Capítulo 26 - Eu iria para a Espanha

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(Narrado por Álvaro)

Se eu pudesse definir minha mãe em uma única palavra, com certeza, seria controladora. E isso era com relação a tudo, desde qual escola Lupe e eu iriamos estudar até quem seriam nossos amigos. Me lembro de uma vez que a minha irmã trouxe uma amiguinha em casa e minha mãe não gostou da garotinha de imediato.

 Resultado?

 Proibiu a Lupe de vê-la. 

Acho que quem mais sofreu com todo esse controle foi justamente a Lupe. Desde pirralha cresceu sendo observada pela mulher que queria tudo perfeito, e esse grau de perfeição era sempre medida por seus olhos críticos. Minha irmã tinha que ser perfeita como minha mãe era, ou como a mesma repetia, tinha que ser a melhor. 

A melhor na dança, na música, no colégio, nas amizades, na escolha do namorado, em tudo. Não podia se contentar com o segundo lugar no pódio, devia tá sem no topo sendo observada por todos. E hoje, de pé em frente a minha mãe enquanto os olhos de Lupe passeavam entre nós eu me sentia mal por nunca ter feito nada para impedir. Eu deveria ter feito alguma coisa.

O barulho dos saltos da minha mãe em contato com o piso de madeira fez um barulho ecoar pelo ambiente me tirando dos meus devaneios.

— O lugar é muito aconchegante, gostei bastante. — Seus olhos analisava cada detalhe do quarto, inspecionando tudo. — Com quem tá dividindo o quarto, querido?

— Com o Juanma, o Bernardo e o Simon. — Disse, passando os dedos entre os fios de cabelo.

Troquei olhares com Lupe que estava sentada em minha cama vendo-a suspirar dando de ombros enquanto minha mãe continuava sua vistoria pelo quarto.

— O que você veio fazer aqui mãe? — Lupe perguntou de uma vez, fazendo o olhar dela finalmente se voltar para gente.

— Eu soube do ato heroico de seu irmão, querida. — Ela passou a bolsa de couro preta para o outro braço, sorrindo. — Vim vê se estava tudo bem com os meus próprios olhos.

— Eu estou bem, mãe.

— Não foi o que me disseram. — Ela se aproximou, colocando as mãos em meu rosto em um carinho. — A professora Catarina me informou que você ficou resfriado.

— O acampamento tem médico, eles cuidaram de mim, me deram remédios e eu já tô bem.

Mercedes: Tem certeza?

— Tenho! — Respondi convicto, vendo-a sorrir. — Agora pode me dizer o que você realmente veio fazer aqui.

— Mas eu já disse!

— A verdade, mãe!

— Eu vim te vê meu filho, estava preocupada.

— Conta outra, mãe. Você veio aqui porque soube que eu estava namorando a Mía.

Um suspiro pesado seguido de uma risadinha ecoou pelo quarto. O chalé que nos abrigava parecia ter entrado em um túnel escuro e tenebroso diante do olhar acusador dela.

— Então, é verdade? Você realmente está namorando aquela garota?

— A garota tem nome, mãe. É Mía. — Respondi impaciente. Porque minha mãe tinha essa mania de querer controlar tudo ao redor? — E sim, estamos namorando.

— Nós tínhamos um trato, Álvaro! — Disse, autoritária. — Eu não vou admitir isso.

— Isso o que? O meu namoro? — Ergui as sobrancelhas.

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