- Nayole tens aulas , vê se levanta e desliga esse despertador.- minha mãe não parava de gritar. Era incrível como tinha paciência de me acordar todos os dias, e nem entendo porquê que continuo metendo despertador no meu telemóvel se sei que minha mãe vai sempre me acordar. Ela realmente não se cansa.
O despertador tocou várias vezes mas não ouvi, estava morta de sono, tem vezes que dá vontade de continuar dormindo e esquecer que tenho aulas. Mas como? teria que inventar uma boa desculpa para faltar as aulas e continuar dormindo. Existirá um castigo pior do que estudar de manhã? Nunca consigo dormir cedo, sou consumida pelos meus vícios, séries, filmes e redes, não tem como pegar no sono tão fácil.
Quase sem vontade levantei e comecei a me arrumar, levei mais tempo que o habitual. Usava um uniforme mas, mesmo assim não terminava rápido, tinha que ver o que calçar, me pentear e me olhar umas cem vezes no espelho para ter certeza que sim, estou pronta. Isso é ser mulher!
Sim nessa manhã além da minha mãe ouvi as cantadas do meu pai. Tinha como não ouvir?
Ele não gostava de se atrasar por nada, nem mesmo quando o atraso tinha nada à ver com ele, o caminho todo foi cantarias sobre responsabilidade e como o atraso influencia nas nossas carreiras no futuro. Ele até podia ter razão, mas quem queria saber? Estava louca para sair daquele carro.
Em alguns instantes já estava na escola. À tempos que me pergunto como é ser segurança de algum estabelecimento, escola ou até casas, é como se eles não vivessem, e se vivem para além disso parecem fazer mais nada, eles parecem tão vazios e ao mesmo tempo cheios de mistérios, eles têm que conhecer tudo, cada aluno, professor e até algumas pessoas que frequentam muito o colégio, têm que prestar atenção à tudo e ao mesmo tempo parecem que, não têm mais nada, só talvez uma esposa e filhos, será isso uma definição de vida adulta?
Enfim, acenei com a cabeça para eles e entrei, já atrasada sorri lembrando dos ralhetes do meu pai essa manhã. Merda!
A aula parecia interminável, tudo bem que Biologia parece fácil mas nem sempre é interessante. O sino não tocava, queria que o tempo passasse voando, até parece que o universo conspira contra quando uma aula é aborrecida. O professor ditava, ditava e ditava, não teria fim? Juro que meu cérebro já não estava naquela sala.
Por instantes ouço uma agitação que parecia ser fora do colégio mas, bem pertinho. Tento não prestar atenção, qualquer coisa que não fosse a aula parecia chamar a minha atenção, mas deve ser o tédio ou a fome. O barulho não passava e pelos vistos não fui a única a notar, meus colegas se viravam para ver de onde vinha tanto barulho aquilo começava a incomodar. E toda a sala prestava mais atenção ao barulho do que na aula, na verdade o barulho parecia mais interessante que a aula. O professor chamou-nos a atenção, estávamos a nos distrair e a aula tinha de continuar, ainda faltam dois tempos. Que merda!
Eu tinha mesmo que continuar aí?
Ouvimos um telefone tocar, era o do professor? Está aí algo que não se vê todos os dias, o professor atender uma chamada em meio de uma aula, os meus colegas logo começaram a fazer gracinhas e eu punha-me a rir.
Logo após a chamada ele saiu, disse que não demorava e que quando chegasse faria perguntas sobre a aula.
Foi só o professor fechar a porta e lá estava a confusão típica de alunos sem professor na sala. Meus colegas conversam e brincavam que nem crianças no recreio, não tinha nada contra isso mas, era horrível as brincadeiras e insultos que faziam com Arem. Meti o meus auriculares e comecei a viajar perdida nas músicas, mesmo com a música alta ouço algo que parece com sirenes, era real?
Parecem próximas, e podia jurar que eram do lado de fora do colégio, olho para a janela e vejo carros da polícia, uma ambulância e paramédicos, o que estava a se passar?
A sala ficou um alvoroço, todos se questionavam, estavam a começar a entrar em pânico, e eu também.
Já começava a ficar impaciente, o professor não vinha, ele era o único que possivelmente podia nos explicar o que se passava.
Quero sair daqui! Estava ansiosa e preocupada. Não é um bom sinal ter paramédicos e policiais do lado de fora da escola, algo estava a acontecer.
O professor entrou na sala sem dar explicações nenhumas disse não podiámos sair da sala ainda, como assim? Estavam todos a murmurar. Claro que ainda era tempo de aula mas, não se tratava disso certamente porque o professor tinha parado com a aula. Não entendemos e ele não explica o porquê. Que irritante!
Vamos ser tratados que nem crianças?
- Todos sentados, por favor, ninguém saí, mexe no telemóvel ou converse, calados. Repito, calados.- disse o professor.
Era tudo muito estranho. Extremamente estranho, a correria, as sirenes, a polícia, a ambulância , o quê que se passa?
Com essa espera interminável parece uma eternidade aqui dentro, juro que só mais um minuto sem nos dizerem nada eu passo-me.
O professor andava de um lado para o outro dentro da sala, aquilo estava mesmo a me deixar louca. O toque de chamada do telemóvel quebra o silêncio interminável, não se ouve o que o professor diz só consigo ver seus lábios mexer, se aquilo era um teste de sobrevivência do colégio eu estava prestes a reprovar.
- Por ordem dos assentos tragam os telemóveis.- ordenou o professor.
Merda!
Levantamos e fizemos exatamente o que ele pediu sem questionar, sim aquela situação estava a começar a me preocupar, passou muito tempo e não nos explicavam o que se passava. Todo mundo estava com uma expressão preocupante, e comecei não estariam? Tínhamos certeza que se passava algo grave, era notável no rosto do professor, mas por algum motivo não nos diziam. Quando eu estava prestes a passar-me vemos uns dos alunos a ser levado algemado pela polícia, aquilo era real?
Como?
Porquê?
O que estava a se passar?
O que tinha feito de tão grave?
Fazia perguntas e mais perguntas a mim mesma. Quem responderia?
...
Não entendia o que tinha se passado e não nos foi explicado nada. Depois de se certificarem que estávamos todos completos na turma fomos liberados, assim como todas as outras turmas, sem nenhuma explicação, as sirenes, o carro da polícia, a ambulância, tudo tinha desaparecido, não sabíamos o que tinha se passado, era como se nada tivesse acontecido. E o menino algemado?
Quem era?
Tinha cometido algum crime? Não entendia.
Sou logo puxada para a realidade com toque de chamada do meu telemóvel, era Núbia, parece que mais alguém não consegue pensar em outra coisa...
- Nayole, você conversou com os outros? Já sabes o que se passou? Não tiro a imagem do menino a ser levado pela polícia.- falava ela sem parar.
- Estou igual à você, sei de nada, ainda é um mistério, mas acho que na segunda nos informam, se aconteceu alguma coisa terão que falar com todos os alunos.- respondi.
- Pois é, uma hora eles terão que falar connosco.- concordou.
- Só espero que não seja nada grave- continuei falando.
- De certeza não será.- disse Núbia.
Nos despedimos, e terminamos a chamada.
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DAGBOEK.
ContoEsse livro é fruto da imaginação do autor. E nenhum dos personagens e acontecimentos citados nele tem qualquer equivalente na vida real. Dagboek é uma trilogia que fala sobre a vida de Nayole, uma menina de quatorze anos que entra para o ensino méd...