Alvorada

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Os presságios de um novo mundo já podiam ser vistos de longe, os Cavaleiros do Eclipse iam de cidade em cidade trazendo consigo a promessa de libertar a terra que um dia foi amaldiçoada.

Templos foram erguidos com estátuas santas para que todos pudessem rezar e venerar o único verdadeiro salvador, a maioria delas ficavam em praças de diversos reinos e cidades.

A população era mais silenciosa do que imaginava, crianças não brincavam na rua, não havia conversas na porta de casa, será que era por conta da chegada dos Cavaleiros? Não, ela duvidava disso, já que recebeu uma denúncia de bruxaria.

Estava quase na hora de ir, mas antes foi chamada no templo que estava sendo construído alguns metros de distância da praça. Centenas de homens de outros lugares distantes estavam trabalhando na construção do lado de fora, enquanto dentro havia enormes pilares e vitrais coloridos por toda a parte, eles contavam a história de como os Templários nasceram e de como purificariam o mundo.

Um homem estava sentado numa espécie de cadeira especial com uma mesa adornada com cálices e um livro gigante empoeirado, era seu mestre, aliás, do reino inteiro agora.

— Sabe por que te chamei aqui? — ele levantou uma mão e para chamar a atenção. Era incrível como todo mundo daquela sociedade tinham tantas joias, seus dedos eram praticamente de ouro e pedras preciosas graças aos seus anéis.

— Sim! Sei da missão e do que tenho que fazer. — ela se curvou, mesmo com toda aquela armadura que parecia pesada, ela tinha facilidade em fazer qualquer movimento.

— Então lembre-se: Só há um único e verdade salvador — ele movimenta a outra mão em sinal de aproximação, mas não era para mim. Uma mulher entra com uma bandeja de prata para servir chá para ele. Sua sombra parecia andar em direção oposta assim que ela apareceu. — Assim que encontrar, mate-as.

— Querido, mas você disse que ia apenas prendê-las para... — a mulher se propôs a falar, mas logo ele levantou a mão e ela se calou.

— Você entendeu? — Ele ergueu uma sobrancelha e eu assenti — Vá!

Me levanto e ergo meu escudo, tiro minha espada de metal escuro, igual ao resto da armadura, e sigo meu caminho em direção a congregação.

A cidade estava escura e fria, os moradores do reino já haviam se recolhido, mas podia sentir alguns olhares pela janela, a maioria de medo e de julgamento.

Sigo por becos e entre becos até sair numa praça isolada, acredito que era a mais afastada de todo o reino, havia algumas casinhas ao redor, todas tinham tábuas nas janelas, por que?

A lua no céu era praticamente a única fonte de luz daquela região, o que me fazia pensar nela. Não! Digo em minha mente, não posso me distrair!

Um barulho dos fundos de uma casa me chamou a atenção, caminho lentamente para ver o que era, mas não encontro nada. A casa estava escura e com todas as janelas cheias de tábuas, sem contar que era a menor casa, não tinha como alguma congregação se reunir nela.

Estava tudo silencioso demais, estava em alerta, poderia sofrer um ataque a qualquer minuto ou talvez realmente não houvesse ninguém.

O vento uivava naquela noite sombria e é como se ele sussurrasse no meu ouvido palavras aleatórias para que eu retornasse, mas algo me dizia para ficar. O mesmo som cortou o silencio e me fez olhar em direção a casa, algo não faz sentido.

Derrubo a porta e não há nada além de poeira e móveis velhos por todo lado, caminho pelo chão de madeira até chegar num corredor escuro, uma sombra escura parecia apoiada na janela, ela olha para trás e salta.

Ela estava fugindo. Sabia que eu viria.

Corro o mais rápido que posso e invoco o poder do escudo, ergo-o na minha frente e atravesso a parede com a força de uma manada.

Não havia uma, ou duas, eram várias, mulheres e crianças que corriam em direção a floresta em busca de resguardo.

Palavras soltas ao vento me atordoaram e uma corrente de energia envolveu meu corpo em forma de sigilo, desenhos estranhos saltavam pelo ar e me impediram de correr atrás delas. Uma delas havia se aproximado e havia me conjurado um feitiço, ela correu em direção as outras e me largou para trás, seu objetivo era apenas me atrasar, era um plano de fuga planejado.

Havia um informante.

Não podia deixá-los escapar, sentia a energia quente percorrer meu corpo e ir até minhas mãos, que segurava a espada com todo afinco. Um brilho preencheu os sulcos do metal escuro da lâmina mortífera e então foi quando ergui a espada para o alto.

— OS CÉUS SE ABREM! — Ela gritou e toda aquela energia concentrada caiu dos céus em direção a terra, atingindo todos aqueles que fugiam com um feixe luminoso. A conjuradora que me prendeu foi arremessada para trás, por pouco não se foi junto.

Quando a luz cessou, só haviam corpos ao chão, chamuscados e perfurados pelo poder invocado dos céus.

Finalmente estava livre das amarras demoníacas e aquela que me prendeu estava aflita observando aquela cena de purificação. Ela se levantou e me encarou.

— O que... você fez? — com um peso no olhar ela avançou em direção a floresta deixando um rastro de sombra para trás que sumiu em alguns segundos.

— Retorne a terra, conjuradora! — Disse ao ver ela fugir. Aquela silhueta, aquela sombra... era ela no templo, ela estava com a informante.

Uma luz retorna a minha mente, tenho que informar ao meu mestre!

***

A cidade estava mais movimentada que o normal, principalmente pelo horário. Já estava tarde e havia uma grande concentração de pessoas na praça principal, uma luz alaranjada tremulava lançando sombras dançadas em meio a multidão. Houve uma execução em praça pública, alguém foi queimado a fogueira.

Vou direto ao encontro do meu mestre reportar a missão e avisá-lo do informante, subo os degraus de pedra da entrada e passo pelos cavaleiros na porta. Ele estava de pé tomando vinho um cálice dourado, parecia mais animado do que nunca.

— Você retornou, então quer dizer que foi um sucesso sua missão — ele exclamou sem mesmo ver que era eu entrando — A sensação depois de uma purificação não é... excitante?

— Sim... — respondo — Mas tenho que te informar sobre um...

— Informante? Sim, já imaginava — ele tomou um gole e se virou para mim — depois que você saiu, um guarda viu alguém de capuz saindo pelos fundos.

— Então você sabe que é ela? — sinto um aperto no peito.

— Sim — ele parecia sem uma gota de remorso — já dei um jeito também

A execução na praça!

— Não se preocupe, foi pelo bem do mundo — ele se aproxima. Sua presença era imponente e seu hálito tinha cheiro de vinho, aquilo revirava meu estomago, sua frieza era quase sólida e era uma extensão de si — aliás não somos tão diferentes, também soube que perdeu seu grande amor... não, é, Leona?

Congregação das BruxasOnde histórias criam vida. Descubra agora