Você pode ignorar o amigo, a namorada, o parente; mas não pode ignorar a mente – essa sim, te conhece e sabe como te perseguir.
A mente – Ir
Elídio abriu a boca e nada saiu. O olhar de Daniel o perfurava. O silêncio era alto. A mente gritava.
– Não vai responder? - O mais velho implicou.
– Eu não acho que seja necessário. É claro que eu confundi as coisas e... – Elídio se conteve a continuar. Que merda ele ainda estava fazendo ali? Ele precisava se salvar – Me desculpe por ter sido um incomodo.
Sanna deu as costas para o doente. Ele caminhou firmemente até a porta e, mesmo descalço, foi direto pra rua.
O moreno caminhou sem olhar para trás. Caminhou por mais de uma hora, tentando arranjar um rumo pelas ruas da grande São Paulo. O que acordou ele desse transe de "só andar" foi seu celular que – por sorte – estava em seu bolso.
Elídio nem olhou o contato só atendeu:
– Alô? Elídio?
– Sim?
A linha ficou em silêncio por alguns instantes.
– Caralho, tu tá vivo? Que merda, que merda.
Elídio teve um choque de realidade ao ouvir a voz da namorada, ele parecia ter esquecido de sua vida externa durante a estadia na casa de Dani.
– Meu deus, por que não atendeu minhas ligações? Primeiro achei que era estava ocupado, mas você não retornou, depois quando eu tentei novamente, tu desligou outra vez. O que rolou?
A voz feminina tinha fúria e preocupação. Enquanto isso, o moreno tinha lágrima em seus olhos.
– Responde, porra!
– Me desculpa...
Lico respirou fundo e tentou pensar o mais rápido possível.
– Eu tive um começo de férias meio ruim... o Dani confirma.
– Você tá bem?
– Pode mandar alguém me buscar?
[...]
Finalmente o grupo teria que se reunir novamente. Era o início de mais uma temporada no teatro.
Andy parecia feliz e descansado – e ainda fazia comentários do show que vira com os amigos. O resto do pessoal também parecia feliz em estar reunido novamente. Mas Elídio parecia agoniado, inquieto. Daniel não havia chegado. Teria o pior acontecido?
Lico se sentia mal por ter deixado o amigo e não ter mais tocado no assunto desde então. Entretanto, se sentia sortudo por sua namorada não ter terminado com ele e ainda ter saído vivo daquela situação.
– Finalmente! – Anderson correu para a entrada do camarim.
O olhar de Elídio foi parar – com surpresa – em Daniel. O mais velho estava lá, vivo.
Nenhum dos dois ousou tocar em nada que haviam passado. Eles pareceram agir normalmente, mas Elídio ainda sentia algo pelo toque do mais velho – uma repulsa e uma atração, ambas causadas pelas memórias.
No fim, o moreno pareceu se sentir sortudo. Sortudo, pois mesmo que não tivesse ficado com o amigo, no final das contas era como se estivessem casados desde a formação do grupo. Um casamento a três – mesmo que quisesse excluir o mais alto.
Na mente do mais novo, eles ao menos estariam juntos: na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, até que a morte os separe.
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❛𝐬𝐚𝐧𝐠𝐮𝐞 𝐟𝐫𝐢𝐨 _ 𝐝𝐚𝐧𝐢𝐝𝐢𝐨❜
General Fiction« Mas todos temos que enfrentar os problemas alguma hora - ou dormir pra sempre, quem sabe. » ❆ O frio. O sangue. A mente. Amor é como uma doença e, nesse caso, o doe...