas. Depois de um mês, pode ocorrer o estado de estresse pós-traumático. Nessa fase pode ocorrer uma desorientação temporária, que é o que ela apresenta agora.

Nina estava pálida, sua pele era fria e pegajosa, pulso fraco, pressão arterial muito baixa, pupilas dilatadas, respiração lenta e superficial, confusa, olhos fixos e sem brilho, sem contar que ela apresentou náuseas e vômitos logo após sofrer o abalo. O médico explicava os sintomas á Elo, e recomendava que ela fosse internada, mas Alexia não queria.

Elo recusou a presença de uma enfermeira, orientado por Alexia, e se prontificou para monitorá-la, ele escutou atento todas as recomendações médicas, ele tinha o contato direto da clínica emergencial se caso tivesse alguma dúvida, ou se houvesse alguma alteração em seu quadro nas próximas 24 horas, como calafrios, suor frio, ou perda da consciência.

O médico finalizava respondendo que, o trauma ainda não havia finalizado o processo de sofrimento, sua mente ainda não havia aceitado o fato. Por isso ela estava naquele estado, e ele não poderia precisar por quanto tempo ela ficaria assim, poderia durar apenas algumas horas, ou até mesmo dias, mas a medicação iria amenizar os sintomas físicos. Então o médico se foi.

Elo dormiu no chão de seu quarto aquela madrugada. Na manhã seguinte ele acordou ao meio-dia e, ela ainda dormia como se fosse "a bela adormecida"! Nem sinal de que iria acordar.

Ele tomou um banho, se aprontou, desceu, tomou seu café, e falava com o médico, que o orientava sobre não a alimentar enquanto dormia. Uma enfermeira viria a casa dele caso fosse preciso administrar medicamentos intravenosos ou aplicar soro em sua veia.

Era um domingo muito bonito, um dia de sol. Elo não ligava se ia ficar trancado em casa, ajudando uma amiga que tinha sido traída no dia de seu noivado. "Pior se tivesse sido no dia do casamento", pensava ele. "Ou não" ...

Elo e Alexia já haviam atualizado os produtores e diretores responsáveis pela produção do novo trabalho em que os dois iriam participar. Eles tiveram de contar a verdade, e Alexia estava torcendo para que essa história não saísse para o restante do mundo.