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Júpiter havia colocado a vitrola pra tocar e curtia a própria companhia ao som de Betty Davis. O som lhe fazia sentir de uma maneira única. Quase como se fosse outra pessoa.
Amava pintar o céu como lia nos livros e via nas pinturas. Apesar de não se lembrar como era ver as estrelas ou as nuvens.
O que mais lhe motivara a buscar a chave foi a ideia de que os alunos do próximo nível poderiam visitar museus e a superfície.
Precisavam estar isolados do mundo para compreendê-lo. De maneira que sua observação não fosse influenciada pelos julgamentos à priori. Então ali embaixo eles liam e experienciavam um mundo no qual sequer se lembravam de terem vivido.
Para Júpiter pintar era como se atirar através da tinta e se jogar dentro do quadro a sua frente. Era como estar livre. Sem paredes ao seu redor. Sem um corpo para lhe aprisionar e lhe fazer sentir que estava em uma terra estranha. Seus pensamentos e sensações nunca pareciam caber dentro da própria pele. Em seus sonhos era como um pássaro. Sentiu-se sem ninguém por perto lhe cobrando explicações.
O pincel parecia uma extensão de seu corpo, e fazer arte era como deixar o ar sair dele. Arte era o que inalava e expirava. Os dedos sujos de tinta não lhe incomodavam, pois era naquelas cores que se reconhecia. Júpiter se sentia oscilar. Seu corpo tremia como nuvens carregadas de trovões. Sentiu seu corpo dançar, se duplicar e retornar ao lugar. Júpiter deixou que seus pés descalços a conectassem com a terra. Deixou-se entrar, deixou-se subir. Fragmentando-se em parcelas tão minúsculas que nem mesmo todos aqueles feitiços de proteção eram capazes de lhe parar. Chegou até as raizes. Subiu até a grama. Não sabia onde estava. Apenas se permitiu sentir o sol e isso era o suficiente.

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⏰ Última atualização: Oct 06, 2020 ⏰

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