Um começo.

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Outro dia amanheceu, "domingo". Não sei porquê mas detestava, não tinha aulas, o dia super calmo, era entediante. Se calhar sabia bem porquê. Tudo bem que adorava ficar em casa mas o dia por si só era aborrecido.
Foi só fazer as tarefas domésticas, o tão longo almoço em família que já estava de volta ao quarto, com auriculares, música alta e as redes. Passava maior parte do tempo com Ayana, tínhamos praticamente a mesma idade, gostávamos das mesmas coisas, igualzinhas uma da outra,  conversámos muito e não me sentia sozinha.
Estava só andado à toa pelas redes. Uma coisa que não acontecia todos os dias, prestei atenção nas solicitações de amizade. As redes tinham se tornado completamente chatas, já não falava com ninguém e passava mais tempo partilhando posts. Era exatamente o que estava a ver, a solicitação de amizade de um rapaz bonito, achei interessante. Aceitei logo.
Ele puxou no mesmo momento, e por algum motivo aquilo mexeu comigo, tudo bem que nem o conheço mas, ele é bonito, não tinha como não imaginar coisas com ele. Que paranóica!
Pusemo-nos a conversar e aquilo era tão fácil, de onde vinha tanta conversa?
O assunto fluía naturalmente.  Interessante.
- Que conselho darias para ti à uns dez anos atrás? - perguntou ele.
Como ele pensou nisso?
Nem faço ideia do que responder.
Não que nunca tenha feito nada de errado, é só que é tanta coisa que não sei o que realmente queria que mudasse ou se ouviria o conselho, eu acabo sempre fazendo o que quero ou nunca sei o que quero. Era tão dependente psicologicamente  dos meus pais, tudo bem que certa parte da vida dependemos sim deles mas, com o tempo vamos nos desprendendo deles e começamos a pensar por nós até que ganhamos a independência total de nossas vidas. Mas eu ainda não começava a me desprender, meus pais ainda tomavam decisões sobre tudo em mim, a minha vida toda nunca tomei uma decisão por mim mesma, eu pensava que era por ser criança ainda mas, por mais que crescesse continuava dependente.
Me dei conta que estava a falar comigo mesma. Outra vez. Me pergunto se era a única pessoa que se perdia em pensamentos e ficava mais tempo conversando comigo do que com outra pessoa.
- Hm, não sei, talvez que nunca deixasse que outras pessoas mudassem a opinião que tenho sobre mim. - respondi.
- E elas mudaram? - perguntou.
- Quem? - perguntei.
- As pessoas.- respondeu ele.
- Que conselho você daria para ti à uns dez anos atrás? - perguntei.
Se estava a fugir do assunto? Sim estava.

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