A queda da rainha

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"O que fizestes com você... minha rainha, tantos nomes, tanto poder reduzido há meras correntes de metal "

Todos os dias escutava os mesmos ecos na escuridão enquanto estava suspensa por correntes frias na prisão embaixo do teu castelo, que outrora havia uma rainha. Agora só poderia escutar os gritos de seus súditos suplicando pela grande misericordiosa, que havia sucumbido ao poder da justiça cega.

"Como estás, minha rainha? Teus punhos de ferro ainda doem?"

Ela não conseguiria responder nem que pudesse, estava muito fraca para dizer qualquer coisa. As correntes que a mantinham suspensa estavam cada vez mais gélidas devido ao inverno que acabara de chegar. Não conseguia ver, mas sabia que a neve começará a cair lentamente, enquanto a temperatura já havia despencado naquela cela tornando um verdadeiro inverno cruel particular.

A voz doce que conversava com ela todos os dias estava ali mais uma vez, fazendo promessas vazias, porém tentadoras, mas a Dama de Ferro- agora assim chamada- já havia caído nas tentações de uma sombra que sussurrava toda noite em seu ouvido.

"Não apavoreis, minha soberana, após o cair do sol cruel virá a lua sangrenta e junto tua liberdade perante o poder concedido do Cervo de marfim. Tu irás sentir o gelo sem queimar em ti, irás enxergar novamente sem precisar abrir teus olhos..."

A rainha gélida- assim chamada pelos seus súditos antigamente- tinha tal nome por conta de sua apreciação pela estação, era o único momento na qual saia de seus aposentos reais e andava pelo reino oferecendo regalias para o seu povo. Mais tarde seu nome mudou para a Donzela de ferro, devido às experiências concedidas por um cientista vindo de uma cidade, de ferro e fogo,  junto com uma senhora curiosa e desaparecida. Este cientista  que transformou a rainha em uma criatura fundida ao ferro e fogo dando-lhe o poder do aço.

Sua pele era como a noite, um manto escuro com pequenas estrelas branca que aos poucos iriam consumindo o manto escuro, por causa disso gostava do inverno, era a única estação que não machucava sua pele estrelada. Depois da transformação, sua pele se tornou bronze e prata.

Sua cela havia se tornado uma verdadeira câmara anecoica, as pedras presentes no ambiente pareciam absorver todo o som e eco produzido deixando apenas o nada. O silêncio era enlouquecedor, ela podia sentir seu coração batendo e o barulho do sangue correndo por suas veias.

Tum... tum... tum... Era o seu coração batendo cada vez mais fraco. Era um dos poucos sons que ecoavam dentro da sua cabeça. Os ossos, devido ao frio, rangiam e tremiam criando um som repetitivo e agudo entorpecendo sua sanidade.

As vezes gritava para espantar os sons, mas eles sempre voltavam quando o silêncio aparecia. Eram os sons enlouquecentes de seus órgãos. Apenas um som era o seu resguardo de sanidade, era aquela voz que vinha da escuridão e sumia junto com ela.

Por muito tempo a governou até ser traída pela justiça alada, que lhe tomou o poder e a prendeu para definhar no frio e no metal do seu túmulo congelado. Agora estava mais perto do que nunca do teu fim, poderia se dizer que estava quase sentindo os dentes afiados da fera da morte rasgando sua pele enquanto a flecha da serene saltadora branca a levava em paz.

Não sabia dizer quantos meses estava ali, e, ou, o que tinha acontecido com suas irmãs de reino, a justiça alada havia prometido acabar com elas também, mas a rainha as traiu primeiro levanto as terras dos reinos inteira a escuridão. Junto com a escuridão das terras, veio a da tua visão, a rainha jamais poderia voltar a ver a tua coroa.

Um suspiro ecoou pelo ambiente, era aquela voz, ela se fazia presente em seus últimos momentos. Mesmo sacrificando seu reino para a escuridão e renascendo como uma criatura de ferro, a imortalidade era um privilégio para divindades.

"ABRA-TE OS OLHOS! TUA HORA CHEGOU"

A cela havia tremido com a grande voz. Era uma voz que emanava puro poder, sua energia era intensa e parecia que estava ali presente perante a rainha suspensa.

"o cervo de marfim está a tua espera, venha até nós. O grande poder a aguarda, sábia visionária"

Foi a última coisa que tinha escutando antes de sentir o metal frio se partir deixando-a livre de encontro ao chão de pedras frias, onde flores do inverno nasciam e pareciam esperar a queda mortal da Rainha.

O ar até o chão parecia plumas que abriam caminho em sua queda livre, o tempo parecia correr devagar e ao mesmo tempo rápido. Dessa vez não conseguia ouvir o barulho nem do seu coração, era como se nem ele acreditasse no que estava acontecendo. Era uma queda livre de pelo menos cinco metros.

O chão foi muito caridoso aparando sua queda, primeiro seus joelhos foram partidos, ela conseguia sentir suas ligações se rompendo rapidamente trazendo a agonia e o sofrimento em seus gemidos. Seus braços metálicos se partiram deixando seus pequenos ossos que restaram dos membros superiores à mostra no chão. Seu rosto se abriu com um perfeito buraco sangrento, encharcando o chão com um líquido morno.

Não podia enxergar, mas se pudesse a última coisa que veria era o chão cinza tornar-se vermelho.

Congregação das BruxasOnde histórias criam vida. Descubra agora