25 de Outubro - parte 1

118 11 0
                                    

Acordei com a visão distorcida, como se ainda estivesse muito cansada. Naminha frente brilhavam pontos de luz – uns mais nítidos, outros embaçados –,mas, para meu alívio, aos poucos tudo foi se endireitando. Precisava achar Arthur.

      Meu estômago ensaiou, no entanto, uma pequena dança, não muito interessante. Respirei fundo para não estragar o tatame e o cheiro do ambiente com o que poderia acontecer. Na noite passada, Arthur havia diluído substâncias mágicas na água que limpava meus machucados, provavelmente para acelerar o processo de cura. Como consequência, hoje eles estavam quase curados. Pelo menos isso. A vermelhidão das feridas nos joelhos desapareceu, em algumas regiões conseguia sentir a pele endurecida virando casca. Só as asas ainda ardiam. O cheiro adocicado me fez olhar para o lado. Uma bandeja cheia de frutas, pães e sucos me esperava. Não sabia se meu estômago clamava por comida, o que seria bom, ou se me pedia para não comer, o que não seria bom. O importante foi que, no meio daquela pilha de comida, havia uma rosa. Também um bilhete.

     Apressei-me para ler:

    Fadinha! Espero que esteja melhor!Tive que trabalhar, porém logo voltarei para casa.Divirta-se explorando minha moradia.Minha mãe teve um ótimo gosto ao decorá-la.Leia as placas dos ambientes. São engraçadas!Mi casa, su casa! Ass. Príncipe misterioso! PS: Sua amiga Olinda trouxe a mala para você (bem caprichada). As roupas da sua amiga estranhamente cheiram a suflê de morangos com mel.

      Naquele momento, ao ler o bilhete, não pude controlar os meus risinhos de garota se apaixonando. Imaginava-me como uma tola rindo sozinha espichada no tatame. Sobretudo, sentia-me importante por estar naquela casa tão especial. Arthur me parecia um homem encantador. Poucos minutos de conversa se passaram entre nós, mas a conexão foi instantânea. Parecia magia antiga. Eu queria descobrir minha missão, mas existia algo naquele homem que mudava as minhas mais íntimas prioridades. Não conseguia explicar. Queria apenas saber mais sobre ele. Desejava falar com ele. Imaginava cenas de nós dois juntos. Aliás, queria poder dizer que estávamos juntos. 

       Os pensamentos pareciam esquisitos, sabia disso, porém entendia o porquê de estar me envolvendo com aquele rapaz. De sorrir por um gesto dele ou pela forma que fiquei boba quando cuidou de mim na noite passada. Aquilo havia me surpreendido. Eu sentia que precisava de um homem atencioso como ele ao meu lado. Mas algo não saía da minha cabeça: será que ele sabia sobre meu destino? Estaria interessado em mim ou era apenas a estúpida missão começando? Esperava que não. Precisava de alguém, pois sentia-me solitária, e agora tinha achado uma pessoa perfeita. Ele não parecia se importar com o fato de eu ser uma fada, com asas e conflitos. Era perfeito.

      Parei de ficar pensando em coisas que não me levariam a nada e levantei para conferir a mala. Quando me aproximei dela, entendi por que ele havia falado que estava caprichada. Olinda havia colocado quase toda minha casa dentro. Decidi tomar um banho, troquei a roupa e voltei para o quarto. Depois de limpa, segui a instrução dada no bilhete sobre explorar a casa, reparando na decoração do local. Aquela sala era uma mistura chinesa e japonesa, com bandeira dos dois países penduradas na parede vermelha. Por todos os lados havia luminárias e leques orientais, também uma porção de troféus. Milhares deles. Todos de ouro espalhados pelas vitrines. Para mim o mais interessante, entretanto, eram as armas: nunchakus, bastões, facões, punhais, arcos, adagas, shurikens, kunais; todas as armas brancas possíveis de se imaginar, além das mais diferentes espadas. Logo, uma em especial chamou minha atenção. Encontrava-se em uma vitrine exclusiva, entre duas bandeiras. Aquela era a espada mais bonita que já tinha visto. Cabo longo, metálico, com inscrições que não conseguia entender. A lâmina reluzente possuía ranhuras, mas parecia ainda afiada o suficiente para arrancar uma cabeça. Provavelmente conseguiria se tentasse.Sem dúvidas, quem a colocou lá possuía a intenção de dar destaque a ela.

A FadaOnde histórias criam vida. Descubra agora