31 de Outubro - parte 2

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Junto com o vento a música começou a tocar por todo o salão. Olhei para o lugar de onde vinha o som, percebendo músicos tocarem a melodia suave em um palco perto do mini castelo cinza dentro do salão. Pelas vestimentas pareciam ser bruxos e guerreiros. Mais uma surpresa não esperada. Arthur pegou minhas mãos, que não suavam mais de medo, levando-me para a pista de dança.

     Pela música, as pessoas já recuperadas do ritual começaram a se reunir em duplas para dançar. A voz do cantor tinha um estilo diferente, dando a impressão de que fosse cantor de rock 'n' roll, mas eles tocavam uma música celta. Romântica.

    A letra era muito bonita, ao mesmo tempo triste. Ela contava a história de uma mulher que viu o marido ir para a guerra. Ele acabou morrendo nela, deixando-a arrasada. Só que na música dizia-se que o homem havia virado faíscas, indo para o céu, onde todas as noites sua mulher poderia observá-lo, assim ele nunca morreria para ela. Achei lindo o romantismo da história, quase me levando às lágrimas.

    Arthur percebeu que eu estava quieta. Eu não havia dito uma palavra desde que o ritual tinha acabado. Para o rapaz não dava para saber que eu prestava atenção na letra da música. Cheguei a me sentir mal por não lhe dar mais atenção. Ele se aproximou de mim, diminuindo o espaço entre nossos corpos que já era pequeno. Em um ato romântico, deu-me um beijo apaixonado, como se estivesse fazendo uma declaração de amor. Enquanto nossas línguas travavam a dança sensual, senti a moleza que acontecia com o meu corpo toda vez em que me beijava. Quando abri os olhos levei um susto.

    Todos no salão brilhavam. Será que eu tinha perdido alguma coisa enquanto meus olhos estavam fechados? Acho que não. Teria de ter sido muito rápido para eu não perceber.

   Olhei para a minha mão, vendo-a brilhar. O brilho parecia ser diferente,com um tom dourado. Entendi aos poucos que aquela era a cor da nossa aura refletida por nossa pele. O encantamento devia estar entrando em ação, pois até os vampiros brilhavam.

   Dançamos agarradinhos como um casal apaixonado em sua primeira dança. Do outro lado da pista, notei que a moça loira em que eu havia esbarrado olhava para Arthur. Quando ela percebeu que eu a tinha visto, desviou o olhar. Mal-humorada, resolvi falar com ele a respeito. 

– Conheci sua amiga – comentei, ainda encarando a mulher.

– Quem?

– A loira que está dançando com o ministro – disse apontando discretamente para ela.

– Susan? – perguntou Arthur, e eu revirei os olhos por não saber o nome dela. – Ela é uma boa amiga. Gerente da minha empresa.

– Não sabia que vocês eram assim tão amigos.

     Não sei se foi o modo como fiquei zangada ou os comentários ríspidos, mas por alguma razão Arthur ficou em silêncio. Ele percebeu meu ciúme, por isso não falou nada. Continuou a me conduzir pela pista, agora me rodopiando paraver se eu ria da situação. Mas, por algum motivo mais forte que meu ciúme, eu não me sentia bem. Sentia uma forte dor em meu peito, como se estivesse sendo comprimido. Quase não conseguia respirar. Aos poucos fui notando uma presença junto a mim. Parecendo que dançava ao meu lado. A presença foi ficando mais forte. Cada vez mais poderosa. Ao ponto de eu perceber que quem estava ao meu lado...

     Era meu pai.

     Fechei os olhos e pedi ajuda aos bons espíritos. Fui tomada pela confusão. Por que conseguia sentir a presença de meu pai ao meu lado? O que acontecia comigo? Arthur não percebia o meu desespero, o que me incomodava. Como ele não notava isso? Sua amada não estava bem, era sua obrigação perceber. Todas essas questões passavam pela minha cabeça, fazendo uma confusão com meus sentimentos. Não conseguia raciocinar, por isso resolvi encarar meu medo: tentaria comunicação com a presença.

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