Finalmente o sino tocou e já podíamos ir para casa. Não tinha som melhor de se ouvir quando estávamos em aulas, o toque do sino era libertador, e gerava confusão os alunos ficavam loucos quando o sino tocava, não aceitávamos esperar nem um minuto à mais depois do toque. Engraçado!
Olho para o relógio, certamente pelas horas que eram meu pai já estava do lado de fora do colégio a espera de mim. Merda!
Tinha dias que detestava porque queria estar um pouco mais com meus amigos depois das aulas, e esse era um dia desses mas, não dava. Porque meu pai era pontual até para me levar para casa, era hora do almoço por isso ele tinha sempre tempo de me ir buscar, mas bem que ele podia se atrasar um pouquinho. Talvez levar mais tempo para almoçar, ou pegar o engarrafamento mas, não, estava lá sempre à tempo e horas para me pegar. Que chato!
Pusemo-nos a arrumar as nossas mochilas para sair.
- Yoll...- era assim que Núbia me chamava.
- Diz.- respondi.
- Você não pode inventar alguma desculpa para o teu pai e voltar para casa de táxi? Nós vamos comer qualquer coisa e conversar um pouquinho antes de ir para casa.- disse Núbia.
- Fica connosco mais um pouquinho.- continuou dizendo.
- Você sabe que ele não vai deixar.- respondi.
- Podem ficar sem mim. É na boa.- disse.
- Mas...-
Sem nem Núbia terminar de falar entrou um outro professor na nossa sala. Não era nenhum de nossos professores e eu nem o conhecia. Ninguém parecia o conhecer. Sua expressão era confusa, parecia ansioso e arrogante ao mesmo tempo.
O que ele queria?
Já não tinha terminado as aulas?
- Boa tarde alunos!- disse ele.
- Continuem sentados.- continuou dizendo, sem nos dar tempo de responder ao seu cumprimento ou até de pensar.
- Vocês lembram da confusão aqui na instituição na sexta passada, certamente! - disse ele.
- Saibam que um aluno caiu do segundo andar para o primeiro, bateu com cabeça e morreu!- continuou.
Disse assim, sem polpas na língua, soltou tudo sem delicadeza nenhuma e sem medo de nos assustar. Não se ouvia barulho nenhum dentro da sala, ninguém se atrevia a falar, todos nós ficamos sem saber como reagir ou que dizer. Encobriram tanto o assunto para agora nos ser dito assim? O que queriam? Nos deixar em pânico?
Um aluno tinha morrido.
Um de nós.
Nem sabia ao certo o que sentir. Não entrava na minha cabeça.
- Como ela caiu?- perguntou Darline quebrando o silêncio interminável naquela sala.
- Aparentemente foi suicídio.- respondeu o professor.
- Como disse à princípio, ela caiu.- disse ele.
- Ela? Quem é? Quem morreu?- perguntou Núbia.
- Ainda não podemos dar essa informação.- respondeu o professor.
- As investigações começarão, e então diremos. Só se preparem, não será nada fácil.- continuou dizendo.
- Estão liberados.- disse o professor.
Ninguém se atrevia a falar ou até a sair da sala, estávamos todos sentados e quietos. Era assustador.
Todos nós sabemos que a morte faz parte da vida, mas ela consegue sempre nos surpreender. Ainda estou em choque. Somos egoístas, estamos acostumados com mortes de pessoas mais velhas, vividas, que já realizaram sonhos, construíram um destino e se vão. Mas alguém jovem, cheio de vida e sonhos, não é fácil aceitar. Questiono os motivos que levaram ela fazer isso.Tão jovem e sem chance de continuar sua jornada aqui, se fosse alguém mais velho doente, eu até entenderia, uma morte quando não é natural, não é fácil de ser aceita.
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DAGBOEK.
Short StoryEsse livro é fruto da imaginação do autor. E nenhum dos personagens e acontecimentos citados nele tem qualquer equivalente na vida real. Dagboek é uma trilogia que fala sobre a vida de Nayole, uma menina de quatorze anos que entra para o ensino méd...