Sétimo

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Acordar com dor de cabeça mesmo sem ter bebido muito, e sim de ter pensado muito, já é ruim. Acordar dessa forma na cama do amigo, torna tudo mais estranho. E ainda tinha mais um fator para piorar; talvez Elídio só agora tenha percebido que o beijo havia o perturbado, não por ter sido uma vingança que o enjoava, não, talvez ele realmente estivesse atraído pelo amigo de... mais de dez anos?

O fato é: O hóspede sonhara que havia realmente beijado o outro, e que eles quase chegavam a... bem, ir para cama. Foi tudo confuso e desassociado– como um sonho deve ser. Mas onde estávamos mesmo? Ah, sim: Dor de cabeça de tanto pensar, acordar na cama de alguém que conhecia por anos – e que jurou ser só uma amizade –, uma ereção quase aleatória. Começamos o dia bem, não?

O moreno permaneceu na cama por um bom tempo. Ignorando a excitação e a vergonha – ele, e talvez ninguém, pensaria em se tocar numa situação constrangedora como essa. Quando finalmente levantou, correu para a suíte e arrancou as roupas ferozmente. Ligou o chuveiro e soltou um grunhido ao sentir o choque térmico da água gelada escorrendo pelo seu corpo.

Ele se sentia inexplicavelmente mal e queria sair daquela casa. Ele vestiu as roupas e desceu as escadas. A casa estava quieta, Daniel provavelmente dormia. Aquele cenário fez ele pensar em sair sem mesmo avisar o anfitrião. Elídio olhou para o sofá e não encontrou ninguém lá, mas ao olhar para a cozinha, viu o então amigo.

Dani estava de pé, em frente a pia, enquanto segurava uma maçã com a mão esquerda. Ele olhava para a fruta sem piscar. Era até estranho, e Lico não estava convencido que aquilo era normal.

– Dan...? – Falou inconscientemente o apelido, chamando pelo amigo.

Sem resposta, Lili ficou ainda mais preocupado. Ele foi se aproximando sorrateiramente. Quando estava bem próximo, pode ouvir a respiração ofegante do outro, juntou coragem e esticou os braços, agarrou os ombros do amigo, fechou os olhos, e o chacoalhou. Em pouco tempo Daniel finalmente caiu em si, e isso ficou obvio pois ele deu um suspiro de choque. Elídio pode abrir os olhos e viu o outro assustado. Lico queria falar algo, mas antes mesmo de pensar em algo, foi cortado por um abraço apertado do recém hipnotizado.

– Tá tudo bem?

– O que está acontecendo? - O mais velho parecia tão vulnerável naquele momento – Eu acordei e tava tudo diferente...

– Daniel...

– Tinha... tinha uma cabeça de boneca na minha geladeira... e ela ficava falando e eu acho que estou enlouquecendo, o que está acontecendo? - Sua voz estremeceu. – O que vai acontecer comigo?

Por mais que Elídio quisesse falar "não sou médico", aquela não era hora de piadas.

– Vamos para o hospital? - O mais novo sugeriu e foi correspondido por um aperto no abraço.

– Não... eles... vão querer me abrir, abrir no meio e me estudar... por favor, não faz isso...

– Eu...

Foi tudo que o moreno conseguiu falar – ou balbuciar –, aquela situação era tão desconexa. Os dois estavam grudados naquele abraço que parecia eterno, mas bastou uma tosse para o mais velho se separar do outro e se encolher em direção ao chão para tossir descontroladamente.

– Dan?

Elídio já estava desesperado naquele ponto, mas quando ele viu o sangue que saia junto a tosse, ele quis gritar de susto. Ele não sabia o que fazer, ele não tinha o que fazer. Foi quando seu celular tocou, e ele teve a ideia que contrariava o pedido do amigo. Ele nem viu quem o chamava – somente a letra "P" em maiúsculo e os corações rosas – só rejeitou a chamada e ligou para emergência, tremendo.

❛𝐬𝐚𝐧𝐠𝐮𝐞 𝐟𝐫𝐢𝐨 _ 𝐝𝐚𝐧𝐢𝐝𝐢𝐨❜Onde histórias criam vida. Descubra agora