Como nós reescrevemos as estrelas?

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— Romeu e Julieta — o senhor Baldrick encostou em sua mesa de madeira e fez com que um livro fino voasse de uma das estantes para sua mão. Era um sinal de que faltavam quinze minutos para o final da aula. Scorpius se debruçou sobre a carteira, escorando a cabeça no dorso de sua mão, cutucando Adam ao ouvir seu quase ronco; ele dormia profundamente, sem peso algum na consciência. — Quem terminou a leitura?

Alguns alunos levantaram as mãos. Scorpius foi um deles.

O professor Baldrick sempre tinha uma variedade de ideias para deixar seus alunos mais próximos dos trouxas, o que incluía desde manuseio de artefatos eletrônicos esquisitos até ingestões perigosíssimas — para não dizer ultrajantes — de comidas típicas. Usar os últimos momentos da aula para falar sobre a literatura inglesa deles foi uma de suas metodologias mais sensatas. Não tinha a aula mais interessante de Hogwarts, embora ganhasse em disparada do senhor Binns segundo pesquisas não oficiais, mas ela ainda era obrigatória e ele se provava estranhamente carismático a cada dia, além de que as garotas lhe achavam charmoso por algum motivo não muito claro para os rapazes.

— Como devem ter notado, Romeu e Julieta é, talvez, a história de amor mais célebre de todos os tempos, e o enredo desta peça, embora não nos demos conta, perpetua na mente humana de uma forma magnífica — tirando os olhos do livro, ele lançou um olhar por toda a sala. — Todos nós vivemos um amor proibido vez ou outra, cedo ou tarde. Romeu e Julieta, como personagens, são a nomeação e personificação do protótipo de amantes desafortunados. É comum que os trouxas façam referências à eles em situações que implicam romance e tragédia, amor e ódio... Quem poderia me dizer qual é o grande infortúnio do destino?

— Romeu, filho único da família Montéquio, e Julieta, filha única da família Capuleto, se conhecerem durante um baile de máscaras e apaixonarem-se perdidamente — depois de alguns instantes de silêncio, Rose Weasley respondeu num tom quase inaudível.

— E por que, senhorita Weasley? A paixão não é uma felícia?

— Eles estariam transformando duas famílias tradicionalmente rivais em uma só. Poderiam se apaixonar por qualquer outra pessoa, mas... Foi um infortúnio enxergarem apenas um ao outro.

— A senhorita diria, então, que a morte deles teria sido causada pelo amor idealizado a partir de uma proibição assídua, ou seria pelo fatídico destino?

— O amor deveria ser livre, professor, mas está constantemente atrelado ao destino.

— Vinte pontos para a grifinória — sorriu contente, apontando para a lousa com a varinha. — Para a próxima aula, gostaria que vocês descrevessem cada personagem da trama de maneira sucinta. Os que não terminaram de ler, aproveitem a oportunidade para finalizarem e se inspirarem na senhorita Capuleto e no senhor Montéquio para escreverem um pergaminho de, no mínimo, setenta centímetros — a sala o interrompeu numa sonora reprovação — sobre o que acharam da história deles. Busquem inspiração no Romeu de vocês, ou em suas Julietas.

— E se a minha Julieta for a poção que nunca terminarei por causa do tanto de lição que o senhor nos dá? — Alvo perguntou num tom debochado, causando alguns risos.

— Apenas espero que ela não cause sua morte, senhor Potter, tampouco lhe chame de Romeu durante o fim de semana que todos vocês terão para colocar as lições em dia já que a visita à Hogsmeade foi cancelada devido à forte tempestade prevista — o senhor Baldrick sentou-se em sua mesa, animado, suspirando enquanto analisava os rostos da turma. — Quem gostaria de ler um trecho para finalizar a aula? — apesar do silêncio, ele insistiu. — Senhor Turner? Senhorita Parkinson? Acredito que o senhor Zabini esteja revisando a história em sonhos — disse antes de enfeitiçar uma pena para fazer cócegas no nariz de Adam, que deu um espirro alto, endireitando-se na cadeira logo em seguida. — Para compensar o longo e babento devaneio do nosso Mercúrio, por que o senhor Malfoy não lê alguma fala do senhor Montéquio, hum?

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