Segundo

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Final de semana é conhecido pelos estudantes como o momento de descanso. Para as famílias de fé, um momento sagrado. Para as famílias sem tempo, um momento para união. Mas para um Daniel que não sabe o que fala, é um dia de correria para o planejamento do tal churrasco. Droga! Por que ele foi dar uma dessas do nada?

A pequena casa de fundo de quintal estava quase limpa, mas ainda faltava o carvão e a carne. Estava num ritmo frenético de limpeza e preocupação naquele momento. Xingava a si próprio pela ideia enquanto botava o lixo pra fora. 

Terminada a limpeza quase exaustiva da casa – "quase", pois tinha de ser. Se ele já estivesse derrotado, aí que nada iria pra frente mesmo –, resolveu tomar um banho antes de ir ao mercado de última hora, e logo seu quarto estava impregnado pelo cheiro de seu perfume amadeirado. Vestiu uma de suas blusas pretas com estampa, vestiu também o casaco jeans e saiu apressado.

Um quilo disso, dois daquilo – e não se esqueça do bacon ou terá peoblemas com certos tatuados –, voltar para casa e ascender o carvão... Daniel ainda queria se crucificar por causa de seu impulso aleatório – ele não estava a fim de ter muita gente perto dele naquele momento, mas fazer o que, né? Pelo lado bom, o carvão já estava aceso e ele tinha bebida ao bastante para esquecer os problemas... o nome... entre outras coisas.

Elídio foi o primeiro a chegar – e sem saber, seria o último a sair. O moreno ficou parado no pequeno quintal meio gramado para contemplar por alguns segundos a casa de fundo de quintal, para depois finalmente passar pra varanda cimentada e botar o fardo de latinhas  em cima da mesa de madeira em que os apetrechos usados para mexer na churrasqueira estavam – de alguma forma, alguns amigos se sentiam culpados em não ajudar.

Daniel, ao trancar novamente o portão, alcançou o outro amigo para lhe dar um abraço de boas-vindas. Elídio pode sentir o cheiro de cedro impregnado nas roupas e pele do outro, o perfume amadeirado de alguma forma era confortante.

E foram chegando aos poucos os outros, e cada um se posicionava de alguma forma: Anderson cortava a carne em tiras, enquanto conversava com Andrei que ficava churrasqueira – assim podia de vez em quando "roubar" um pedaço de carne para si, e comer antes do resto –, Bella estava sentada na cadeira dobrável bebendo cerveja com Evandro, já Marco Luque estava protestando por um mais uma porção de bacon e Elídio lutava para abrir mais um fardo de cervejas junto a Marianna.

  A sensação de agitação soava melhor do que prometia. Era estranho ouvir as vozes e risos e se sentir bem com isso. O cheiro de carne defumada parecia um pouco mais especial quando se espalhava pelo quintal com ajuda do vento. A grama verde, o azul do céu e todas as outras cores que estavam no alcance do olhar de quem parava na porta da frente da casa de fundo, todas pareciam mais fortes e vivas. E mesmo com o humor abatido, Daniel ainda conseguia aproveitar um momento entre vozes, risadas e reclamações conhecidas.

[...]

  – Topam?

A voz animada de Anderson se desatacava na rodinha de conversa. Já estava anoitecendo quando resolveram fazer uma rodinha no lado de fora da casa para papear e comer o resto da carne:

  – O jogo está lá no carro – continuou como se fosse o ponto alto da festa –, sei que não somos mais jovens, mas vai ser divertido.

  – Não somos? – Luque protestou levantando a latinha de cerveja que segurava na mão esquerda – Fale por você!

  – Desculpa, mas... do que estamos falando mesmo? – Daniel estava perdido em seus pensamentos e acabou, também, por se perder na conversa.

  – O Andy trouxe imagem&ação e está perguntando se queremos jogar – Elídio explicou com calma, mesmo quase tropeçando nas palavras.

  – Bem, eu num vou – Bella estava claramente bêbada.

– Okay, Okay. Quem não for jogar diz, para podermos juntar os pares – Andrei disse de forma dinâmica.

Em poucos segundos, Anderson já estava lá com o a caixa que guardava o jogo. Todos se levantaram dos assentos dobráveis e se dirigiram à sala de estar. 

