Acerola
Fui subindo o morro na força do ódio. Foda tu tá cansadão e ainda ter que andar pra chegar em casa. Mas é isso todo dia, já até acostumei.
Não é nada fácil pra mim não, me envolvi com a Cristiane ela tinha 14 anos, eu ainda era moleque sem cabeça nenhuma. No fogo da hora acabou acontecendo e nem pude evitar, e deu nisso. Nosso filho hoje já tem 2 anos. A parte mais complicada disso foi pra Cris, pai dela surtou legal. Bateu, xingou e expulsou de casa. Não quer mais saber dela de jeito nenhum, muito menos do neto.
Admiro ela demais por isso, enquanto eu fui um moleque que até pensou em sumir da vida da cria a Cris aguentou tudo. Sempre lutou pra ter as coisas que queria, mesmo com a barriga enorme ela não abandonou a escola. Pelo ao contrário ela arrumou um emprego e trabalhou até os 9 meses de gestação e depois de três meses que o nosso filho nasceu ela já tava na pista de novo, trabalhando e estudando.
Nós dois não temos muito, a nossa casa não é grande. Nosso filho não tem um berço e nem muitas roupas. Mas de pouco a pouco nós dois vamos conquistando nossas coisas, pode demorar mas nossa hora vai chegar...
Terminei de subir o escadão e entrei em casa. O Igor veio correndo pra mim e eu peguei ele no colo.
Acerola: Eai neguin, como tu tá? - Dei um beijo na bochecha dele. Menor nem sabia falar, só resmungava algumas coisas que eu fazia um esforço pra entender.
Caminhei pela cozinha, pela sala e nada da Cris. Já tava achando que ela tinha saído e deixado o menor sozinho, mas entrei no quarto e vi ela sentada na cama, abraçada com os joelhos e pelo visto chorando. Coloquei o Igor no chão do meu lado e cheguei perto dela.
Acerola: Oque tu tem, preta? - Sentei do lado dela e ela me olhou com os olhos vermelhos e inchados.
Cris: Não é nada. - Passou a mão no rosto. - Besteira, esquece.
Acerola: Pô cara, tu sabe como eu fico quando tu esconde as parada de mim. - Ela desviou o olhar. - Manda logo o papo.
Cris: Hoje eu vi meu pai. - Quando ela disse sua voz falhou e ela olhou pra baixo, peguei seu rosto levantando. - Ele não quer mais saber de mim...
Acerola: Isso é coisa de pai, cara. - Ela negou. - Vai passar, ele te ama de qualquer jeito só que deve ser difícil pra ele ver a filha dele, assim. - Suspirei. - Eu não posso te fazer nada, a não ser te pedir desculpas...de novo. - Ela respirou fundo.
Cris: Não precisa me pedir desculpas. - Secou os olhos. - Nós dois fomos errados. - Assenti, ela ia falar algo mas o Igor se jogou em cima dela que riu.
Acerola: Já tá indo pra escola?
Cris: Tô sim. - Se levantou e foi até a gaveta. Pegou um papel e uma caneta. - Já que agora você é o meu responsável né.
Acerola: Quer que eu assine seu boletim? - Ela concordou. - Tô me sentindo um idoso, papo reto. - Assinei e devolvi pra ela que riu.
Cris: Eu acho que não vou passar aqui, da escola eu já vou pra casa da dona Isabela. - Disse colocando os materiais e algumas roupas dentro da mochila.
Acerola: Tu vai ficar cansada pô, vem aqui em casa. Qualquer coisa eu peço algum dos menor o carro emprestado e te levo. - Ela negou.
Cris: Fica tranquilo. Cê precisa descansar também, então só olha o Igor que já tá tudo certo. - Veio até mim e me beijou. - Vem cá dá um abraço na mamãe. - Esticou os braços e o Igor se jogou nela enchendo a mesma de beijos.
Acerola: Te amo viu otária. - Dei um tapa de leve na cabeça dela que riu.
Cris: Eu não te amo, não. Tu é feio. - Me zoou e saiu correndo antes que eu respondesse.
Dei um banho no Igor e deixei ele brincando no chão, enquanto assistia TV. Fiz um cercadinho ali na porta pra que ele não conseguisse sair pra fora. Me deitei no colchão e comecei a dormir...
...
• Cristiane, 16 anos •
Insta: @thaischagaszz
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Atração Fatal [M] - L7NNON
Fanfiction📍 Rocinha, Rio de Janeiro "Agora é só pensamento e mais nada Jurou que ia ser diferente Eu não acredito em conto de fada Hoje sei que quem jura mente..."