10 - Conchas.

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POV GIZELLY

Acordei com uma mensagem de Marcela me informando o endereço do apartamento de Bianca, o local onde morava até então. Me arrumei o mais rápido que pude, porque percebi que já estava um pouco atrasada.

Durante o caminho para buscar a loira, comecei a sentir um pouco de nervosismo. Podia parecer algo besta, mas eu estava apreensiva de vê-la depois do que tinha acontecido na noite passada. Ainda que já tivéssemos conversado, estar cara a cara com ela era diferente.

Estacionei o carro em frente ao prédio e mandei uma mensagem avisando que tinha chegado, e logo a vi abrindo o portão e vindo em direção a mim dando um leve sorriso.

- Bom dia. - ela disse entrando no carro e se sentando no banco ao meu lado.

- Bom dia, tudo bem? - eu respondi ainda tímida.

A sensação que eu tinha era a de que estávamos nos vendo pela primeira vez. Como ainda era cedo e nós duas estávamos com um pouco de sono, a conversa não se estendeu muito além do tudo bem, e ficamos o resto do caminho em silêncio.

Felizmente a praia não ficava muito longe dali então chegamos logo. Demos bastante sorte de não pegar muito trânsito naquele momento, senão provavelmente teríamos perdido grande parte da nossa manhã. A praia escolhida também foi uma que não tinha tanto movimento, porque apesar de ser uma segunda-feira de manhã, ainda eram férias de verão para alguns.

O dia estava com um clima perfeito, sem nuvens e com um sol radiante, mas com uma brisa gostosa que fazia com que não estivesse tão quente. Optamos por caminhar à beira do mar, para molhar um pouco dos pés, e aproveitar a sensação de frescor vinda em direção aos nossos rostos.

Depois de alguns minutos andando enquanto conversávamos sobre assuntos quaisquer, vimos um vendedor de água de coco e fomos até ele. Então sentamos em um canto bem próximo ao vendedor para beber o líquido que havíamos acabado de comprar.

Durante algum tempo ficamos apenas olhando o mar, sem dizer uma palavra sequer. A sensação de paz que eu sentia perto da praia era indescritível. Eu sempre tive uma ligação muito forte com o mar, ainda que nos dois últimos anos tivesse me desconectado dele em partes.

- Você parece gostar bastante de estar na praia, consigo notar pelo brilho dos seus olhos quando olha pro mar. - Marcela disse tentando quebrar o gelo.

- Gosto mesmo, desde pequena. Eu nasci no Espírito Santo e passei minha infância e adolescência inteira lá, só vim pro Rio depois de adulta. Eu adorava ir pra praia lá, e continuei com esse hábito por aqui. Mas depois que eu perdi o Gustavo acabei me afastando até desse costume. Na verdade, me afastei de grande parte das coisas que me faziam bem.

- Se você quiser, posso te ajudar a voltar a fazer o que te ajuda a ficar bem, isso é um passo importante pra que as coisas melhorem, e acho que um empurrãozinho é sempre bom. Depois do que eu passei, também tô precisando fazer muitas coisas que voltem a me trazer a paz que sentia antes. Vai fazer bem pra nós duas.

- Você é um anjo, de verdade. Nunca estive errada em meus sonhos quando imaginei você me salvando.

Instinstivamente dei um beijo na bochecha de Marcela, que acabou pegando no canto dos seus lábios, e logo depois me toquei do que fiz, o que me deixou constrangida. Nos olhamos e ambas coramos, sendo mais aparente em Marcela por ela ter uma pele mais branca do que a minha.

- E você? Como é sua relação com o mar? - tentei fingir naturalidade depois do que tinha feito.

- É a primeira vez que eu estou morando em cidade de praia, mas sempre tive essa vontade. Eu gosto muito do mar, principalmente do mar de Caraíva. Lá é meu ponto de paz, sempre. Inclusive, não vejo a hora de poder ir pra lá de novo.

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