Andrei, Marianna, Luque e Evandro – nessa ordem – se sentaram no sofá, enquanto Bella se sentou no braço direito do mesmo. Daniel pegou uma cadeira da mesa que ficava ao lado do sofá marrom aveludado e a apontou para o mais alto botar a caixa de jogos. Elídio se sentou no chão, de costas para a tevê e de frente para os amigos, Daniel se sentou ao seu lado e só sobrou Anderson de pé, arrumando o jogo.

  – Certo – Andy pausou a fala olhando para os peões com dúvida. Pegou o verde e se virou para o grupo que o esperava pacientemente – Quem não vai jogar?

  – Eu não acho que sou muito bom nisso... – Evando disse quase timidamente e Bella se inclina para ele.

  – Então vamos só assistir! – A garota fala de maneira divertida, fazendo o careca sorrir francamente.

Ninguém mais se manifestou, então Andy continuou:

  – Quais vão ser os pares? Eu e Elídio já somos um! – A declaração fez o do chão rir e piscar para o de pé.

– Eu posso ir com o Daniel – Luque apontou para Dani, que acenou com a cabeça.

– Vamos ser um par então – Marianna disse, olhando para Andrei.

E cada um escolheu um peão. Marco pegou o azul e Andrei decidiu ficar com o amarelo. A ordem seria: primeiro Andy e Lico, depois Mari e Andrei e por fim Marco e Dani. Antes de começar, o mais alto se pronunciou:

– Iremos jogar sem muita regra, okay? Só rolaremos o dado e veremos uma cartar o resto vai ser ignorado.

– Anw... – Elídio fez biquinho.

– "Anw" o quê? A maioria aqui tá bêbada inclusive você, daqui a pouco nem jogar vai dar mais – Retrucou o mais alto.

– Falando nisso, vai me dar uma carona, né? – Bella se referiu a Anderson que não tinha bebido.

– Eu vou? – Respondeu em pergunta, num tom quase irônico.

– Vou de Uber. É mais fácil – Elídio constatou, e riu soprado da sua afirmação logo em seguida.

– Não me lembrava dessa parte do jogo... – Daniel riu da situação.

– Parem de mudar de assunto, caralho – O tatuado cuspiu sem muita paciência.

– Vamos jogar ou não? – Marianna protestou, talvez meio confusa.

Anderson jogou os dois dados, ignorando a alvoroço. O primeiro dado caiu no M (Mix) e o segundo caiu no número quatro. Tirada a carta, o de barbicha foi para o meio e todos olharam para ele. Arqueou as costas para frente, dobrou os braços e começou a levanta-los e abaixa-los repetidamente, e em poucos segundos Elídio gritou "galinha!" e os pontos foram marcados.

O revezamento começou, alguns temas eram fáceis, outros "D" de difícil, alguns desistiram e Andrei protestou indignado quando a carta que tirou queria que ele fizesse em mímica, o Parque Ibirapuera.

Mais uma rodada e era a vez de Elído, o moreno rolou os dados, pegou uma carta e se levantou pensativo. Começou fingindo uma tosse  ("gripe?" – "não"), depois se encolheu tapando a barriga como se tivesse cólica ("dor de barriga?", também não), botou a mão na testa e fez uma careta e fingiu tossir novamente, foi quando Anderson gritou: "doença!" – e ele estava certo. 

Elídio se sentou, satisfeito e Daniel se levantou dizendo que ia no banheiro. 

No banheiro, Daniel olhou fixamente para seu rosto no espelho, enquanto pensava repetidamente no colega falando a resposta certa – "doença" –, e pôs se a respirar pesadamente. Ele não sabia até onde podia esconder a tal de seus amigos – e nem sabia se queria. Ele só conseguia sentir uma coisa naquele momento: frio.

O resto da noite foi um par de flashes e risadas junto a aflição constante.


Notas do autor: Por algum motivo eu quis deixar a fanfic o mais realista possível, e mesmo sabendo que o Dani tem rinite,,,,, eu não tô nem aí

EU IMAGINO ELE COM PERFUME AMADEIRADO E PONTO

E eu sonego vírgulas e impostos, como toda boa pessoa, claro.

❛𝐬𝐚𝐧𝐠𝐮𝐞 𝐟𝐫𝐢𝐨 _ 𝐝𝐚𝐧𝐢𝐝𝐢𝐨❜Onde histórias criam vida. Descubra agora