CAPÍTULO I

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"Pegue mais um pouco para conseguir ficar acordada, sim, sim
Ela estava ocupada cavando seu próprio túmulo"
The Walls, Chase Atlantic

⠀⠀⠀Sempre tive a certeza de que sou uma pessoa inamavel.
⠀⠀⠀Quando nasci, não tinha ainda a capacidade de saber, mas sei que senti, com cada cromossomo, fio de cabelo ralo e todo o vêrnix branco cobrindo minha pele nova. Eu não era bem-vinda.
⠀⠀⠀Nascer com o tópico desprezo já com sublinhado em linhas vermelhas, é como nascer nati-morto. Ninguém conheceu você o bastante para realmente arder na dor da saudade.
⠀⠀⠀E ainda sim, estou viva, mesmo sem parecer.
⠀⠀⠀Cresci em Sokcho, na Coreia do Sul. Mamãe e vovó trabalhavam na peixaria da família, é muito difícil recordar daquela época, porém consigo observar flashes.
⠀⠀⠀Minha vó me achava uma criança imbecil, demorei muito a aprender falar - que foi aos seis anos -. Então como uma solução fortificante, a senhora tinha consigo um evento marcado de todos os dias, com suas mãos ágeis, pegava cabeças de peixe (na maioria das vezes, não muito própria pra consumo), fervia em água quente, com ervas as quais não podia ditar o nome, depois de um tempo no fogo, o líquido retinha uma espuma branca e um cheiro fétido.
⠀⠀⠀Aquele licor danoso, descia por minha guela como obrigação e em consequência, meses e meses de intoxicação alimentar me cercaram. Eu prevalecia no fio da saúde e no despencar da morte.
⠀⠀⠀Minha mãe não era boa também, era estressada.
⠀⠀⠀Era...

⠀⠀⠀Meu celular vibra sobre o edredom branco, ignoro totalmente, focando meus olhos nas páginas amareladas da minha nova edição de Kill Switch. Com a certeza de que a dissociação está mais próxima que a realidade.
⠀⠀⠀Estou entrando no limpo das memórias.
⠀ ⠀  Meu celular vibra mais uma vez.⠀

⠀⠀⠀Devo mudar minha conclusão, estou sendo muito crítica.
⠀⠀⠀Sou amada, talvez.
⠀⠀⠀Noto que sou amada, todas as noites, com suspiros súplicas e jóias de invejar, em camas luxuosas, ofurôs exalando frutas vermelhas, dentro de carros com vidros negros, ou em lugares onde não se pode realmente amar. São muitos que me amam, mas apenas os que tem dinheiro no bolso. Eles fazem de mim algo que não posso ser naturalmente. Invencível.
⠀⠀⠀Em alguns dias, penso sobre todos esses rosto que aparecem no meu dia a dia e vão muito mais rápido que chegam, eles tem alguém? Eles almejam tanto algo, que precisam pagar? A espontâneadade de conhecer alguém, é um grande nada? O tempo é rápido demais para encontrar uma simples companhia pra um jantar?
⠀⠀⠀ De alguma forma agradeço pela solitude, presente na vida das pessoas medíocres com os bolso cheios de dinheiro. Naquele vão do nada em suas mentes sagazes, eu me encontro, me encaixo e torno alguém importante. Consigo o que quero pela força árdua da dor.
⠀⠀⠀Isso acho ser o pior de tudo, dentre várias coisas boas - luxo, o sentimento de permanecer - existe ainda a dor latente que cresce no meu peito, faminta de um pouco de humanidade, carente de ser normal, querendo ser limpa e pura, e falhando sempre. Ela me aquece tanto que me faz derreter, mas meu corpo está em uma espécie de anestésico. O machucado se cala com uma simples ação, mas sempre volta.
⠀⠀⠀Então espero que aconteça com cada um daquelas mulheres que me rodeiam, que desfrutem da minha mesma situação.
⠀⠀⠀ Quero que alguém entenda como é estar aqui, quero que diga que não é uma vida sozinha, que o esforço vale a pena, que a pureza não é nada comparada ao ser. Ser grande em todos os aspectos.
⠀⠀⠀Existe o porém encurralando todas nós.
⠀⠀⠀Nós, almas pecaminosas, estamos acostumadas com a pele repuxada, a dor crepitando a carne, nos queimamos no fogo ardente da própria lembrança, e dançamos nas ruínas do pior pesadelo.
⠀⠀⠀ Nós fazemos bem, como ninguém mais pode fazer, e mesmo assim continuamos más, naquele interior apodrecido.

Dançando com a Morte | 𝘱𝘢𝘪𝘯, loss and loveOnde histórias criam vida. Descubra agora