Ébano

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Após sua irmã, Lissandra, responder ao chamado, a outra bruxa começou sua jornada até a floresta de pedra, onde árvores que cresciam com magia foram mortas e secaram até seus troncos escuros se tornarem um sólido comum. As arvores são enormes podem tocar os céus com seus galhos secos que refletem a luz com suas superfícies geométricas e lisas, eram quase como uma obsidiana com superfícies lisas como espelhos.

Ao andar pela floresta petrificada tinha que ter cuidado por conta dos focos de luz que eram criados, alguns poderiam incinerar uma pequena formiguinha, outros poderiam incinerar uma vila inteira. A bruxa movimentou tuas mãos pálidas sobre sua cabeça e lentamente uma aura escura tomou forma ao redor de seu corpo, formando uma cúpula que a protegia dos perigos da luz.

A floresta petrificada quase não tinha iluminação, devido que a maior parte dela era refletida de volta ou transformada em pontos focais, a pouca vida que existia ia ser morta em algum momento. O cheiro de queimado era intenso, provavelmente era algum animal desavisado ardendo.

Finalmente havia chegado no local destinado, haviam ossos partidos por todos os lados, com marcas e queimaduras ,como se alguém tivesse tentado corta-los e depois foram queimados pelas luzes.

Uma grande árvore estava logo a frente da bruxa, prolongamentos saiam dela como se alguém estivesse sido fundido ao seu tronco escuro. O seu feitiço de proteção se dissipou aos poucos, agora só precisava de cuidado ao se aproximar daquele tronco.

A árvore era fria e áspera, algumas partes tinham uns sulcos internos que prendia a luz e a refletia num eterno zig zag. Ao tocar a árvore sentia que algo fluía além da seiva, um coração batia e uma mente sombria e inquieta aguardava o despertar.

Com alguns passos de recuo, a bruxa ergueu tuas mãos enquanto pronunciava palavras antigas, palavras que se perderam no tempo de um idioma de pura magia divina. O solo abriu-se em pequenos caminhos que iam tomando formas geométricas criando um círculo que emanava um brilho avermelhado e sombrio que logo foi incorporado pela árvore.

As fendas que preexistiam no tronco, agora refletiam a luz vermelha, que batia e rebatia nas superfícies e logo iam criando novas fendas. Pedaços do tronco começavam a se soltar aos poucos liberando a luz que foi aprisionada por anos, uma respiração ofegante estava a tomar o ambiente.

Algo estava despertando, ela podia sentir e era poderoso.

Um empurrão a surpreendeu e a jogou longe fazendo com que batesse numa árvore e caísse no chão sem ar, tentou levantar, mas ainda estava atordoada pelo impacto.

— Bruxa... — uma voz rouca e grave rosnou em sua direção. Ele girou sua lança e cravou na árvore que ela conjurava o feitiço, esperava atrapalhar.

— Criatura ínfima— ela se levantou atordoada e direcionou o olhar para a criatura e cuspiu no chão.— Hecarim!

— Sabemos que estão vivas!— ele balançou sua cabeça com chifres e chutou o solo com seus pés de cavalo. — você definhará em minhas mãos.

Sem nenhum tempo para reação ele puxou a lança e avançou em direção a bruxa que ainda estava se recompondo. Girou sua lança no ar e atacou, ela que ainda tentou usar seu escudo novamente, mas foi lançada ao ar e caiu perto da árvore que havia conjurado o feitiço.

A criatura híbrida de homem-cavalo com sua armadura feita com o mais resistente do sabugueiro estava orgulhoso de si. A primeira faísca seria destruída, ele mataria a bruxa.

— Parece que a Congregação não tens mais poder —Zombou enquanto se aproximava da bruxa caída. Ela não respondeu apenas levantou seu olhar sombrio para a criatura híbrida e soltou um pequeno riso.

— Guardião das florestas, não entre em vosso caminho, não destruiremos nossa florest...

— NOSSA... floresta, as bruxas só trouxeram desgraças para ela! Graças a vocês somos caçados — ele a interrompeu enquanto se aproximava com o trotar abafado pelo ódio. — Somos punidos! Nossa magia está sendo APAGADA!

— Sabes muito bem quem revelou os segredos da floresta... onde estás teu guardião, Bar...

— NÃO! NÃO PRONUNCIE O NOME DELE EM VÃO! — Ele girou tua lâmina e avançou em direção a ela afim de perfurar seu coração e arrancar tua cabeça, mas a bruxa o prendeu num círculo de magia. Incrédulo, ele se perguntava como ela ainda tinha força para pará-lo. — SOLTE-ME! SACRIFICAREI A TI COM MINHA LÂMINA!

— Pergunto-me, quais são os planos do carneiro de Ébano? — A bruxa levantou-se e sorrio para o Antigo guardião que gritava e rosnava em idiomas perdidos no tempo, ela se aproximou perto o suficiente para encará-lo e não ser atacada pela sua lança.

— IREI MATÁ-LA EM NOME DO... SABUGUE... — Ele estava fora de si, sua fúria foi seu erro.  As vezes um segundo faz toda diferença, foi o tempo suficiente para a árvore ruir e libertar a prisioneira das lâminas que girou no ar e usou suas pernas afiadas como uma tesoura para cortar primeiro as patas e depois, como uma grande guilhotina, desceu sobre a cabeça de Hecarim.

Um líquido viscoso, mas não vermelho, tomou conta das lâminas que ficavam no lugar das pernas, lâminas tão escuras quanto tua pele agraciada pelo poder do Ébano, em sua cabeça um adorno de chifres enrolados presenteado pelo próprio carneiro da noite.

Com um olhar de desdém ela encarou a criatura morta e retrucou "complacência leva a morte" e perfurou a armadura impenetrável, ou quase, destruindo-as em pedaços e mais liquido viscoso jorrou do corpo fatiado.

— Sacrifício... aos Deuses... — disse a bruxa que observava a mais antiga delas se orgulhar de matar um dos guardiões do sabugueiro. Um ronco abafado ecoou como se várias vozes gritassem em uníssono.

Havia sido fácil demais e ela sabia disso.

Elas caminharam até estarem uma do lado da outra e então se encararam.

— Morgana...

— Camille...

Nomes são poder. Estejam vivos, ou mortos.

Congregação das BruxasOnde histórias criam vida. Descubra agora