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Júpiter não sabia porque estava ajudando já que não tinha nada a ver com aquilo. Tão pouco acreditava que Aminá fosse ajudar. Mas Aminá era muito boa em retirar memórias e talvez a única pessoa que pudesse encobrir o que aconteceu.
Quando os professores chegassem e começassem a fazer uma vistoria das mentes deles seria quase impossível esconder o que houve.
Júpiter tirou os sapatos e deixou que sua essência corresse através de seus pés em direção ao quarto de Aminá. Estava vazio.
— Merda. Não consigo achá-la.
Vanessa andava de um lado para o outro.
— Continua tentando.
Vanessa olhou para o corpo estirado e imóvel de Lara. Não haviam tocado nele. E ela também não quis nem saber quem havia feito aquilo. Haviam feito um pacto de se proteger e o selo queimava em seu pulso.
Ela começou a abrir as bolsas dos garotos uma a uma a procura de um caderno.
— O que você está fazendo? — Perguntou  Josué. Vanessa o ignorou.
Ela arrancou algumas folhas em branco e entregou para os presentes ali junto com uma caneta.
— Escrevam o que aconteceu. Não a verdade. Inventem uma história.
— O que você vai fazer? — Perguntou Yago.
— Você poderia so confiar em mim? — Vanessa estava irritada.
As pessoas obedeceram e ela pegou a lata de lixo.
— Amassem o papel e joguem aqui.
Vanessa olhou para Júpiter.
— Aminá está vindo. — Disse Júpiter.
Vanessa ficou aliviada. Ela pegou o balde de lixo cheio de papel com mentiras. Abriu a bolsa a procura do incenso certo.
— Cássio, acende aqui. — Disse Vanessa, o garoto era bom em magia elementar e conseguia controlar bem o fogo. Ele devolveu o incenso aceso para ela. Vanessa desenhou runas sobre o amontoado de papel amassado.  — Agora queima isso.
Vanessa entregou o balde para Cássio e logo os papéis estavam em chamas.
A fumaça enchia o lugar e logo eles estavam tontos. Aminá abriu a porta e inspirou.
— Puta merda. — Ela olhou para Vanessa, para o corpo de Lara, e para fumaça no ar. — Você foi brilhante.
Aminá deu um passo para dentro da sala e atrás dela puderam ver William.
— O que ele faz aqui? — Perguntou Cássio.
— Eu não posso destruir uma memória, mas eu posso colocá-la em outro lugar e William vai me ajudar nisso. — Disse Aminá.
A fumaça a confundia, havia muitas possibilidades do que aconteceu ali. Aminá pediu para que eles fizessem um círculo, e ela se sentou no centro com as pernas cruzadas e de frente para William.
Dana observou William tirar a camisa e mover a tatuagem de flores da costela para o peito.
Otelo abriu a porta.
— Você também? — Perguntou Josué.
— Isso vai machucá-lo. — Disse Otelo. — E Eu não vou deixar que ele sinta dor.
Dana sentiu inveja.
Aminá se perguntou como. Inspirou e aquietou seu coração. Otelo havia se conectado a William em segredo.
— Abram o círculo para ele.
Otelo se abaixou e se sentou atrás de William. Ambos sem camisa de frente para ela. O peito de Otelo nas costas de William. As mãos de Otelo nos ombros dele.
— Podemos começar. — Disse Aminá pois sabia que tinha que ser rápida.
Ela inspirou. Saindo. Crescendo. Ocupando quase toda a sala. Adentrando a mente de cada um deles. Agarrando as memórias recentes e as puxando como se retirasse erva daninha do solo. Aminá depositou um beijo na testa de William e Otelo e voltou para dentro de si tão depressa que o vazio ao seu redor movimentou o vento para que as velas todas se apagassem.
Cássio tava tão nervoso que fez com que elas se acendessem outra vez.
Aminá puxou e jogou tudo através das palmas de suas mãos conectadas com as de William. Ela o viu se debater. Canalizando. Otelo atrás dele o acalmando e o mantendo em sintonia.
Do peito de William as flores começaram a crescer. William abriu a boca como se fosse gritar. Os lábios de Otelo beijaram seu pescoço e pareciam lhe sugar todo o som.
Quando os ramos cresceram o bastante para serem arrancados, Aminá o fez.
William caiu e Otelo o segurou.
Os dedos de William sobre os dedos dele. Otelo guiou a mão dele sobre a ferida. Curando-o. A tatuagem voltou ao normal. William estava apagado.
Aminá precisava mandar as flores para longe mais o único lugar que ela se lembrava fora da academia era onde estivera com Sérgio mais cedo naquela noite. Lembrou-se de Otelo recitando as palavras erradas quando encontrara a chave.
Ele havia ido à praia. Ela segurou a nuca dele. Fora rápida. Inspirou. Expirou. Deixou-se ir e voltar. Fora como um salto, seus tornozelos amarrados em Otelo. E agora as flores estavam no mar.
Aminá as atirou longe junto com uma parte de si. A borboleta saiu voando em direção a lua e ela desmaiou.

Quando os professores chegaram estavam todos adormecidos, alguns acordando desnorteados. Sem noção do que acontecera. E perto deles o corpo morto de Lara. Eles tentaram ler as energias no ar. Nem as paredes sabiam contar o que acontecera. Por que aquelas pessoas estavam juntas? Nada fazia sentido. Apenas uma coisa ficou claro, e era a ideia de que qualquer um poderia ter entrado ali, matado Lara e distorcido as memórias dos garotos.

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