Os lábios de Aminá beijavam os lábios do garoto que ela mal lembrava o nome, mas sua imaginação vagava pelos grossos e volumosos lábios de Otelo. Ela odiava a repetição de coisas, mas o rosto dele parecia retornar como rimas certeiras no fim de cada verso de um poema. Ela não conseguia evitar, e quando o pensamento aparecia ali, - o que acontecia com demasiada frequência. - ela não resistia a se não aproveitar.
Seus dedos passavam pelos fios ralos do branco qualquer quando ela queria mesmo era estar sentindo os macios cachos da enorme juba de Otelo.
Ela soltou um gemido involuntário e se afastou. O garoto perguntou se tava tudo bem. Aminá assentiu e avisou que sim. Colocou carinhosamente a palma da mão no rosto do garoto, seu polegar sobre a têmpora dele e ela se sentiu entrando, por um breve instante tudo ficou lento e ela quase se esqueceu o que havia ido buscar. Pegou aquela lembrança que parecia se agitar como uma borboleta voando entre seus dedos.
Aminá recuou e lhe deu um beijo na testa. O garoto piscou algumas vezes e ela deu passos para longe dele. Olhou para a ponta das unhas que havia recentemente pintado de preto. O pequeno inseto estava pousado ali. Batendo as asas lentamente como se a cumprimentasse.
Aminá sentiu a própria memória se fragmentar como um pedaço de gelo descolando de uma grande geleira. Um choque correu por seu braço, a borboleta se agitou levantando as asas para longe.
Aminá não hesitou em esmaga-la.
Os passos de seu salto ecoavam por todo corredor. Aminá não conseguia se lembrar exatamente porque estava vindo daquela direção, mas em seu peito jazia a certeza de que não precisava daquelas lembranças.

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Cidade Submersa
Mystery / ThrillerAbaixo de Salvador há um mundo redigo por magia. Uma academia regada por mistérios. Sob desafios quase mortais, os alunos precisam aprender a sobreviver na Cidade Submersa.