No geral, tivemos um momento agradável na companhia de meus amigos. Ao sairmos, Arthur disse que ainda queria passear. Sempre repetia como o sol estava ótimo para isso. Enquanto andávamos sem rumo, ele perguntava sobre minha vida, hobbies, sonhos. Desejava conhecer mais sobre o meu mundo, minhas ocupações, objetivos de vida. Eu me sentia assustada com essa intimidade. Com a facilidade de conversar sobre assuntos antes mantidos a sete chaves.
Como ele não tinha ideia de onde me levar, pensei em um lugar perfeito. Animada, expliquei que queria levá-lo a Epping Forest, a floresta em que ele havia me atropelado. De início não se mostrou animado, mas concordou em ir quando disse que existia muita magia lá. Peguei sua mão, começando a correr pelas ruas atrás de um táxi. Sairia uma nota preta a corrida, mas queria chegar o quanto antes no local. Algumas pessoas em nosso caminho ficaram espantadas, outras achavam engraçado um casal de jovens correndo como se fossem duas crianças de 5 anos em uma festa de aniversário. Ouvia a gargalhada de Arthur entrar pelo meu ouvido, enchendo-me de alegria com o simples timbre de sua voz. Como me sentia bem ao seu lado, fazendo coisas aparentemente bobas, mas significativas, como me divertir com ele. Sentia que eu podia ser eu mesma ao seu lado.
Encontramos o táxi e pedi para nos levar até a entrada da floresta. O taxista sorriu sabendo a bolada que receberia. De lá para minha casa não era longe, então gostaria de fazer o caminho a pé com Arthur. Após cinquenta minutos, chegamos ao local que eu queria e começamos a caminhada até a minha casa, andando em passos lentos. Um pouco antes de chegarmos, paramos para admirar a paisagem do local. Eu morava em uma região afastada do centro de Londres, na divisa com a cidade de Essex. Em relação aonde se localizava, não se podia dizer que era um lugar feio. A região era muito arborizada, com casas separadas umas das outras, onde o silêncio reinava absoluto. Até os carros pareciam evitar o local. Não sabia nem por que Arthur havia passado de carro por lá. Provavelmente seu emprego devia ser pela região.
Decidi que iria chegar em casa, pegar algumas coisas que me faltavam, para logo sair. Apesar de a casa ser tão bonita, não gostava de ficar no local, pois me lembrava da ausência de minha mãe e da morte do meu pai.
Arthur já conhecia a floresta, mas eu queria ter a experiência de desbravá-la com ele. Entramos em casa, e logo pude ver a expressão de espanto dele ao descobrir as condições em que eu vivia ultimamente. O lugar parecia um pequeno castelo perdido no meio da mata, mas aquilo não importava; no momento não passava de uma construção abandonada, bagunçada e mal cheirosa. Não passava muito tempo lá, e talvez a intenção fosse deixá-la assim. Desorganizada como minha vida. Será que ela estava assim por que não existia mais ninguém para arrumá-la? Tinha me tornado uma relaxada? O importante era que quanto mais bagunçada, mais refletia a minha vida. Minha doce e amargurada vida.
Saímos da casa, em direção à floresta. Ainda não me sentia confortável em voltar lá tantas vezes, mas queria muito mostrar o local. De dia os raios de sol sobreviventes do outono surgiam por entre as árvores formando um colorido diferente e mágico. Sempre fiquei encantada com a transformação da natureza nas estações. Sentia tranquilidade. Mas voltar ali ainda era estranho.
Chegamos ao começo da floresta. Precisava pedir permissão para entrar. Antes de ensiná-lo como fazer, o vi murmurar o pedido. Aquilo me fez sorrir. Sempre me senti estranha fazendo esse tipo de coisa, que meu pai tinha me ensinado. Ao ver aquele homem encantador ao meu lado fazendo o mesmo, percebi que não precisava ficar sozinha nesse mundo. Não parecia mais uma estranha. Enquanto estivesse com ele, tudo poderia ficar bem.
Andamos pela floresta, pulando os galhos retorcidos no chão, não nos importando de sujar os sapatos com a terra. Gostava de olhar os pássaros, também as sombras das árvores no chão, formando formas macabras nos caminhos. As árvores de Epping Forest eram muito belas no outono: verde, amarelo, vermelho, laranja e todas as tonalidades intermediárias se misturavam no balançar dos galhos. As cores vivas se destacavam com o sol. Pela milésima vez, me arrependia de ter passado tanto tempo sem visitá-la. A paz encontrada naquele santuário mágico sempre foi difícil de relatar.

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A Fada
FantasyJOVENS COSTUMAM GANHAR presentes caros, viagens ou festas surpresas em aniversários de 18 anos. Melanie Aine ganhou o falecimento do pai, o abandono da mãe, uma estranha tatuagem e a descoberta de que não era humana. Como se tudo isso não b...