Na hora do almoço procurei a cozinha. A descrição era COZINHA – ITÁLIA. Seria idiota precisar ler a placa para saber o porquê da referência ao país. Me lembrei da comida deliciosa de Olinda e da alegria de Vincento.
Entrei na sofisticada cozinha, procurando nos armários ingredientes variados. Depois de cozinhar e comer, voltei à excursão pela casa. Fiquei perplexa ao ver o SALÃO DE MÚSICA – GRÉCIA. Adorava música, uma grande paixão. Nunca aprendi a tocar um instrumento ou a cantar, mas possuía uma habilidade musical inata.
O salão de mármore possuía diversos quadros e estátuas gregas. Fiquei encantada com todas aquelas obras de arte. Havia algumas tão grandes que ocupavam um bom pedaço da parede. Imaginei o valor de todas essas peças juntas. Daria para sustentar uma família. Fechei os olhos, inspirando o ar. Ele vinha do gentil suspiro de uma corrente da janela. Era como se a corrente respirasse ampla e profundamente, puxando o ar para dentro dos cômodos quando inalava, empurrando toda energia de volta quando exalava. Respirava sentindo a frequência do pulso desacelerar da explosão de adrenalina ao ver o salão grego. À medida que o fazia, me acalmava. Lembrei-me de como costumava sentar nas areias das praias, imaginando o som das ondas nas Ilhas Gregas e da música em Atenas. Aquilo me tranquilizava.
O ambiente aguçava minha enorme vontade de conhecer a Grécia. Todos os instrumentos estavam dispostos em harmonia. Desde os clássicos, como o piano de cauda, até a bateria mais completa. O que mais me agradou, entretanto, foi um violoncelo localizado no centro do ambiente. Como os outros instrumentos, sua cor era branca, com pequenos detalhes dourados, como se feitos de ouro. Talvez até pudesse ser. Queria tocá-lo, mas sentia dó. Avaliei sobre o que aconteceria se eu estragasse aquele instrumento. Observei que na parte traseira havia um pentagrama dourado cravado, que só de olhar já hipnotizava uma pessoa pela raridade.
Um clima mágico rolava no ar. Existia uma conexão com o violoncelo. Sentei-me no banquinho esbranquiçado, posicionando-me atrás do instrumento. Havia medo, mas não resistia à tentação de tocá-lo. Aos poucos, minhas mãos foram guiadas e se iniciou uma suave melodia, creio que nunca tocada ou cantada por alguém. Tudo daquela música ia sendo criado por e para mim. Algo para aquele momento mágico.
Fiquei tão sensível com a situação que lágrimas começaram a rolar. O som no salão ficava alto, tanto por causa do violoncelo, quanto pela minha voz cantando uma canção sobre magia, fadas e felicidade. Os bons espíritos conversavam com o meu espírito. Chorava, e, ao mesmo tempo, sentia uma felicidade plena. Não queria perdê-la. Fechei os olhos, me transportando para um lugar mágico. O único que realmente conhecia. Fairyland, a maior região da dimensão das fadas.
Quando abria os olhos, via o exuberante salão. Ao fechá-los, via a mata verde de Fairyland. Ao fundo o castelo onde minha mãe reinava. Que saudade dela. Não era possível descrever a sensação que sentia quando cantava e tocava aquela música. Felicidade... seria pouco.
Senti uma presença em certo ponto da música. Porém, meu transe me atrapalhava. Estava tão imersa em meus sentimentos, que não sabia distinguir se era da Terra ou do Reino das Fadas.
Sabia somente que me completava.
Continuei a cantar alto. Uma pessoa pegou um banquinho no salão de música, posicionando-o atrás de mim e me fazendo notar que a presença vinha da Terra.
– Arthur – sussurrei.
Ele fez sinal de silêncio pondo o indicador sobre os lábios, me incentivando a continuar a melodia. Sentou-se, me abraçando pelas costas. Cuidadosamente pegou a mão que tocava o violoncelo, conduzindo-a. Apenas eu cantava. Parecia que estávamos tocando por horas, quando ele levantou, me levando junto com ele. Havia enfeitiçado o instrumento para que continuasse a tocar. Pela primeira vez o vi praticar magia.
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A Fada
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